sexta-feira, 19 de outubro de 2012
BORGES DE BARROS, UMA VOZ QUE MARCOU
Desde o advento da televisão no
Brasil (inaugurada oficialmente em 18 de setembro de 1950, com a TV Tupi de São
Paulo), o papel dos dubladores foi de suma importância.
Elogiados por alguns, criticados
por outros e ignorados pela maioria, nossos abnegados dubladores tiveram desde
os primórdios, um trabalho notável, dando inteligibilidade à produção
estrangeira de filmes, seriados, documentários, shows, desenhos animados e
outras produções audiovisuais.
Eu me incluo no rol dos que
reconhecem e enaltecem o trabalho desses profissionais.
Cresci nos anos 1960, naturalmente
impressionado pelos filmes, seriados e desenhos animados estrangeiros que
passavam na TV, nessa década e nesse quesito, as vozes desses dubladores
tiveram fator decisivamente influenciador na minha geração.
Entre tantas vozes sensacionais
que dublavam diversos personagens, destaco a atuação do ator Borges de Barros,
que além de dublador, era também comediante de sucesso na TV e no cinema.
Nascido Fileto Borges de Barros em
Corumbá, no Mato Grosso do Sul, Borges de Barros, nunca sonhou em ser artista.
Filho de uma família humilde,
apenas esforçava-se para ajudar no sustento de seus irmãos, trabalhando como
guarda-livros e sendo coroinha da paróquia local.
Por uma obra do acaso, ao fazer um
trabalho escolar onde sua voz destacou-se, foi encaminhado à São Paulo onde fez
teste de locução na Rádio Difusora.
Logo perceberam que ele tinha uma
capacidade inacreditável de modular a voz, produzindo diversos timbres
diferenciados e com a chegada da TV e consequente legislação que foi criada
visando dublar o material estrangeiro a ser veiculado, Borges deslanchou na
carreira, tornando-se rapidamente um dos maiores dubladores do Brasil,
emprestando sua voz de timbres múltiplos à uma enorme gama de filmes de
longa-metragem, seriados, desenhos e documentários.
Emendando na crescente
oportunidade do mercado publicitário inerente, Borges também passou a ser muito
requisitado para as locuções de comerciais, ou "propagandas", como se
dizia naquela época.
Ainda nos anos 1960, Borges também
atuou muito como comediante em programas de TV. Seu personagem do "mendigo
aristocrata", era divertidíssimo, onde maltrapilho, fazia citações
literárias, falava de assuntos culturais em geral e com uma sofisticação
verborrágica que contrastava com sua condição de penúria social, tornando-o um
personagem incrível, nas gags do programa” A Praça da Alegria".
Essa caracterização o levou ao
cinema, onde atuou em "Se meu Dólar Falasse" (de 1970), ao lado de
Dercy Gonçalves, Zilda Cardoso, Grande Otelo etc.
E também atuou em outros filmes
nos anos setenta ("Uma Cama para Sete Noivos"; "Simão, o
Caolho"; "Regina e o Dragão de Ouro").
Também teve atuações em novelas,
nas extintas TV Paulista e TV Tupi.
Mas foi como dublador que sua fama
cresceu de fato. Seu apelido no meio era: "O homem das mil vozes".
Nas séries de TV, sua voz ficou
marcante em inúmeros trabalhos.
Entre as mais destacadas, cito a
voz de Moe Howard, de "The Three Stooges" ("Os Três
Patetas"). Quem nunca ouviu os incríveis impropérios que Moe dirigia aos demais
Patetas? "Seu cabeça de pudim" é um clássico...
Em Batman, a série de 1966, Borges
dublava o personagem "Pinguim", interpretado por Burgess Meredith.
Sua voz é sensacional, emoldurando toda a ironia fina do personagem, um vilão
cínico, de língua afiada.
Mas foi em "Lost in
Space" ("Perdidos no Espaço"), que o "seu" Borges se
esmerou. Ao criar aquela voz metálica e sombria para o personagem do Dr.Smith
(interpretado por Jonathan Harris), Borges amplificou o personagem de uma
maneira avassaladora.
Harris era um ator excepcional que
já tinha extrapolado os limites dados pelos roteiristas da série, com sua
interpretação (com a anuência do produtor Irwin Allen, que percebeu o potencial
dessa modificação e incentivou Harris a prosseguir) e na versão brasileira, a
voz metálica e cavernosa que Borges imprimiu, só realçou todo o maquiavelismo
do personagem, tornando-o ainda mais sensacional.
Quem foi criança nos anos 1960,
sabe do que estou falando e todos os xingamentos que o Dr. Smith dirigia ao Robot
ou seus gritinhos e interjeições afetadas em momentos de medo ou egoísmo,
marcaram profundamente a nossa geração.
O sucesso de "Lost in
Space" no Brasil foi gigantesco e Jonathan Harris veio ao nosso país, numa
rara visita de um ator de seriados por aqui, naquela época.
