Qual músico ou aspirante a
músico que nunca pegou uma revista de cifras para tentar tirar as músicas de
seus ídolos, ou não teve a curiosidade de pegar uma revista do estilo Guitar
Player para ver as últimas novidades em instrumentos e equipamentos musicais?
Luiz Domingues nos conta neste texto abaixo sobre as revistas precursoras desse
estilo que fez parte da nossa adolescência, e que até os dias de hoje são
usadas em versões on line. Como aconteceu com o Luiz, também tive um professor
de violão que só queria ensinar as músicas que ele gostava, às vezes difíceis
de acompanhar, e que na época eu achava antiquadas, veja só, eram simplesmente
músicas dos Mutantes! Talvez fosse muito nova para entender na época! hehehe...
Boa viagem na máquina do tempo, e fiquem com Deus!-\|-Limonada Hippie-|/
Por Luiz
Antonio Domingues
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Jogue a primeira pedra quem nunca "tirou" uma música da VIGU... |
Uma pequena editora sediada na
zona oeste da cidade de São Paulo e ligada a um conservatório musical, editava
uma revista muito popular nos anos setenta, chamada "Violão &
Guitarra".
Apelidada de "Vigu", era
sucesso entre estudantes de violão e guitarra iniciantes, pois a sua base
editorial era a publicação de letras de músicas do Hit Parade, com a respectiva
harmonia musical super simplificada através de cifras e indicações de como
montar os acordes, com o desenho dos dedos nos trastes do instrumento.
Apesar das críticas de muitos
músicos por considerarem as harmonias propostas equivocadas, o fato é que muita
gente aprendeu o bê-á-bá da digitação ao violão/guitarra, consultando tal
publicação.
Avançando como escola de música e
animados com o mercado editorial que apresentava publicações como a Revista
"POP" e a "Rock, a História e a Glória" nas bancas,
lançaram então, em 1976 , a revista "Música".
A proposta editorial tinha seus
diferenciais em relação à concorrência, todavia.
Se na "Rock", o texto
tinha conteúdo contracultural, acrescido de muita paixão pela música e Rock em
específico e na "POP", o fator comportamental da juventude classe
média era o mote, na revista "Música", a ênfase era um texto mais
rebuscado e preocupado em mostrar aspectos técnicos, tanto tecnológicos em
relação à instrumentos e equipamentos, quanto à parte didática de explicar a
performance de músicos famosos.
Mesmo sendo impressa em preto e
branco, a "Música", tinha uma boa diagramação e ilustrações.
E seguindo mais a linha do jornal
anexo da "Rock" (Jornal de Música) e o encarte da "POP"
(Hit Parade), era aberta à muitas vertentes da música, embora o Rock, incluso
os seus representantes brasileiros, tinha farta cobertura por estar num momento
ainda em alta no mercado daquela época.
Os pontos mais positivos ficavam
por conta da cobertura de shows ao vivo e resenhas de discos, mesmo levando-se
em conta que seus articulistas eram mais exigentes do que seus colegas de
outras publicações.
A meu ver, esse grau de
perfeccionismo se dava por conta da valorização do aspecto didático, que era a
especialidade da casa, visto que a publicação era o braço jornalístico de uma
escola de música e dessa forma, precisavam mostrar serviço nas análises mais
profundas.
Havia quem não gostasse de tanto
rigor e mesmo particularmente preferindo a escrita da "Rock", bem
mais leve e "cool", essa formalidade de professor de música não me
incomodava e eu achava e ainda acho, que uma visão paralela e diferente, só
enriquece o manancial de informações sobre um mesmo assunto.
Seguindo nessa linha, a
"Música" dava muitas notas sobre instrumentos e equipamentos, citando
até cotação de preços no mercado de São Paulo e Rio de Janeiro; matérias
técnicas falando sobre testes tecnológicos etc.
E claro, havia o aspecto didático
também, onde aproveitando o Know-how adquirido com a popular "Vigu",
publicava-se igualmente cifras e letras de
músicas de sucesso, só que mais selecionadas,
priorizando Rock e MPB de qualidade, principalmente.
Uma edição muito comentada foi a
que trouxe uma matéria muito boa com George Harrison em 1979, quando o ex-Beatle
veio ao Brasil quase secretamente para assistir o GP de Fórmula 1 em
Interlagos. O boato espalhou-se apesar dele estar incógnito praticamente e a
"Música" foi atrás, como um dos poucos veículos que percebeu esse
visitante ilustre respirando o ar tupiniquim, além de uma entrevista para o
programa "Fantástico", da Rede Globo, que ele concedeu e alvoroçou os
fãs.
A revista foi perdendo o fôlego e
já não conseguia enfrentar sua maior concorrente no final da década de setenta
e início de oitenta, a "Som Três". Com mais estrutura, a "Som
Três" prevaleceu e a "Música" fechou as portas em 1983.
A pequena "Editora
Imprima", mesmo fragilizada financeiramente, persistiu ainda um pouco mais
ao lançar outras publicações nos anos oitenta, como "Rock Stars" e
"Rock Passion", mas que também sucumbiram, infelizmente.
Em seus anos mais profícuos na
década de setenta, a "Música" teve suas matérias assinadas por
jornalistas de qualidade, como Nico Pereira de Queirós e Rafael Varella Júnior
entre outros.
Matérias técnicas eram assinadas
por convidados. Geralmente músicos e técnicos gabaritados. Gente como Tony
Osanah, Claudio Lucci, Nelson Ayres, Egydio Conde e maestros como Fausto de
Paschoal e Ettore Pescatore, por exemplo.
Os editores eram os irmãos Victor
Biancardi e Oswaldo Biancardi Sobrinho, também donos do "Grupo AMA",
uma escola de música que vendia a ideia de ter uma concepção didática moderna,
embora fosse apenas repaginada de um conservatório musical tradicional, fundado
pelo pai deles, o velho Biancardi.
Eu mesmo tive uma passagem rápida
pelo Grupo AMA, estudando por alguns meses de 1977. Meu professor era bom,
baixista de uma banda de baile famosa na época (Phobus), mas sua didática não
me cativou. As únicas coisas bacanas nas aulas dele eram : 1) Ele usava o baixo
dele e eu mais "babava" do que focava nos exercícios, com aquele
espetacular Fender Jazz Bass sunburst, igual ao do John Paul Jones...e 2) Ele
estava obcecado pelo novo álbum do Stevie Wonder à época e só queria ensinar as
músicas do LP "Songs in the Key of Life", que era (é !!) demais. Uma
pena que eu fosse um mero principiante e não acompanhasse como
gostaria... A Revista "Música" foi
uma boa publicação naquela metade para o final da década de setenta e
certamente contribuiu bastante naquele período.
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