quinta-feira, 11 de outubro de 2012
IRONIA DA HISTÓRIA
Vamos falar francamente: os
jovens da esquerda revolucionária dos anos 60 e 70 nunca lutaram pela
democracia. Não, pelo menos, por esta que temos hoje e que vem sendo
aperfeiçoada desde 1985. Todos que participaram dos partidos, movimentos,
vanguardas e alas daquela época sabem perfeitamente que se lutava pela
derrubada do capitalismo e pela implantação aqui de um regime tipo cubano. E,
se não quiserem ou não acreditar em depoimentos pessoais, basta consultar os
documentos produzidos por aqueles grupos. Poderão, então, verificar, que a
única grande divergência entre eles estava no processo. Para alguns, a
revolução comunista viria pela guerrilha a partir do campo, no modelo cubano.
Para outros, o capitalismo seria derrubado pela classe operária urbana que se
formava no Brasil em consequência do próprio desenvolvimento capitalista.
Derrubar o regime dos
militares brasileiros não era uma finalidade em si. Aliás, alguns grupos
achavam que a instauração de uma "democracia burguesa" seria
contraproducente, pois criaria uma ilusão nas classes oprimidas. Estas poderiam
se conformar com a busca "apenas" de salários, benefícios, casa
própria, carro etc., em vez de lutarem pelo socialismo.
Pois foi exatamente o que
aconteceu. E, por uma dessas ironias da história, sob a condução e a liderança
de Lula! Uma vez perguntaram a Lula, preso no Dops de São Paulo: você é
comunista? E ele: sou torneiro-mecânico.
Uma frase que diz muito. De
fato, o ex-presidente jamais pertenceu à esquerda revolucionária. Juntou-se com
parte dela, deixou correr o discurso, mas seu comportamento dominante sempre
foi o de líder sindical em busca de melhores condições para os trabalhadores da
indústria. Líder político nacional, ampliou seu objetivo para melhorar a vida
de todas as camadas mais pobres, não com revolução, mas com crédito consignado,
salário mínimo e bolsa família, bens de consumo e moradia, churrasco e viagens.
Tudo pelas classes médias.
Mas por que estamos falando
disso? Certamente, não é para uma cobrança tardia. É por causa do julgamento do
mensalão, mais exatamente por causa das reações de José Dirceu, José Genoíno e
tantos outros membros do PT.
Os dois ex-dirigentes
condenados deram notas escritas, cujo conteúdo tem dois pontos contraditórios.
De um lado, tentam passar uma ilusão, a de que lutavam pela democracia desde os
anos 60. De outro, desqualificam essa democracia ao dizer que a decisão do
Supremo Tribunal Federal, poder central no regime democrático, foi um
julgamento de exceção e de ódio ao PT, promovido por elites reacionárias que
dominam a imprensa e a Justiça. Eis o velho discurso: a democracia é burguesa,
uma farsa que só favorece os ricos.
Ao mesmo tempo, dizem que a
vida do povo, dos mais pobres, melhorou e muito sob o governo do PT. Ora, em
qual ambiente o PT cresceu, o presidente Lula ganhou e governou? Nesta nossa
democracia que, entre outras coisas, levou a este extraordinário momento: Lula
e Dilma indicaram os juízes do STF que condenaram Genoíno e Dirceu.
O movimento estudantil dos
anos 60 e 70 foi uma tragédia. Foram para a política os melhores rapazes e
moças. E a política, por causa da ditadura local e da guerra fria global, e
mais a ideologia esquerdista então dominante na intelectualidade e na academia,
levou à luta armada. Tratava-se de um tremendo engano político. Como acreditar
que uma guerrilha dentro da floresta amazônica poderia terminar com a tomada do
poder em Brasília? Estava claro que a nova classe operária, como os
trabalhadores da indústria automobilística, com seu líder Lula, sequer pensava
em Cuba, mas sonhava com o padrão de vida dos colegas de Detroit. E os
sindicalistas, com posições no governo.
E assim, jovens idealistas e
com o sentimento de dever, perderam a vida, foram massacrados em torturas,
banidos pelo mundo, famílias arrasadas. É um milagre que tantos deles tenham
conseguido recolocar de pé a vida e estejam aí prestando serviços ao país.
Mas não serve para nada
tentar esconder essa história. Em vez de tentar mudar o passado, melhor seria
uma revisão, uma crítica serena, favorecida pelo tempo passado. Mesmo porque,
sem essa crítica, ocorrem as recaídas que, estas sim, podem perturbar o ambiente
político.
Felizmente, a democracia,
modelo clássico, de Ulysses, Tancredo, Montoro, venceu, não sem uma ajuda dos
jovens dos anos 60 e 70.
\|acrescentei imagem da Internet |/
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