Por João Bosco Leal
Os motivos que levam à dificuldade do ser humano em dar, desde objetos pessoais a amor, carinho, fidelidade e tantas outras coisas, me levaram a buscar alternativas e soluções.
Parece que o egoísmo nasce com o ser humano e exige dele, em primeiro lugar, a conscientização desse fato, o reconhecimento do próprio egoísmo, para que, em seguida, possa fazer um enorme esforço para acabar ou ao menos diminuir esse seu comportamento, que muitas vezes vem desde a infância.
A criança não aceita dar ou ao menos emprestar seu brinquedo para o irmão ou amigo e, ao mesmo tempo, quer o brinquedo do outro. Os filhos normalmente têm muito ciúmes da mãe e do pai e disputam seu amor, atenção e carinho com os próprios irmãos. Quando o filho não percebe que os pais podem dar aos irmãos sem que lhe falte, certamente será um adulto com maior dificuldade em partilhar.
Na escola, a criança está sempre querendo ganhar algo dos amigos, um lanche, um lápis diferente, amizade, ou qualquer outro objeto ou atitude, mas raramente pensa em dar algo semelhante. Esse comportamento é exponencialmente agravado quando ela nasce em um lar onde os pais superprotegem os filhos dando-lhes tudo, não os preparando dessa maneira para o mundo, que não lhes dará nada, mas cobrará bastante.
Durante toda a vida seremos cobrados a dar trabalho, paciência, dedicação, partilha, carinho, amor, e raramente encontraremos pessoas que nos darão o mesmo. Pessoas dizem que se sentem melhor quando dão tudo o que estava em seu guarda-roupas sem uso, pois abrem espaço para coisas novas.
Essa atitude sem dúvida é ótima, e muito melhor do que aquele que guarda inclusive o que não usa, mas também é, até nesse simples relato, a esperança inconsciente de receber que o levou a dar, e não o dar por dar, por perceber a necessidade do outro em algo que não utiliza.
Seria melhor se tivéssemos o desprendimento de dar por dar, simplesmente por entendermos que existem aqueles que necessitam mais do que nós, sem sequer pensarmos muito no fato de que, no futuro, poderemos utilizar aquele objeto, ou não darmos carinho e amor por ser aquele um estranho.
Mesmo os estranhos merecem nosso carinho, nossa compreensão, e não nossas críticas e recusas em dar-lhes algo simplesmente por crermos que se estão nessas condições é por serem vagabundos, não trabalharem ou qualquer outro juízo de valor, que normalmente fazemos dos outros, mesmo dos desconhecidos, sobre os quais nada sabemos.
Se fizermos o bem ou simplesmente dermos um sorriso para outro ser humano, certamente provocaremos neste pelo menos um segundo de felicidade, que talvez seja exatamente o que este necessita para que inicie o próximo momento de sua vida de modo diferente. Isso não é fácil, principalmente para os mais contidos como eu, mas precisamos tentar e, se não conseguirmos hoje, quem sabe amanhã ou depois conseguiremos.
O importante é termos também a consciência de que precisamos educar nossos filhos e netos de modo a obterem com mais facilidade do que nós essa percepção, pois nunca teremos justiça social, em um mundo com tamanhas desigualdades como este em que vivemos hoje e, assim, certamente eles conseguirão.
Inegável é o fato de que a doação, seja qual, para quem, e para onde for, nunca será demais, pois sempre existe e existirá quem dela necessite, por qualquer motivo, mais do que nós.
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