domingo, 21 de outubro de 2012

A GRALHA ENFEITADA COM PENAS DE PAVÃO

Por Monteiro Lobato – in Peregrina Cultura

A gralha e o pavão, s/d-Frans Snyders (Bélgica, 1579-1657)
Óleo sobre tela
Como os pavões andassem em época de muda, uma gralha teve a ideia de aproveitar as penas caídas.
– Enfeito-me com estas penas e viro pavão!
Disse e fez.  Ornamentou-se com as lindas penas de olhos azuis e saiu pavoneando por ali a fora, rumo ao terreiro das gralhas, na certeza de produzir um maravilhoso efeito.
Mas o trunfo lhe saiu às avessas.  As gralhas perceberam o embuste, riram-se dela e enxotaram-na à força de bicadas.
Corrida assim dali, dirigiu-se ao terreiro dos pavões pensando lá consigo:
– Fui tola.  Desde que tenho penas de pavão, pavão sou e só entre pavões poderei viver.
Mau cálculo.  No terreiro dos pavões coisa igual lhe aconteceu.  Os pavões de verdade reconheceram o pavão de mentira e também a correram de lá sem dó.
E a pobre tola, bicada e esfolada, ficou sozinha no mundo.  Deixou de ser gralha e não chegou a ser pavão, conseguindo apenas o ódio de umas e o desprezo de outros.
Amigos: lé com lé, cré com cré.
Esopo, xilogravura
Em: Fábulas, Monteiro Lobato, São Paulo, Editora Brasiliense: sem data, 20ª edição
Esta fábula de Monteiro Lobato é uma das dezenas de variações feitas através dos séculos das fábulas de Esopo, escritor grego, que viveu no século VI AC. Suas fábulas foram reunidas e atribuídas a ele, por Demétrius em 325 AC. Desde então tornaram-se clássicos da cultura ocidental e muitos escritores como Monteiro Lobato, reescreveram e ficaram famosos por recriarem estas histórias, o que mostra a universalidade dos textos, das emoções descritas e da moral neles exemplificada. Entre os mais famosos escritores que recriaram as Fábulas de Esopo estão Fedro e La Fontaine.

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José Bento Renato Monteiro Lobato (Taubaté, 18 de abril de 1882 – São Paulo, 4 de julho de 1948) foi um dos mais influentes escritores brasileiros do século XX. Foi um importante editor de livros inéditos e autor de importantes traduções. Seguido a seu precursor Figueiredo Pimentel ("Contos da Carochinha") da literatura infantil brasileira, ficou popularmente conhecido pelo conjunto educativo de sua obra de livros infantis, que constitui aproximadamente a metade da sua produção literária. A outra metade, consistindo de contos (geralmente sobre temas brasileiros), artigos, críticas, crônicas, prefácios, cartas, um livro sobre a importância do petróleo e do ferro, e um único romance, O Presidente Negro, o qual não alcançou a mesma popularidade que suas obras para crianças, que entre as mais famosas destacam-se Reinações de Narizinho (1931), Caçadas de Pedrinho (1933) e O Picapau Amarelo (1939).
Contista, ensaísta e tradutor, este grande nome da literatura brasileira nasceu na cidade de Taubaté, interior de São Paulo, no ano de 1882. Formado em Direito, atuou como promotor público até se tornar fazendeiro, após receber herança deixada pelo avô. Diante de um novo estilo de vida, Lobato passou a publicar seus primeiros contos em jornais e revistas, sendo que, posteriormente, reuniu uma série deles em Urupês, obra prima deste famoso escritor.
Em uma época em que os livros brasileiros eram editados em Paris ou Lisboa, Monteiro Lobato tornou-se também editor, passando a editar livros também no Brasil. Com isso, ele implantou uma série de renovações nos livros didáticos e infantis.
Este notável escritor é bastante conhecido entre as crianças, pois se dedicou a um estilo de escrita com linguagem simples onde realidade e fantasia estão lado a lado. Pode-se dizer que ele foi o precursor da literatura infantil no Brasil.
Suas personagens mais conhecidas são: Emília, uma boneca de pano com sentimento e ideias independentes; Pedrinho, personagem que o autor se identifica quando criança; Visconde de Sabugosa, a sábia espiga de milho que tem atitudes de adulto, Cuca, vilã que aterroriza a todos do sítio, Saci Pererê e outras personagens que fazem parte da inesquecível obra: O Sítio do Pica-Pau Amarelo, que até hoje encanta muitas crianças e adultos. (Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre).

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