terça-feira, 23 de outubro de 2012
AINDA O DIA DO PROFESSOR
Por Hiram Reis e Silva, Porto Alegre, RS, 22 de outubro
de 2012.
Ninguém nega o valor da educação e que um bom
professor é imprescindível. Mas, ainda que desejem bons professores para seus
filhos, poucos pais desejam que seus filhos sejam professores. Isso nos mostra
o reconhecimento que o trabalho de educar é duro, difícil e necessário, mas que
permitimos que esses profissionais continuem sendo desvalorizados. Apesar de
mal remunerados, com baixo prestígio social e responsabilizados pelo fracasso
da educação, grande parte resiste e continua apaixonada pelo seu trabalho. A
data é um convite para que todos, pais, alunos, sociedade, repensemos nossos
papéis e nossas atitudes, pois com elas demonstramos o compromisso com a
educação que queremos. Aos professores, fica o convite para que não descuidem
de sua missão de educar, nem desanimem diante dos desafios, nem deixem de
educar as pessoas para serem “águias” e não apenas “galinhas”. Pois, se a
educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela, tampouco, a sociedade
muda. (Paulo Freire - Verdades da Profissão de Professor)
- Cotas nas Universidades
Quando o
governo tupiniquim resolve estabelecer cotas raciais contraria a própria
Constituição Federal que estabelece que todos são iguais perante a Lei ou será
que nossos governantes consideram que os descendentes de negros e índios não
são cidadãos brasileiros ou são “mais iguais” que os demais. Tenho
sangue índio nas veias como mais da metade da população deste país, seria justo
pleitearmos cotas especiais nas Universidades?
Em 2000, um
estudo do laboratório Gene, da Universidade Federal de Minas Gerais, mostrou
que 33% dos brasileiros que se consideravam brancos tinham DNA
mitocondrial vindo de mães índias. “Em outras palavras, embora desde 1500 o
número de nativos no Brasil tenha se reduzido a 10% do original (cerca de 3,5
milhões para 325 mil), o número de pessoas com DNA mitocondrial ameríndio
aumentou mais de dez vezes”, escreveu o geneticista Sérgio Danilo Pena no “retrato
molecular do Brasil”. Esses números sugerem que muitos índios largaram as
aldeias e passaram a se considerar brasileiros.
O Governo
precisa investir na educação e não se utilizar de mecanismos esdrúxulos para
beneficiar minorias atuantes. No meu tempo procuravam o ensino particular
apenas aqueles que não tinham capacidade intelectual para acompanhar o
excelente ensino público proporcionado pelo Estado. Mecanismos de exceção
atestam que o governo reconhece sua incompetência em solucionar o fracassado
modelo de ensino adotado até então.
-
Exemplos que vem de Longe
Nas minhas
amazônicas andanças tive a oportunidade de conhecer personalidades fantásticas.
Minha jornada de aprendizado permeou entre a sabedoria da gente simples das
ribeiras e a cultura dos intelectuais citadinos da mais alta estirpe. Ouvi
extasiado suas histórias de vida, sua coragem em arrostar as dificuldades de
toda a ordem e sua brava persistência em prosseguir quando momentaneamente
fracassavam.
Uma dessas
criaturas fabulosas que mais chamaram minha atenção pela gentileza com que nos
brindou ao receber-nos em sua bela residência em Porto Velho, RO, pelo exemplo
de vida e conhecimento que demonstrou ao contar-nos a história de sua região
foi o Professor Dante.
O Professor
Doutor Dante Fonseca, da Universidade Federal de Rondônia, historiador e
escritor renomado enviou um comentário a respeito de meu artigo sobre o “Dia
do professor”, publicado no dia 15 de outubro, que faço questão em dividir
com os leitores.
Professor Dante Ribeiro Fonseca
Meu caro Hiram, tudo isso que está acontecendo com
o Brasil é uma tristeza. A demagogia substituiu não somente o bom senso, mas
também o senso comum. Hoje somos governados por minorias ativistas encasteladas
em ONGs que falam em nome da sociedade mas sem consultá-la. Essas organizações
nada têm de não governamentais, pois são custeadas com dinheiro público.
Resultado, se não foi esse modelo de política que aí está que construiu a
perversa realidade educacional que hoje vivemos ele tem a culpa de aprofundar o
fosso. 60% dos brasileiros são analfabetos funcionais, 20% dos jovens entre 16
e 20 anos não estudam e nem trabalham, são percentuais espantosos. Onde vamos
parar.
