segunda-feira, 26 de julho de 2010

O ‘HERÓI’ DO ‘PRESIDENTE’

Por Hiram Reis e Silva, Porto Alegre, RS

“Nós ficamos às vezes martelando muito mais no castigo a quem matou do que em enaltecer a imagem das pessoas que morreram acreditando numa coisa. Vamos pegar por exemplo o Gregório Bezerra que foi arrastado pelas ruas de Recife. Ao invés de nós ficarmos querendo saber quem arrastou Gregório Bezerra, nós precisamos valorizar o significado do sacrifício a que ele foi submetido. Poderíamos pegar Marighella que é aqui desta terra. Ao invés da gente ficar querendo condenar eternamente o Fleury, vamos valorizar as razões pelas quais Marighella fez o que fez. E assim a gente iria construindo mais heróis neste País. Iríamos construindo mais gente que pudesse servir de exemplo. E eu acho que isso é um equívoco histórico que foi incutido na nossa cabeça pela doutrina da elite dominante e que nós aceitamos”. (‘Lulla’)

Lulla’ recebeu esta semana, em Salvador, a Grã-Cruz da Ordem Dois de Julho - Libertadores da Bahia e, na oportunidade, homenageou alguns ‘heróis brasileiros’, citando o nome do facínora Carlos Marighella, como se este crápula pudesse ser considerado um deles. ‘Lulla’ afirmou que alguns ‘heróis nacionais’ foram relegados ao ostracismo, considerados bandidos e que é preciso resgatar suas ‘histórias de lutas’. Criticou, ainda, o tratamento que se dá a esses personagens, considerados como vítimas, quando deveriam ser tratados como heróis e complementou dizendo que isso se tratava de um equívoco histórico.

O equívoco não é da história mas, da ‘companheirada’ que, como ‘elle’, acha que assassinar brasileiros indefesos, ainda dormindo, pode ser considerado um ato heróico. No mundo real ‘Lulla’, esses bandidos seriam condenados por homicídio triplamente qualificado pela covardia, crueldade e torpeza de motivos.

Carlos Marighela - Ideólogo do Terror

Carlos Alberto Brilhante USTRA

“Carlos Marighella nasceu em Salvador, Bahia, em 05/12/1911. Sua trajetória revolucionária remonta à década de 30. Em 1932 ingressou na Juventude Comunista e na Federação Vermelha dos Estudantes. Participou ativamente da Intentona Comunista. Em 1936 abandonou o curso de engenharia e, cumprindo ordens do partido, foi para São Paulo reorganizar o Partido Comunista Brasileiro - PCB. Em 1939, foi preso pela terceira vez e encaminhado para Fernando de Noronha. Em 1945, a anistia, assinada por Vargas, devolveu a liberdade aos presos políticos. Marighella, nesse ano, foi eleito deputado federal. No governo Dutra o Partido Comunista voltou à ilegalidade e passou a agir clandestinamente. Em 7 de janeiro de 1948, os mandatos dos parlamentares do PCB foram cassados.

Na clandestinidade, de 1949 até 1954, Marighela atuou na área sindical, aumentando a influência do partido, sendo incluído na Comissão Executiva e no Secretariado Nacional, órgãos dirigentes do PCB. No Manifesto de Agosto de 1950, Marighella já pregava a luta armada, conduzida por um Exército de Libertação Nacional. Como membro da Executiva chefiou a primeira delegação de comunistas brasileiros à China, em 1952. Ao voltar, passou a trabalhar as massas para preparar a futura revolução brasileira. No país. Insistiu na tese da luta armada e na formação de um exército de libertação nacional, tendo como modelo as idéias de Mao Tsé-tung e o Exército Popular Chinês, que promoveu a revolução de 1949. O passo seguinte seria a penetração no meio estudantil. Para isso, Marighella infiltrou-se, por meio de contatos, na Faculdade de Direito do Rio de Janeiro, onde doutrinava professores e alunos. As sementes estavam sendo semeadas, era só aguardar a colheita.

A influência da revolução cubana, que passou a servir de modelo para muitos comunistas, contrariava as posições do Movimento Comunista Internacional e do próprio PCB, mas encantava revolucionários antigos, como Marighella e outros que, atuando desde a década de 30, não viam como conquistar o poder com uma luta de longo prazo. A tática de Fidel e Che Guevara, defensores da ‘estratégia foquista’ – pequenos focos guerrilheiros - passou a ser o modelo ideal para o Brasil.

