quinta-feira, 29 de julho de 2010

O PREÇO DA COMUNICAÇÃO

Por Pe. Zezinho

O mundo tem 40 mil empresas transnacionais, mas 0,3% delas são tão poderosas que detém a terça parte do estoque de capital do mundo. Das 100 maiores, 32 são americanas e 19 japonesas. A receita anual das 220 maiores corporações do planeta somam US $ 7,1 trilhões, isto é, mais do que 80% do dinheiro do mundo. As matrizes delas situam-se no grupo G-8. O campo da comunicação e dos direitos de utilizar (copy rights) é um dos que mais riqueza aportam a estes países. Vinte conglomerados faturam entre US$ 5 a 35 bilhões só com a indústria da mídia global. Dois terços das informações e do conteúdo cultural disponíveis no planeta são veiculados por estas vinte empresas que possuem estúdios, produtoras, gravadoras, distribuidoras, parques de diversões, TVs abertas e pagas, emissoras de rádio, revistas, jornais, serviços on line, portais e provedores de Internet, vídeos , videogames, jogos, softwares, CD-ROMs, DVDs,equipes esportivas, megastores, agências de publicidade e marketing, telefonia celular, telecomunicações, transmissão de dados, agências e noticias e casas de espetáculos. Só a VIACOM controla 40% da TV norteamericana e 150 estações de rádio. A MTV um de seus canais a cabo alcança 400 milhões de lares em 164 paises. A Simon & Schuster é a holding de 10 editoras que publicam por ano 2.100 títulos.
Estes dados se encontram no excelente livro “Por uma outra comunicação” organizado por Denis de Morais . Ler estes autores competentes e bem informados pode mudar nossa opinião a respeito de democracia. Alguém com enorme poder econômico está fazendo a cabeça da humanidade e não são as igrejas nem as escolas. É a indústria da comunicação que se vale da publicidade para quase tudo e por isso quer o lucro 400% acima do custo de seus produtos porque, divulgar uma canção ou uma marca custa caro. Nós pagamos também a divulgação do tênis ou da bebida que compramos.
Donos do dinheiro que não foram eleitos por nós, conseguem direitos de vender e negociar, num país onde os cidadãos que elegemos não têm outra escolha senão permitir que venham, porque caso contrário o país não terá a telefonia, a informação, os espetáculos, o conhecimento, ou aqueles bens que o que o resto do mundo possui. Saber alguma coisa hoje custa caro. E quem fornece conhecimento, diversão e comunicação aufere um lucro fantástico. O discurso da vida que por muito tempo esteve nas mãos dos religiosos e educadores está nas mãos desses homens. O que você quer saber passa por eles e custa muito dinheiro. É por isso que um livro que poderia custar 8 reais acaba custando 80 e um CD que pode ser vendido a 3 reais custa mais de 20. Aquele conteúdo tem preço!


O QUINTO ATO

Não foi decisão sua. Você não resolveu nascer, nem pediu para ser dado à luz. Por razões óbvias, alguém decidiu no seu lugar. E isso faz toda a diferença entre a individualidade e o individualismo. Quiseram você único, interagindo com os outros e vivo. Sua vontade não seria soberana em tudo. Na pior das hipóteses, aceitaram sua vinda. A vida é uma peça na qual você não é o personagem principal, mas sem a sua atuação o enredo perde a graça.
Glória e aleluia! Você não foi interrompido Deixaram você entrar em cena! Se foi amado, desejado e cuidado, mais glórias e aleluias! Você está vivo e atuando. E talvez faça a diferença. Afinal, você é inclonável e irrepetível. Não é “o” único, mas não deixa de ser único. Não houve, nem jamais haverá neste planeta, outro ser humano com as suas características. Você veio para conviver. Vive de contracenar e imagino que já saiba que contracenar não é encenar contra: é interagir. Para o resto da sua vida, você está fadado a ser você mesmo, no meio de outros que também são eles mesmos. Não há tragédia pior do que um ator perder de vista o self e o ego ao exercer o seu papel.
Pregadores e professores já lhe disseram isso. Dizer, muita gente o diz, mas a questão é se você entendeu qual é o seu papel neste mundo. Nasci, e daí? Sou quem? Sou o quê? Quem me quis aqui? Seguirei o meu projeto pessoal do qual jamais arredaria pé, ou o de quem escreveu o roteiro? Se creio que Ele existe, então já sei qual a minha resposta. Ele não escreveu palavra por palavra. Sou livre para dizer algumas coisas do meu jeito, mas deixou claro que não sou a razão principal da peça.
Eu e você somos coadjuvantes. Viemos depois da abertura das cortinas. Um óvulo acolheu um espermatozóide (1 dentre 300.000.000) e, milagre dos milagres: lá estava mais um ser humano numa estufa chamada útero e na fila para entrar em cena. Quando aparecemos, boa parte da peça já estava em progresso. Nem Deus nem outros interromperam o nosso momento no palco do viver. O que se espera é que eu e você também não o interrompamos. As coisas para você andam difíceis? Pense que numa peça de cinco atos, talvez o quinto seja o mais bonito e o mais longo. Arrisque-se a viver para ver o resto do enredo!

