O artigo é longo mas suficientemente esclarecedor. Todo o brasileiro deveria lê-lo.
O copo selou a primeira parte do longo dia que tinha começado na sexta-feira 18 e terminaria domingo em Leticia, com a celebração do Dia da Independência. Uma celebração que, como sempre, reuniu artistas como Shakira e que também foi assistida pelo presidente peruano Alan Garcia.
A agenda de Lula e Uribe, alguns acordos bilaterais, foi salpicada com o elogio público mútuo. O presidente Uribe agradeceu a seu colega brasileiro e seu governo de seis anos de relações dinâmicas e de confiança. No entanto, em uma reunião privada que realizou com poucas testemunhas, Uribe fez a Lula um breve resumo de uma série de arquivos que as autoridades colombianas encontraram nos computadores de Raul Reyes, que envolvia cidadãos e funcionários de seu governo com as FARC.
Ao contrário do que aconteceu com as informações relativas aos servidores públicos do governo de Rafael Correa e cidadãos equatorianos, que o o Governo colombiano anunciou publicamente, no caso do Brasil as informações do Presidente foram mantidas sob sigilo e tratadas diplomaticamente para evitar danificar as relações comerciais e cooperação com o governo de Lula.
O governo colombiano tem usado seletivamente os arquivos do computador de "Raúl Reyes". Enquanto os referentes ao Equador e à Venezuela foram usados para enfraquecer Chávez e Correa, hostis a Uribe, os do Brasil foram tratados por debaixo da mesa para não comprometer Lula da Silva, que tem sido mais hábil e menos combativo com a Colômbia do que seus colegas.
Ainda assim, alguns meios jornalísticos brasileiros tinham informações parciais sobre alguns arquivos e, portanto, consultado em 27 de julho, o ministro da Defesa, Juan Manuel Santos, confirmou em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo que o Governo colombiano havia informado Lula sobre o assunto. "Há uma série de informação sobre conexões que entregamos ao governo brasileiro que pode agir como considerar mais apropriado", disse Santos, mas se recusou a comentar sobre os políticos ou funcionários do governo que possuem vínculos com o grupo hoje dirigido por 'Alfonso Cano’.
Marco Aurélio Garcia, assessor de política internacional do Brasil, respondeu imediatamente às declarações do ministro, considerando como irrelevantes os dados fornecidos pela Colômbia.
‘Cura Camilo’ *
Ninguém sabe exatamente quanto e quão detalhada foi a informação que o presidente Uribe deu ao presidente Lula, mas que o pode ser chamado de "dossiê brasileiro" teria implicações mais sérias do que aquelas derivadas das informações relacionadas com a Venezuela e Equador .
A revista CAMBIO conheceu 85 mensagens eletrônicas que circularam entre fevereiro de 1999 e fevereiro de 2008, entre “Tirofijo”, "Raul Reyes", "Mono Jojoy", ‘Oliverio Medina’, representante das FARC no Brasil, e dois homens identificados como "Hermes" e "José Luis".
A julgar pelo conteúdo das mensagens, a presença das FARC no Brasil atingiu até o mais alto escalão do governo de Lula, o PT, Partido dos Trabalhadores, - o partido do presidente, as lideranças político-partidárias e a administração da justiça. Neles são mencionados cinco ministros, um procurador-geral, um assessor especial do presidente, um vice-ministro, cinco deputados, um vereador e um juiz de alçada superior.
O personagem central das mensagens é ‘Oliverio Medina', também conhecido como “Cura Camilo ", um padre que se juntou às FARC em 1983 e que em sua rápida ascensão se tornou secretário de ‘Tirofijo’. Ele veio ao Brasil como delegado especial das Farc em 1997 e esteve na Colômbia durante o processo de Caguán, no qual foi chefe do grupo de imprensa.
