domingo, 14 de outubro de 2012
BURACO NA CONSTITUIÇÃO
A visão constitucional de um gênio chamado Graciliano Ramos
Preocupado com a reforma da Constituição
Brasileira, no final do Estado Novo de Vargas, Graciliano Ramos fez em artigo
de jornal uma denúncia por demais atual, uma denúncia ao Poder Político.
A seguir, são citados fragmentos dessa escrita,
parecendo que o escritor alagoano já tinha consciência de fatos que até hoje
existem em nosso país. -|LorotasPolíticas...|-
A Constituição da República tem um buraco. É
possível que tenha muitos, mas sou pouco exigente e satisfaço-me com referir-me
a um só. Possuímos, segundo dizem os entendidos, três poderes – o Executivo,
que é o dono da casa, o Legislativo e o Judiciário, moços de recados, gente
assalariada para o patrão fazer figura e deitar empáfia diante das visitas.
Resta ainda um quarto poder, coisa vaga,
imponderável mas que é tacitamente considerado o sumários dos três.
Aí está o rombo na constituição, rombo a ser
preenchido quando ela for revista, metendo-se nela a figura interessante do
chefe político, que é a única força de verdade. O resto é lorota… Todos eles
são mais ou menos chefes. Não se sabe bem de que, mas é certo que o são.
Graúdos, risonhos, nutridos, polidos, escovados, envernizados, lá estão
inchando, inchando. São os grossos batráquios da lagoa republicana.
Muito menos volumosos, coaxam pelos cantos chefitos
incolores, numerosos, em chusma, minúsculas pererecas de poças d’água… São, há
um tempo, intendentes ou prefeitos, juízes, promotores, advogados e jurados,
conselheiros municipais, comissários de policia e inspetores de quarteirão.
Realizam a pluralidade na unidade! E ainda há quem duvide do mistério da
Santíssima Trindade…
Ponha-se, pois, o chefe político no galarim (NR –
ápice) e mande-se à fava o resto. Metam-no, honestamente, em letra de forma.
Entre ele, triunfante, com armas e bagagens, em nosso magno estatuto.
Peguemos o chefe político, agitemo-lo no ar e berremos
o estribilho com que a imprensa, há tempos, nos anda a amolar – a Constituição
da República precisa de uma revisão.
(in
Jornal de Alagoas – Maceió, março de 1945)
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