segunda-feira, 29 de outubro de 2012

TALIDOMIDA, O TARDIO PEDIDO DE DESCULPAS

Por Luiz Antonio Domingues – in Planet Polêmica

A talidomida interfere no desenvolvimento de fetos e provoca má-formação. A droga foi proibida na década de 60 depois de milhares de crianças nascerem com atrofia dos membros ou problemas cardíacos. Voltou ao mercado na década seguinte - sob rigorosa legislação -, pois constitui uma boa alternativa para tratamento de doenças como hanseníase, lúpus, câncer na medula óssea e artrite reumatoide. Hoje, a talidomida chega a ser indicada para até 60 tipos de tratamentos, que incluem alívio dos sintomas de portadores do HIV e diminuição do risco de rejeição em transplantes de medula. Contudo, o acesso é restrito a pacientes cadastrados nos programas públicos de saúde.
Foi na metade dos anos cinquenta que um medicamento chegou às prateleiras das drogarias, prometendo uma revolução nos costumeiros desconfortos que as mulheres sentem durante o período da gravidez. Inicialmente arrolado como um sedativo e hipnótico, logo se tornou a panaceia para eliminar os desagradáveis enjoos matinais das mulheres grávidas. Há de se considerar que naquela época, o processo dos testes prévios eram bem menos rigorosos em se comparando aos atuais padrões, mas mesmo assim, no caso da Talidomida, o fato é que os testes falharam e muito, pois não chegaram perto de cogitar os males congênitos que o medicamento causaria em milhares de pessoas. E foi assim que no final dos anos 1950, começaram a pipocar casos de crianças nascidas com graves problemas físicos, notadamente a ausência ou má formação de membros, braços e pernas principalmente (Dismelia) e também com possibilidades de deformações no aparelho genital, olhos, boca e aparelho digestivo/intestinal. Isso se tornou epidêmico e já em 1962, haviam registrados mais de 10 mil casos em 46 países. Rapidamente a imprensa cunhou a expressão "Bebês da Talidomida" para designar essas crianças prejudicadas severamente pelo medicamento. E nessa época, o remédio foi proibido em todos os países por suas respectivas agências reguladoras de saúde pública, ministérios de saúde etc. etc. Vieram as ações judiciais, naturalmente. Brigas intermináveis ocorreram nos tribunais desses países afetados e milhões de dólares foram pagos em indenizações pelo laboratório responsável, Grünenthal e por laboratórios associados em diversos países, que se responsabilizaram por sua industrialização e distribuição local. Associações de vítimas foram criadas em diversos países e nem preciso descrever o tormento que essa tragédia produziu nessas pessoas afetadas diretamente e também em suas respectivas famílias. Agora em 2012, mais de cinquenta anos depois, o laboratório Grünenthal finalmente pronunciou-se de forma oficial e pediu desculpas pelas décadas de silêncio sobre o assunto. Esse pedido de desculpas oficial foi feito durante uma solenidade onde uma estátua de uma criança vítima da Talidomida foi inaugurada em Stolberg, cidade da Alemanha onde a Grünenthal tem sua sede. A Associação Brasileira de Portadores da Síndrome da Talidomida criticou duramente esse evento, através de nota em seu site oficial onde disse que o pedido de desculpas veio com incrível demora (verdade...) e o dinheiro gasto para produzir a tal escultura em Stolberg (cotada em 5 mil Euros), seria muito melhor gasto se fosse distribuído às vítimas. Apesar de tudo, a Talidomida enquanto substância, hoje em dia serve de base para testes, onde cientistas descobriram que tem eficácia para combater a Hanseníase e a Aids.

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