terça-feira, 20 de julho de 2010

SINTO VERGONHA DE MIM!

Por Hiram Reis e Silva, Porto Alegre, RS

“Não espere tanto para dizer ‘errei' e começar tudo novamente, mesmo que você ache que irá perder a sua vida toda nesse recomeço". (Cleide Canton)

No meu último artigo, homônimo deste, fiz uma crítica contundente aos maus políticos de nossa amada nação e utilizei o poema “Sinto vergonha de mim!” de Cleide Canton em que ela ao final faz uma citação de Rui Barbosa. Na oportunidade considerei como se o texto, na sua íntegra, fosse de nosso amado Águia de Haia. Peço desculpas à inspirada poetisa e faço aqui minha retratação reproduzindo parte de seu perfil e um de seus apaixonados textos.

Quem Sou

Fonte: Cleide Canton

“(...) Sempre fiz versos, mas nunca me senti incentivada a escrever. Por isso, durante muitos anos, versei para mim mesma. Algumas obras guardei, outras joguei fora. Há pouco tempo, brincando na Internet, deparei-me com um maravilhoso mundo de poesias e arrisquei apresentar algumas. Que linda surpresa vê-las publicadas no site do meu amigo Airton (Homem Sonhador), a quem muito devo. Logo após, conheci outro site (da minha amiga Ana Amélia - Romantichome) que fez um lindo trabalho com os meus escritos e me incentivou ter a minha própria página. Aceitei e ela foi quem cuidou, até março de 2005, da elaboração da minha HP. Desde então estou cuidando deste espaço, claro que sempre com ajuda dela.

Quanto a minha vida, tive uma infância feliz e uma adolescência sem problemas. Amei muito e fui muito amada. Tenho uma legião de amigos a quem admiro e, se tenho inimigos, assim não os considero. Sou rotariana e me dedico com muito amor às causas rotárias. Vivi intensamente todos os anos de minha vida. Sorri e chorei como todos. Muito mais ganhos que perdas. Hoje me considero uma mulher realizada, feliz e de bem com a vida.

As coisas que mais amo são: meus filhos, meu lar, meus parentes, meus amigos e meus versos. Dedico-me, também, além dos versos, à pintura, a todo tipo de trabalho manual. Adoro cantar, principalmente serestas. Arranho um pouco o meu piano e o teclado do meu filho.

Não abro mão dos valores que recebi de meus pais: franqueza, humildade, perseverança, caridade e, sobretudo, honra e dignidade.

Acredito na vida e em tudo que ela pode me oferecer. Acredito no amor, no carinho sincero e despretensioso e na amizade leal. Nos meus versos, nada mais coloco do que as sensações que vivenciei. Sou assim e acho que não vou mudar!”

Povo Brasileiro

(bondoso, acolhedor, compreensivo, pacífico e acomodado)

Fonte: Cleide Canton

“Não me calarão jamais. Ainda sou cidadã brasileira, cônscia de minhas obrigações e de meus direitos. Ainda tenho a liberdade de dizer o que penso, mesmo que isso contrarie a muitos. Estou farta dessa mistificação com que encobrem descaradamente a realidade brasileira. Estou farta desses discursos demagógicos, dessas pesquisas que não condizem com a verdade que vivenciamos no dia a dia, farta de estatísticas que colocam falsamente a minha Pátria num patamar fictício como se, realmente, ela estivesse crescendo.

Sinceramente, a cada vez que me deparo com a realidade, mais me convenço que não temos vontade, que não temos vergonha, que não temos objetivos claros, que somos um povo desprovido de capacidade de agir, com uma visão deturpada pelo egoísmo, voltado cada qual exclusivamente para os seus problemas, engajados numa luta para ter mais, usando de todos os vícios para justificar ações fraudulentas, culpando uns aos outros sem assumir sua culpa pelo que acontece ao seu redor.