Estratégia foquista

pequenos focos de guerrilheiros atuando em várias partes

Após a Contra-Revolução de 1964, Marighella foi preso em um cinema, no Rio de Janeiro. Solto por um habeas-corpus, impetrado por Sobral Pinto, passou a pregar abertamente a adoção da luta armada, doutrinando operários e estudantes. Em julho de 1967, foi convidado, oficialmente, para participar da 1ª Conferência da Organização Latino-Americana de Solidariedade (OLAS), onde se discutiria um caminho para a difusão da luta armada no continente.

Desautorizado pelo partido e contrariando as linhas de ação adotadas pelo PCB, Marighella embarcou para Havana com passaporte falso. O evento reuniu revolucionários do mundo inteiro. Na ocasião, o slogan era ‘Um, dois, três, mil Vietnames’, outro exemplo de guerrilha que dera certo. Estando Marighella em Havana, o PCB enviou um telegrama desautorizando sua participação e ameaçando-o de expulsão.

Em resposta ao telegrama, em 17 de agosto de1967, Marighella enviou uma carta ao Comitê Central do PCB, rompendo definitivamente com o partido. Em seguida, em outra carta, deu total apoio e solidariedade às resoluções adotadas pela OLAS. Nesse documento ele escrevia:

‘No Brasil há forças revolucionárias convencidas de que o dever de todo o revolucionário é fazer a revolução. São estas forças que se preparam em meu país e que jamais me condenariam como faz o Comitê Central só porque empreendi uma viagem a Cuba e me solidarizei com a OLAS e com a revolução cubana. A experiência da revolução cubana ensinou, comprovando o acerto da teoria marxista-leninista, que a única maneira de resolver os problemas do povo é a conquista do poder pela violência das massas, a destruição do aparelho burocrático e militar do Estado a serviço das classes dominantes e do imperialismo e a sua substituição pelo povo armado.’

Terminada a conferência, Marighella ficou alguns meses em Cuba com a certeza do apoio de Fidel a um foco guerrilheiro no Brasil. Em fins de novembro foi expulso do PCB. De volta ao Brasil, incentivou a prática de assaltos, seqüestros e atentados a bomba. Numa audaciosa ação, seus asseclas ocuparam a Rádio Nacional no Rio de Janeiro, onde colocaram uma gravação no ar, conclamando os revolucionários do Brasil, onde quer que estivessem, a iniciar as ações revolucionárias. Logo depois, a partir de setembro de 1967, Marighela iniciou o envio de militantes para curso de guerrilha em Cuba. (...)

Marighella criou, juntamente com Joaquim Câmara Ferreira, o Agrupamento Comunista de São Paulo (AC/SP). O AC/SP ou ‘Ala Marighella’ expandia-se e atuava em vários estados. As idéias de Marighella encontram no meio estudantil campo fértil. Em pouco tempo, a Ala ganhou adeptos e várias lideranças surgiram durante as agitações do movimento estudantil. Logo depois, estabeleceu contato com Mário Roberto Zanconato, líder do Grupo Corrente em Minas Gerais. Em Brasília, Flávio Tavares, que já conhecia Marighela, apresentou um membro da Corrente, ‘Juca’, a George Michel Sobrinho, que passaria a ser o contato do AC/SP com os grupos de Brasília. A partir daí, o movimento estudantil de Brasília passou a agir pelas normas de Marighella. Esse grupo, ainda em 1968, realizou treinamento de guerrilha (tiros de revólveres e metralhadora INA e experiências com explosivos) nas proximidades do Rio São Bartolomeu. O AC/SP atuava também no Ceará e em Ribeirão Preto.

Outras adesões viriam. No convento dos dominicanos, na Rua Caiubi, nº 126, no bairro de Perdizes, São Paulo, vários religiosos aderiram ao AC/SP. A adesão dos dominicanos ao AC/SP e depois à ALN foi total. Eles seriam um apoio importante para a ALN na guerrilha urbana e rural. Luís Mir, em seu livro A Revolução Impossível, Editora Best Seller, página 299, transcreve as seguintes palavras de Frei Lesbaupin que confirmam a intenção desse apoio:

‘A Igreja e os dominicanos deveriam entrar no projeto revolucionário de forma organizada. Seríamos a linha de apoio logístico para a guerrilha rural. Na cidade, esconderíamos pessoas, faríamos transferências de armas e dinheiro’.

Em meados de 1968, receberam a primeira missão dada por Marighela: levantamento na Belém-Brasília, procurando áreas estratégicas para instalar focos de guerrilha.