POR UMA IGREJA QUE PENSA

Leitores que não preparam as leituras.
Cantores que não ensaiam os cantos.
Coroinhas que não ensaiam sua parte.
Sacerdotes que não preparam seus sermões.
Catequistas que não lêem os documentos da Igreja.

Pregadores que não leram o catecismo.
Cantores de desafinados que insistem em liderar os cantos da missa.
Músicos sem ritmo e sem ensaios que tocam alto e errado.
Cantores que dão show de uma hora
sem perceber que a guitarra e o baixo estão desafinados.
De quebra, também um dos solistas...

Autores que não aceitam corrigir seus textos e suas letras,
antes de apresentá-los a milhões de irmãos na fé.
Cantores que teimam em repetir uma canção
cuja letra o bispo já disse que não quer que se cante mais.
Párocos que permitem que qualquer um lidere as leituras e o canto.
Párocos que permitem qualquer canção, mesmo se vier errada.

Sacerdotes que ensinam doutrinas condenadas pela Igreja,
práticas e devoções com ranços de heresia ou de desvio doutrinário.
Animadores de programas católicos com zero conhecimento de doutrina.
***
Parecemos um hospital que, na falta de médicos na sala de cirurgia,
permite aos secretários, porteiros e aos voluntários bem intencionados que operem o coração dos seus pacientes.
Há católicos aconselhando, sem ter estudado psicologia.
Há pregadores receitando, sem conhecer a teologia moral.
E há indivíduos ensinando o que lhes vem na cabeça,
porque, entusiasmados com sua fama e sua repercussão,
acham que podem ensinar o que o Espírito Santo lhes disse naquela hora.
Nem sequer se perguntam se de fato era o Espírito Santo que lhes falou
durante aquela adoração, ou aquela noite mal dormida!
Está faltando discernimento na nossa Igreja!
Como está parece a casa da mãe Joana,
onde todos falam e apenas uns poucos pensam no que falam.
Uma Igreja que não pensa acaba dando o que pensar!

PROFUNDOS E ENVOLVENTES

Procuram-se pregadores, locutores e apresentadores profundos, dinâmicos, envolventes.
Eles já existem, mas precisamos de alguns milhares.
Não precisam ser doutores, nem gênios da comunicação, mas precisam gostar de livros.
Mais do que isso, precisam gostar de livros profundos e ricos de informação.
Procuram-se pregadores e locutores que leiam muito e tenham sede de saber.
Tenham cultura razoável para passar informações seguras aos seus ouvintes e telespectadores.
Leiam muitos livros do seu movimento e muitos livros de outros movimentos da Igreja.
Leiam os grandes teólogos da Igreja e não apenas os da sua corrente de espiritualidade.
Conheçam História, Teologia, Filosofia, Sociologia, Pedagogia, Psicologia, Antropologia.
Com, ou sem diploma ou título, conheçam os livros mais indicados pelos estudiosos da fé.
Procuram-se pregadores, locutores e animadores católicos que não se repitam demais.
Não falem quase nunca de si mesmos e falem pouco de sua família. Há outros santos na Igreja!
Falem muito mais dos santos, dos mártires e dos que marcaram a História da Igreja.
Conheçam os principais documentos da Igreja e passem a informação ao seu público.
Fujam de elogios, bajulações, prêmios, chaves da cidade e títulos honoríficos.
Seus sermões ou programas sejam dinâmicos. Que o povo perceba que estão estudando!
Não digam, amanhã, as mesmas coisas do jeito que disseram hoje, ontem ou há cinco anos.
Haja novidade no seu discurso, porque material existe para cem anos, se o quiserem.
Ao invés de falar de si, gastem mais tempo lendo páginas interessantes de algum livro.
Valorizem os irmãos especialistas, cujos escritos aprofundam a cultura católica.
Transmitam a vasta riqueza espiritual da nossa Igreja: de toda a Igreja.
Gravem e revejam o que disseram nos últimos meses.
Assim saberão se são repetitivos demais e se, de fato, prepararam sua comunicação.
Verão se não improvisam demais e se vão para o trabalho com o sem bagagem e lastro.
Quantos livros leram no último ano? Que documentos estudaram? A quem convidaram?
Procuram-se apresentadores e apresentadoras, animadores e animadoras que estudam!
Não é que não existam. É que infelizmente, não são muitos...A estante deles os trai!
Corrijam-me se, por acaso, carreguei nas tintas! Falta leitura aos nossos comunicadores da fé!