Ora, meus queridos compatriotas (também estou farta do termo ‘companheiro’ porque tenho a sensação de que esse vocábulo, independente de seu real significado, serve mais para designar cada qual que pertença a uma corja cujos ideais afrontam de maneira vil a sociedade como um todo), não acredito que essa passividade egoísta, que parece dominar a todos, esteja sendo aplaudida pelo que resta de bom senso que eu ‘ainda’ acredito haver dentro de nós mesmo.

Reclamamos, mas fazemos nada. Culpamos, mas não assumimos nossa culpa. Julgamos o outro, mas não permitimos que nos julguem, exigimos respeito, mas sequer respeitamos regras imprescindíveis para o bom convívio, reclamamos da corrupção, mas não enxergamos que nós somos responsáveis pela sua existência, somos fracos e covardes quando, na gana de encobrirmos nossas falhas, alegamos que o mundo inteiro esta assim. Perdemos, meus compatriotas, a nossa vergonha, o nosso brio. Perdemos o elo com o cantado ‘varonil’ daqueles que ainda vislumbravam a brasilidade.

Estou farta de ligar os aparelhos de comunicação para saber o que está acontecendo no mundo. E o que vejo? Desgraças contadas nos seus detalhes mais sórdidos, crimes torpes sendo alardeados e verdadeiras aulas de como executá-los (outra Universidade do Crime), repórteres policiais comprando audiência com o escabroso, vangloriando-se do alto índice de audiência porque o ‘maravilhoso povo brasileiro’ gosta dessa sordidez’, e ainda sendo enaltecidos pelo seu compromisso em divulgar a ‘verdade’. Não percebem que, a cada relato ou milhões de repetições do relato, mais o povo vai aceitando aquela barbárie como natural. Chora, esperneia, desmaia na primeira vez que assiste, mas, na décima, vai até achar natural. Acostuma-se, incorpora ao seu contexto de vida. Visão caótica que contribui para a aceitação tácita dos fatos como se nada pudesse ter sido feito para evitar essa catástrofe. É claríssimo que poderia ter sido evitada, com um mínimo de inteligência e lógica, se houvesse apenas uma centelha de amor à Pátria. E por falar nisso, até hoje não ‘entendi’ porque as matérias de moral e civismo, estudo de problemas brasileiros e similares foram retirados do currículo escolar. Não entendi como é que uma sociedade aceitou sem reservas, esse fato. Será mesmo que consideraram fundamentos de somenos relevância?

Também não ‘entendi’ porque as nossas forças de defesa da Pátria foram tão relegadas a segundo plano. Por que nossos jovens não tem mais um espaço, aos dezoito anos para ‘servir à Pátria’ numa demonstração de amor, de civilidade? Lembro-me, com saudade, do tempo em que os ‘meninos’ iam para o ‘Tiro de Guerra’ e, após um ano, ‘estavam’ homens. Perdão acho que isso não seria tão importante nos dias de hoje. Demonstrar ou treinar qual civilidade? Nossos jovens nem mais sabem o que é isso! Ainda sem falar que, quando não assistimos as notícias da violência, estamos sujeitos a programas explorando o sexo sem necessidade alguma (mas se não houver sexo não dá IBOPE), filmes idem, ou então, desenhos deseducativos. Ah! Bendita TV! Quanto poderia fazer em benefício do povo! Mas alegam que produzem apenas o que o povo gosta de ver. Então, devo ser burra mesmo! Sempre pensei que esse gosto fosse imposto, que o povo tivesse sido levado a engolir. Mas é justamente o contrário?

Vejamos a Amazônia, a maior maravilha da natureza, a fonte da continuidade da vida. Estamos aí, gritando que ela é nossa. Já faz muito tempo que não é. O que temos de fazer agora é lutar para recuperá-la. Fico aqui, pensando com meus botões, tentando ‘perceber’ (desculpem-me, sou ‘lenta demais’ para entender as coisas) o ‘porquê de chegarmos a estes extremos. Já ouviram falar nas ‘forças ocultas’? Houve um tempo em que pensei que elas fossem mais uma expressão fantasmagórica, usada para justificar falhas que não souberam evitar ou consertar. Hoje, ‘desconfio’ que não são fantasmas e até tem nome próprio. Pior! Estão aí, sem mais a preocupação do oculto. Afinal, o brasileiro é um povo tão tolerante!... Aceita tudo, é tão ‘pacífico’! Hoje até usa como chavão o ‘rouba, mas faz’, ‘estupra mais não mata’, ‘relaxa e goza’. Lá fora até fomos exaltados como um povo que aceita a corrupção. Mas o que importa isso, não é? Estamos crescendo tanto! Que mal poderia haver nessa ‘aceitação’? Os nossos pobres estão comendo mais, tem escolas para os filhos, bolsas para tudo. Gente! Vejam que maravilha! O Brasil está sendo cotado lá fora como o país que mais trabalha para diminuir as diferenças sociais. E aí, novamente me pergunto:como é que se opera este milagre? Vou além...O pobre, com uns míseros reais a mais no bolso, vai sobreviver a uma doença? Se precisar de uma cirurgia para sobreviver, é operado de pronto? Se precisar do remédio indispensável, encontra-o sempre? Não vai mais morrer com uma bala perdida ou arrastado por veículos conduzidos pelos ‘do mal’ ou pelos ‘de menor’ inimputáveis? Vai poder circular pelas ruas sem a preocupação de ser assaltado? O bolsa-escola, afinal, é usado para que os pobres tenham acesso ao conhecimento, à formação esmerada, à cultura, ou é apenas mais uma camuflagem para diminuir essa vergonha que é o índice de analfabetismo? O que adianta essa bolsa, se o que é oferecido por ela é um ensino medíocre? E não venham dizer que isso é invenção.

Faça um teste com seus filhos, sobrinhos, vizinhos... Melhor ainda, com os menos favorecidos... Se eles tiverem a sorte de não serem corrompidos pelos grupos a que pertencem, se forem levados a ter ‘Interesse’ para conhecer sempre o máximo, se tiverem exemplos de que o saber é primordial para o crescimento pessoal, que um diploma não vale apenas pelo papel timbrado e o canudo, mas pelo aprendizado que ele proporciona, quem sabe suas cabeças comecem a funcionar para o que é lógico, comecem, por si mesmo, a exigir o que lhes é de direito: aprendizado de qualidade. Já que nós não percebemos essa verdade, pelo menos devemos aos nossos jovens a oportunidade de poder perceber.

Agora nós temos a realidade e não podemos fugir dela. Do jeito como andam as coisas, nossos profissionais serão cada vez piores. Depois, como reclamar do médico que errou no diagnóstico, do advogado que nos permitiu ser injustiçados, do técnico que não consegue encontrar solução para o problema que se lhe apresenta, do caixa que erra na sua conta, do serviço que necessita e que não encontra, do político que discursa sem conhecer o mínimo de sua língua, de um governo que engana, de uma igreja que só pensa em lucros (vendem até o seu lugar no céu)?...

Enfim, como exigir que um povo enxergue a verdade, que dirija seu destino, que lute pelos seus ideais, pelos seus direitos, que possa analisar com sabedoria os fatos sem se deixar levar pelas falsas verdades que lhe são impostas? Aqui, deixo para você pensar: qual o agente causador de tamanha parafernália?

Para mim, se não começarmos a atacar o mal pela raiz, de nada servirão essas ações todas. Como digo há mais de trinta anos, nada se consegue se ficarmos apenas na preocupação com as consequências, sem nada mudarmos na sua causa. E a causa é única: falta-nos EDUCAÇÃO.

Enquanto todas as forças não se moverem no sentido de reformulação do ensino através de pessoas verdadeiramente qualificadas, conhecedoras dos problemas brasileiros, sem compromissos senão com os objetivos a serem atingidos, continuaremos assim... Na camuflagem”.

http://www.paginapoeticadecleidecanton.com/povobrasileiro.htm)

Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva

Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA); Acadêmico da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB); Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS); Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional.

Site: http://www.amazoniaenossaselva.com.br

E-mail: hiramrs@terra.com.br

EM meu blog de Sábado, Agosto 02, 2008 - publiquei:

Sinto Vergonha de Mim - Cleide Canton

interpretado por ROLANDO BOLDRIN

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