Após o colapso das conversações em fevereiro de 2002, ele retornou ao Brasil, onde continuou sua missão, e sua influência atingiu níveis elevados na administração de Lula, que tomou posse em janeiro de 2003. Mas, graças à pressão das autoridades colombianas, foi capturado em agosto de 2005. A Colômbia pediu a extradição, mas o Supremo Tribunal de Justiça do Brasil, não só negou, em 22 de março de 2007, mas concedeu à ‘Medina’o status de refugiado político.
Até alcançar o topo
A prisão não foi um obstáculo para 'Cura Camilo "suspender o seu trabalho de proselitismo e propaganda. Prova disso são os inúmeros e-mails enviados a "Reyes" a mostrar como ele conseguiu chegar ao topo do governo brasileiro.
Quatro das mensagens conhecidas por CAMBIO se referem ao presidente Lula. Em uma delas, datada de 17 de julho de 2004, Raul Reyes ‘Tirofijo’ diz que o governo de ‘Lula’ ajudaria no acordo humanitário."Os padres enviaram-me uma carta pedindo uma entrevista com eles" -, escreve "Reyes". Dizem que falaram com Lula e que este assumiu o compromisso de ajudar no acordo humanitário, intercedendo com Uribe para fazer a reunião em seu país. "
Na segunda, datada de 25 de setembro de 2006, ‘Oliverio Medina’ conta a 'Reyes':" Não te havia dito que alguns dias atrás ‘Lula’ chamou ao ministro Ministro (ministro da Secretaria Nacional DD.HH .), dizendo-lhe que telefonara ao advogado Ulises Riedel, felicitando-lhe pelo sucesso em sua brilhante defesa legal para o meu refúgio ".
No terceiro, datado de 23 de dezembro de 2006, 'Medina' informa 'Reyes' que a “Lula e dois de seus assessores que nos ajudaram muito enviei um cartão de Natal.” Os funcionários são Silvino Heck, assessor especial do presidente e Gilberto Carvalho, Chefe de Gabinete, que são mencionados na carta de 23 de fevereiro de 2007, igualmente destinada a "Reyes: "É possível que me visite um assessor especial de Lula chamado Silvino Heck, que junto com Gilberto Carvalho tem sido um que nos ajudou muito."
Entre os 85 e-mails conhecidos por CAMBIO, há um sem data, também enviado por 'Medina' para 'Reyes’', que diz: "Estive conversando com a Deputada Federal Maria José Maninha. Concordamos que vai abrir-me caminho em direção ao presidente via Marco Aurélio Garcia.” Garcia é secretário de Assuntos Internacionais.
Não menos constrangedores são aqueles onde alguns ministros são mencionados. Uma mensagem dirigida a "Reyes", em 04 de junho de 2005, por um certo "José Luis", contém o nome do ministro da Presidência José Dirceu. "Chegou um jovem de 30 anos e se apresentou como Breno Altman (diretor da TP), dizendo-me que ele vinha de parte do ministro da Presidência José Dirceu, e que, por razões de segurança, eles tinham concordado que as relações não passariam pela Secretaria de Relações Internacionais, mas sim seria feita diretamente através do ministro com a interveniência de Breno. "
No final da mensagem, "José Luis", disse que o governo brasileiro e o PT darão proteção à "Medina", enquanto avança o processo de extradição". Inquiri se podíamos ter certeza de que eles não iriam nos seqüestrar ou nos deportado para a Colômbia, e ele disse: “'Fique descansado. "
Numa carta de 24 de junho de 2004, "Reyes’ diz a ‘Medina’ sobre a possível saída de Dirceu do gabinete: " Se for verdade, esta medida em prol dos detratores de Lula pode afetar a incipiente abertura das relações conosco ".
As Farc também tentaram chegar ao gabinete do ministro das Relações Exteriores Celso Amorim. Numa carta de 22 de fevereiro de 2004, 'José Luis', escreve a "Reyes": "Através do lendário líder do PT Plínio Arruda Sampaio, chegaremos Celso Amorim, Ministro dos Negócios Estrangeiros`. Plínio mandou nos dizer por Albertão (vereador de Guarulhos) que o ministro está disposto a receber-nos. Que logo tenha um espaço em sua agenda nos receberá em Brasília. "
Procurador e juiz
O embaixador das Farc fez o seu trabalho tão bem que também conseguiu alcançar o procurador Luis Francisco de Souza, que é mencionado num e-mail de 22 de Agosto 2004 enviado por "Medina" e "José Luis" para "Reyes" e "Rodrigo Granda": "Deu o seguinte conselho: andem com uma máquina de fotografar e, se possível com um gravador; em caso de serem parados por um agente de informação, tirem fotografias dele e o gravem, mas sempre com cuidado para não permitir que ele pegue a câmera e gravador. Em relação ao evento, apresentar uma queixa dirigida a ele como Procurador-Geral que a fará chegar ao chefe da Polícia Federal e à Agência Brasileira de Informação.
Algumas cartas foram escritas durante o processo de Caguán e envolvem a um prestigioso juiz e a um alto ex-oficial das Forças Armadas Brasileiras. Por exemplo, data de 19 abril de 2001, ‘Mauricio Malverde’ informa a 'Reyes':" O juiz Rui Portanova, amigo nosso, afirmou que quer ir para os campos para ser instruído e conhecer a vida das FARC . Pagará a sua viagem.". Portanova era então juiz superior do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre.
Três dias antes, em 16 de abril, 'Medina' narra a ‘Reyes’ uma reunião de Raimondo, Pedro Enrique e Celso Brand – provavelmente ligações das FARX no Brasil - com o Brigadeiro do Ar, Ivan Frota, ex-chefe Força Aérea Brasileira. "O homem se interessou e disse que gostaria de ter um encontro pessoal conosco. Ele diz que eles estão começando a amadurecer um plano de tomar a base de Alcântara com forças nacionalistas para impedir que os Estados Unidos fique com 600 quilômetros quadrados de território sob seu domínio. .
A pequena amostra dos 85 e-mails conhecidos pela CAMBIO revelam a importância do Brasil na agenda externa das Farc, manejada por Raul Reyes e não cabe dúvidas de que o “Cura Camilo", para fortalecer a estratégia continental da guerrilha aproveitou a oportunidade criada pela chegada ao poder de Lula e seu influente Partido dos Trabalhadores para atingir os mais altos níveis do governo.
E se é verdade que os e-mails são apenas indícios de um possível compromisso do governo Lula com as FARC, já que nenhum dos funcionários enviou mensagens pessoais a qualquer membro do grupo guerrilheiro, suscita muitas dúvidas que exigem uma resposta Governo brasileiro.
Contatos da FARC
A expansão das Farc na América Latina não incluiu apenas funcionários dos governos de Venezuela e Equador, mas também o compromisso de líderes, políticos e de altos membros do Partido dos Trabalhadores, ao qual pertence o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Além disso, o grupo guerrilheiro manteve contactos com advogados e juízes do Brasil.
- José Dirceu, ministro da Presidência. - Roberto Amaral, ex-ministro da ciência.
- Erika Kokay, MP. - Gilberto Carvalho, Chefe de Gabinete. - Celso Amorim, ministro das Relações Exteriores. - Marco A. Garcia, assessor de assuntos internacionais. - Perly Cipriano, subsecretário de Promoção HH.RR. - Paulo Vanucci, Secretaria Ministro HH.RR. - Silvino Heck, assessor presidencial.
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* - Olivério Medina - "Cura Camilo", acusado de diversos assassinatos e sequestroos na Colôbia recebeu asilo político no Brasil. Sua mulher foi empregada no Palácio do Planalto a pedido de Dilma quando Chefe da Casa Civil, onde se encontra até hoje recebendo polpudo salário.
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