Marighella pregava:

‘O princípio básico estratégico da organização é o de desencadear, tanto nas cidades como no campo, um volume tal de ações, que o governo se veja obrigado a transformar a situação política do País em uma situação militar, destruindo a máquina burocrático- militar do Estado e substituindo-a pelo povo armado. A guerrilha urbana exercerá um papel tático em face da guerrilha rural, servindo de instrumento de inquietação, distração e retenção das forças armadas, para diminuir a concentração nas operações repressivas contra a guerrilha rural’.

‘O terrorismo é uma arma a que jamais o revolucionário pode renunciar’.

‘Ser assaltante ou terrorista é uma condição que enobrece qualquer homem honrado’.

Apoiado pela chegada do ‘I Exército da ALN’, treinado em Cuba, Marighella liderou vários assaltos e atentados na área de São Paulo, ainda em 1968. Intensificaram-se a seguir os atos de terror: atentados a bomba, assaltos a banco, seqüestros, assassinatos, ‘justiçamentos’, ataques a sentinelas e radio-patrulhas, furtos e roubos de armas dos quartéis.

Morte de Marighella

Marighella começou a cair com a prisão de um militante de sua organização, preso no dia 1º de outubro. Os dados fornecidos por ele coincidiam com informações prestadas por outro militante da VPR , que, em março, denunciara a participação de Frei Carlos Alberto Libânio Christo ( Frei Beto), da Ordem Dominicana, como integrante da organização terrorista.

Marighella foi morto na noite do dia 4 de novembro de 1969, dentro de um carro, na Alameda Casa Branca, zona nobre de São Paulo.

O convento dos dominicanos protegia também membros de outras organizações clandestinas como a VPR, o MR-8 e a ALN. Marighella os usava como contatos. Os dominicanos marcavam encontros em lugares preestabelecidos, em ‘pontos’ (contatos) na Alameda Casa Branca. Faziam parte do esquema o frei Fernando de Brito e o frei Ives do Amaral Lesbaupin.

Suspeitas sobre o convento puseram-no em observação. O telefone do mesmo passou a ser monitorado. Frei Fernando e frei Ivo foram ao Rio e combinaram, por telefone, um encontro. Ao comparecerem ao ‘ponto’ foram presos. Interrogados, entregaram o esquema dos ‘pontos’ marcados por Marighella. Os contatos eram feitos por meio de ligações telefônicas para frei Fernando, na livraria Duas Cidades em que ele trabalhava, usando a senha: ‘Aqui é da parte de Ernesto. Esteja hoje na gráfica’.

Frei Fernando foi levado pela polícia à livraria para aguardar o telefonema. Na hora marcada, o telefone tocou e frei Fernando atendeu, ouviu a senha e confirmou o ‘ponto’ que seria às 20 horas, na altura do nº 800 da Alameda Casa Branca. O dispositivo para prender Marighella foi armado. Homens escondidos nos edifícios em construção e numa caminhonete observavam tudo. Do outro lado da rua, o delegado Fleury fingia namorar. Mais adiante, outro casal também ‘namorava’. No lugar certo, o Fusca de sempre, com os dois frades dentro.

Pouco antes da hora, um homem passou devagar, examinando o local. A polícia o identificou como sendo Edmur Péricles Camargo, mas o deixou passar. Na realidade, não era Edmur e sim Luís José da Cunha (Crioulo), que dava cobertura a Marighela. A polícia preferiu esperar o peixe maior. Marighella chegou pontualmente às 20h00, dirigiu-se ao Fusca e entrou na parte traseira. Frei Ives e Fernando saíram rapidamente do carro e se jogaram no chão. Percebendo a emboscada, imediatamente reagiu à prisão e foi morto.

Marighella seguiu as normas de seu manual. Portava um revólver e levava duas cápsulas de cianureto. Na ocasião, em meio a intenso tiroteio, morreram também a investigadora Stela Morato e o protético Friederich Adolf Rohmann, que passava pelo local do tiroteio. O delegado Tucunduva foi ferido gravemente. Marighella foi morto na noite do dia 4 de novembro de 1969, dentro de um carro, na Alameda Casa Branca, zona nobre de São Paulo. Ele usava identidade falsa em nome de Mário Reis Barros, expedida pelo Instituto Pereira Faustino, do Estado do Rio de Janeiro.

Acabava assim Marighella, mas seus seguidores continuaram a agir segundo seu Minimanual, que aterrorizou o Brasil e o mundo”.

Fontes:- Projeto Orvil.

Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva

Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA); Acadêmico da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB); Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS); Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional.

Site: http://www.amazoniaenossaselva.com.br

E-mail: hiramrs@terra.com.br

Nenhum comentário: