quarta-feira, 3 de outubro de 2012

O AMOR À VERDADE

Por Pe. Estêvão Bettencourt, OSB

Veritas? Quid est veritas?
“Perguntou-lhe Pilatos: Verdade?
Que é a Verdade?”
(João 18.38)
Existem no mundo muitos amores: o amor ao dinheiro, ao poder, à glória... Há, porém, um tipo de amor que está em baixa: o amor à verdade.
Aliás, “que é a verdade?”, já perguntava Pilatos (Jo 18,38). Existe a verdade? A sociedade contemporânea tende a relativizá-la, principalmente quando se trata de explicar o mistério do homem. As ciências naturais, em seu progresso constante, são cautelosas ao propor suas teses: o que hoje parece ser a verdade em Física, em Astronomia, em Biologia... amanhã poderá ser tido como erro. A Filosofia moderna é crítica e, por vezes, cética no tocante à possibilidade de atingir a verdade. Todavia é precisamente neste mundo que o cristão há de ter a coragem de afirmar que ele conhece a Verdade, não por ser mais inteligente do que os seus semelhantes, mas porque Deus lhe revelou o verdadeiro sentido do homem e da vida.
Todo ser humano tende naturalmente para a verdade, como tende para a luz; ele foi feito para a verdade, e não para as trevas. Por isso todo ser humano pode chegar a saber por que vive e para que vive..., por que trabalha, luta e sofre... o que haverá depois da morte. A consciência de tal verdade é fonte de paz e segurança ao viandante das estradas da vida. Ninguém se sente bem, se não sabe por onde e para onde caminha.
E que prova tem o cristão de que ele conhece a verdade? – Sem dúvida, viver a verdade é um risco: é aderir ao Infinito, subordinando-lhe tudo o que é finito... Contudo esse risco se comprova como suma sabedoria, se é vivenciado corajosamente. Nada é tão reconfortante quanto a coerência da conduta de quem abraça a verdade e se entrega totalmente a ela; a nobreza e magnanimidade de atitudes são fonte de enorme felicidade.
Os tempos atuais sugerem tais reflexões ao cristão. São tempos de intensa procura de verdade e de luz; as múltiplas correntes filosóficas e religiosas que interpelam a nossa sociedade dão testemunho de quão vivaz é a busca de verdade: profecias, visões, sinais do além... pretendem ser a resposta ao homem peregrino e sequioso. Cedo ou tarde, porém, frustram aqueles que lhes dão crédito. 
Que falta então ao mundo de hoje? – Pode-se dizer que lhe falta o testemunho mais lúcido da verdade revelada por Deus e confiada aos discípulos de Cristo. “Vós sois o sal da terra”, diz o Senhor. “Mas, se o sal perder o seu sabor, com que o salgaremos?” (Mt 5,13). Os tempos confusos, cheios de linhas cruzadas e contradições fantasiosas em que vivemos, parecem estar interpelando o sal da terra e pedindo-lhe que não deixe dissolver-se o seu sabor. É a graça de Deus que salva o mundo... graça desse Deus que quer agir entre os homens mediante os homens numa continuada encarnação. Daí a pergunta: que fazes, cristão, do teu Batismo? Que fazes da tua Eucaristia? Que fazes da Palavra da Verdade que te foi entregue graciosamente para que amasses e irradiasses? Ama a Verdade e realiza o teu martyrion (testemunho) até as últimas consequências, ainda que isto te custe a própria vida. Dar a vida pela verdade é precioso e indispensável serviço aos irmãos, é fonte de profunda alegria.  

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