Hoje em dia o Brasil é alvo dos
seriados como um dos maiores mercados do mundo e atores vem à São Paulo, Rio e
outras cidades brasileiras como se estivessem em Los Angeles para ações de
promoção, mas naquela época, era algo muito exótico para eles ( e
estratosférico para nós).
Num inusitado encontro no programa
de Hebe Camargo, então na TV Record de São Paulo, Jonathan Harris foi
apresentado ao seu dublador brasileiro, Borges de Barros.
Isso ocorreu em 1969. A série já
havia acabado nos Estados Unidos, mas ainda passava os seus últimos episódios
da 3ª temporada no Brasil
Jonathan Harris, mesmo sem
entender uma única palavra em português, percebeu que a dublagem era
impressionante e realçava o personagem.
Elogiando Borges de Barros,
disse-lhe que era sem dúvida a melhor dublagem que ouvira, entra tantas de línguas
estrangeiras de seu personagem, Dr. Smith.
E de forma inusitada, pediu que
"seu" Borges dublasse toda a sua produção, não só o personagem do Dr.
Smith.
Dessa forma, diversas outras
participações do ator Jonathan Harris em outros seriados, foram dublados por
Borges de Barros, também.
Fora isso, ele também era o
dublador oficial de atores como Lionel Barrymore, Lee J. Cobb e Edward
G.Robinson em diversos longas-metragens onde esses atores atuaram.
E em outras séries, sua voz foi
usada também em "The Time Tunnel" ("O Túnel do Tempo");
"Voyage to the Bottom of the Sea" ("Viagem ao Fundo do
Mar"); "Land of the Giants" ("Terra de Gigantes");
"Bewitched" ("A Feiticeira"); "Lancer";
"Here Comes the Brides" ("E As Noivas Chegaram");
"Jaspion" etc.
Em 2004, eu o encontrei numa rua
do bairro do Belenzinho, na zona leste de São Paulo. Ele estava visivelmente
abatido e eu sabia por ter lido na imprensa, que ele estava doente.
Quando passou por mim, eu o
cumprimentei de forma cordial, chamando-lhe de "Seu" Borges e
apertei-lhe a mão. Tive vontade de lhe agradecer por ter sido responsável por
umas das lembranças mais marcantes de minha infância e o quanto aquela voz
maquiavélica do Dr. Smith fora importante para mim entre 1966 e 1969.
Mas eu
"amarelei"...naquela fração de segundos, a garganta travou e eu não
disse nada além de um cumprimento comedido.
Talvez impressionado pelo aspecto
fragilizado dele, com hematomas e cicatrizes (depois fiquei sabendo que a
doença e a idade o debilitaram ao ponto de sofrer quedas constantes, daí os
ferimentos).
Me arrependo amargamente de não
lhe ter dito o quanto o admirava, pois tempos depois, através de uma discreta
nota no jornal Folha de São Paulo, tomei conhecimento de seu falecimento.
Fecho esta matéria com um dos
bordões clássicos do Dr. Smith : "Never fear, Smith is here..."
Na voz do "Seu" Borges,
o Dr. Smith falava no nosso português: "Nada tema, com Smith, não há
problema".
Mas eu encerro dizendo: "Nada
tema, com Borges de Barros, não há problema"...
A
voz de Borges de Barros como Moe Howard em "Os Três Patetas"
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Os principais trabalhos como dublador
Moe Howard (“Os Três Patetas”)
Zeke e o Leão Covarde (“O
Mágico de Oz”)
Doutor Smith (“Perdidos no
Espaço”)
Pingüim (seriado “Batman” dos
anos 60)
Profeta Edin (“Jaspion”)
Gaata e a Shima (“Changeman”)
Barak (“Flashman”)
Earthquake (“Samurai Shodown”)
Gigars (“Os Cavaleiros do
Zodíaco”)
Pilaf (“Dragon Ball” – Gota
Mágica)
Pai de Peter Griffin (“Family
Guy – Uma Família da Pesada”)
Sr. Zuketa (“Guzula”)
Dr. Dingle Dong (“Pica-Pau”)
Seus últimos trabalhos como
dublador foram em animês. Borges trabalhou na redublagem de “Os Cavaleiros do
Zodíaco” como Gigars, em “Efeito Cinderela” como Song Taijin e em “Love Hina”
como um dos velhos conselheiros de Hinata.
>>>|||\\\imagens fotoformatação PVeiga///|||<<<
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Um comentário:
UMA COISA QUE EU TINHA E ACABEI PERDENDO FOI UMA ENTREVISTA COM O BORGES NUM PROGRAMA DE RÁDIO, ELE E O DUBLADOR DO MISTER MAGOO. EU ADORAVA OUVIR ESSE PROGRAMA POIS O BORGES ESTAVA MUITO À VONTADE. vOCE POR ACASO TERIA ESSE ÁUDIO? UM ABRAÇO E PARABÉNS PELO BLOG.
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