PROPOSTA DE PAZ SOFRIDA

Jesus avisou que haveria paz e repouso para as almas que o seguissem (Mt 11,19), mas também haveria cruz no caminho de quem fosse com Ele. (Mc 8,34) O discurso era franco, aberto e sem mentiras ou falsas promessas de sucesso e de primeiros lugares. Que escolhessem!
Não dourou a pílula, coisa que o marketing do mundo faz com maestria. Com raras exceções, não se fala das dores, dos possíveis fracassos ou da imperfeição do produto oferecido. O cliente ou, no caso de igrejas que aderiram ao pesado marketing da fé, o futuro adepto terá poder, sucesso, milagres à disposição, ou coisas incríveis lhe virão caso aceite a proposta que lhe é feita. Compre! Adira! Seja um dos nossos!
Quantos entendem a pregação como cruz e quantas a vêm como trono? Vale o questionamento!

RÁDIO E RELIGIÃO

Falo como religioso que atua no rádio e na televisão. Não poderia falar contra colegas que fazem o mesmo, nem me exaltar porque negaria a fé cristã. Mas penso que depois de 45 anos na mídia e no púlpito devo, sim fazer uso do elogio e da correção fraterna, porque isso também tem a ver com os evangelhos. Jesus elogiou e corrigiu e os apóstolos concordaram e discordaram, sem um perder o respeito pelo outro. Nas igrejas é assim: quem viveu mais e sabe um pouco mais sobre determinado assunto ensina e quem sabe menos ou está apenas começando aprende, sem deixar de ensinar o que já sabe. Igrejas são escolas e todo aquele que deseja ser mestre precisa começar aprendendo. Para os católicos parece ser a essência da proposta do Documento de Aparecida. Aprender sempre, ensinar com o devido respeito, omitir-se, nunca!
Ultimamente, de uns 30 anos a esta parte, os pregadores da fé descobriram o rádio e a televisão. Investiram pesadamente nestes veículos e com resultados estrondosos. Os que agiram dentro da lei e com respeito aos outros nada mais fizeram do que seguir Mateus 10,27: O que vos digo em trevas dizei-o na luz; e o que escutais ao pé do ouvido pregai-o sobre os telhados. Acrescentemos ainda, de Marcos: Porque nada há encoberto que não haja de ser manifesto; e nada se faz para ficar oculto, mas para ser descoberto. (Mc 4, 22) Evidentemente Jesus quer que a sua mensagem se difunda pelo mundo. Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura. (Mc 16, 15)
Mas aqui vem a parte mais delicada. O mesmo Jesus não disse que vale qualquer meio ou método. Certamente condenaria pregadores desesperados por audiência, que montam rádios piratas indo contra a lei e pondo em risco a navegação aérea. As estatísticas são tristes: consta que em São Paulo cerca de 80% das rádios piratas pertencem a pregadores que se dizem cristãos. Não vale, também, isso de qualquer um criar qualquer templo com qualquer nome e qualquer púlpito e ensinar uma doutrina qualquer, garantindo que ela é a verdadeira e as demais são erradas. Acabo de ouvir isso de um pregador que afirmou alto e bom som que só há duas igrejas: a certa, que é a deles e as erradas que são todas as outras... Quanta humildade!...
Imagine se qualquer um que jamais estudou Medicina montasse uma clínica ou um hospital e operasse pacientes incautos. Imagine se qualquer um que jamais estudou Direito montasse banca e se metesse a defender as pessoas sem ter os devidos conhecimentos das ciências jurídicas! Pois isso tem acontecido no rádio e na televisão! Pregadores com evidentes sinais de que não gostam de livros e com pouquíssimo preparo acadêmico, em mais de 400 programas noite à dentro, emissora após emissora, anunciam a verdade mais verdadeira sobre Jesus!
Evidentemente nenhum deles admite inaptidão para assumir aquele programa. Mas não estão preparados! Uma escola não os aceitaria como professores! Entre seus colegas de igreja há os estudiosos que certamente sabem do que falam. Mas eles, os despreparados, demonstram pouca intimidade com Bíblia, livros de História, de Teologia, de Antropologia, Psicologia e Sociologia. Seu discurso é o de um pretenso médico que não passou do curso de enfermagem. Jeremias reagiu duramente contra profetas que se passavam por tais, mas não eram profetas (Jr 14,14) Os capítulos 23 de Jeremias e 23 de Mateus combatem esse tipo de pregador.
Aceitamos que isso continue? Ou todas as igrejas tomarão as devidas providências, para que a televisão e o rádio religioso sejam lugar de gente preparada? Não tem que ser doutor, mas tem que ser leitor! Se está na Bíblia que Deus esconde revelações dos sábios e poderosos e as revela aos pequenos e humildes (Mt 11,5), está,também, na mesma Bíblia 2 Tm 3,15-16 e em Efésios 3,18 que o pregador deve ser homem que estuda e aprofunda seus conhecimentos.
Faço parte dos pregadores que nas mais diversas igrejas lutam por melhor preparo de quem enfrenta os microfones e as câmeras. Charme e entusiasmo são qualidades, mas não bastam. Pregador tem que estudar! Ou isso, ou a mesmice!

Pe. Zezinho, scj

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