Estamos construindo uma geração de analfabetos e
mimados, o professor não tem mais autoridade em sala de aula. Agora temos que
consumir mais um produto importado pela mediocridade de nossas elites
intelectuais, o “bullying”. Com isso completamos o ciclo. Além de
mimados vamos criar uma geração de florzinhas. Já passou da hora de mudar esse
modelo educacional que cria cifras ficcionais. Contudo, agora eles investem em
destruir a universidade pública, assim como antes o fizeram com a escola
pública.
O ministro da educação, ao ser perguntado sobre a
dificuldade dos cotistas em acompanharem o curso superior aconselhou cinicamente
a que providenciássemos “aulas de reforço”. É assim, o povo continua
enganado. As cotas são cortinas de fumaça, não têm o condão de reduzir a brutal
desigualdade social existente em nosso país. É como o governo dissesse aos
pobres: “Não vamos dar boas escolas públicas a todos vocês, mas como
compensação vamos facilitar para que alguns de vocês entrem na universidade”.
Hoje se um aluno zerar no vestibular e houver vaga
no curso escolhido temos que matriculá-lo. Criaram um “índice de sucesso”
que na verdade é um índice de aprovação, meramente quantitativo. Vejo cada vez
mais alunos desistirem dos cursos de magistério horrorizados com a realidade
com a qual conviverão profissionalmente e com a remuneração, menor que a do
pipoqueiro da porta da escola onde serão professores. Para quê o sacrifício?
Para quê o esforço? No primeiro concurso para policial ou nível médio do Poder
Judiciário é aquela evasão, pois ganha-se mais e sacrifica-se menos. Além
disso, preocupado com a evasão, que tem aumentado mesmo na ausência desses
concursos, perguntei aos alunos sobre causas do fenômeno. Responderam-me que os
que desistem declaram fazê-lo por não poder acompanhar as leituras. Resultado,
continuamos a ter uma escola elitista, para os ricos as boas escolas
particulares, para os pobres o lixo que se tornou (porque nem sempre foi assim)
a escola pública.
O ciclo certamente se completará com a universidade
pública. A escola brasileira precisa mudar a filosofia que a tem dirigido pelos
últimos quarenta anos. De concessão em concessão, de pedagogismo em pedagismo
chegamos a uma escola que nem ensina quanto mais educa. Hoje professores são
agredidos e alunos mortos a facadas pelos seus colegas dentro das escolas, uma
situação impensável há quarenta anos. Certo estava Oliveira Viana na década de
30, no Brasil temos uma legislação avançadíssima, sempre tivemos, para
acobertar uma realidade social que com ela entra em conflito (e isso vale
também para o período da escravidão, guardadas as devidas proporções).
Sou professor e pai de dois brasileiros. O rapaz é
advogado e a moça prepara-se para enfrentar o vestibular de medicina. Trabalho
desde os nove anos de idade, lutei para superar a pobreza em que nasci, não fui
agraciado com cota ou bolsa família. No meu tempo existia a caixa escolar
que fornecia uniforme e material escolar para os alunos pobres, mas uma
reprovação e perdia-se o benefício.
Lutei e consegui sair da pobreza às minhas custas e
hoje vejo minha filha castigada com uma oportunidade menor de entrar para a
universidade pública, em função das cotas, porque seu pai e sua mãe foram bem
sucedidos em superar uma situação social adversa. Que país é esse,
que premia o fracasso e pune o sucesso? Paro por aqui, desculpe o
desabafo. O Brasil precisa mudar, mas não vislumbro nas experiências políticas
passadas e presentes as boas mudanças que pretendemos. Não vislumbro também nas
forças políticas partidárias em jogo atualmente nenhuma com capacidade de
comandar as mudanças.
Att. Dante Fonseca (ainda professor)
-
Livro do Autor
O livro
“Desafiando o Rio-Mar – Descendo o Solimões” está sendo comercializado, em
Porto Alegre, na Livraria EDIPUCRS – PUCRS, na rede da Livraria Cultura (http://www.livrariacultura.com.br) e na
Associação dos Amigos do Casarão da Várzea (AACV) – Colégio Militar de Porto
Alegre.
Para visualizar, parcialmente, o livro acesse o
link:
Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva
Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA); Presidente
da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS); Membro da
Academia de História Militar Terrestre do Brasil - RS (AHIMTB - RS); Membro do
Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS); Colaborador
Emérito da Liga de Defesa Nacional.
E-mail: hiramrs@terra.com.br
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