domingo, 9 de janeiro de 2011

SÓ PODE SER PRECONCEITO

por Janer Cristaldo
Os jornais descobriram que dois filhos e um neto de Lula, na calada do final de mandato, foram contemplados com passaportes diplomáticos. O que elimina toda essa burocracia com vistos, particularmente quando os marmanjos quiserem ir à Disneylândia. O comum dos mortais grama durante semanas – quando não meses – para obter um visto para os Estados Unidos. Os rebentos de Sua Alteza poderão ir direto para o aeroporto, sem preocupar-se com essas mesquinharias, como tirar visto e entrar em filas em aeroportos, que só atormentam o cidadão comum. Tampouco precisarão pagar os 190 reais à Polícia Federal pela expedição do documento. Aliás, nem precisarão enfrentar filas na Polícia Federal, como os demais mortais.
Ocorre que, neste Brasil, quando alguém goza de um privilégio indevido, está longe de ser o único. Qualquer corrupção que um jornalista encontrar traz atrás de si uma fieira de corrupções outras. Logo descobriu-se que também um pastor evangélico, que tampouco nada tinha a ver com serviços diplomáticos, também fora contemplado com um desses passes mágicos. E se dois filhos e um neto do ex-presidente, mais um pastor evangélico, gozam de tais mordomias, é óbvio que não serão os únicos privilegiados do país.
O Estadão de hoje desfia o resto. O jornal teve acesso à relação de ofícios que tratam da emissão de passaportes diplomáticos e de vistos que passaram pelo órgão nos últimos dois anos. Os destinos das viagens, inclusive agora, em pleno recesso parlamentar, são os mais variados: Miami, Las Vegas, Nova York, Atlanta, Dubai, Vancouver, Buenos Aires, Austrália, Japão, entre outros lugares.
Filhos de deputados que vão passar um período de estudos no exterior também aproveitam para viajar com o passaporte especial. Ainda segundo o Estadão, apenas de 2009 para cá, foram solicitados 662 vistos para viagens de deputados e parentes que têm o documento especial. Desses, 577 foram para "turismo". Apenas 69 cumpriam o objetivo de missão oficial, a trabalho.
Se alguém imagina que passaporte diplomático é apanágio dos detentores do poder e de seus filhotes, em muito se engana. Em dezembro passado, o deputado Carlos Leréia, do impoluto PSDB, pediu passaporte diplomático e visto para ele, a mulher e três filhos viajarem para Miami. Viajariam de 3 a 17 de janeiro deste ano, no recesso parlamentar. Já o deputado Décio Lima, do PT catarinense, pediu passaporte diplomático e visto para ele e sua mulher irem a Las Vegas, entre 10 e 25 de janeiro, certamente para representarem o país junto aos cassinos da cidade.
Pela legislação, os membros do Congresso e seus "dependentes" têm direito ao documento. O que a legislação não prevê é se este privilegiado passaporte pode ser usado para turismo.
A OAB está pedindo que os filhos do ex-presidente devolvam seus documentos. Profunda injustiça, que aos céus clama reparação. Por que teriam de devolver seus passes mágicos apenas os filhos do Supremo Mandatário, enquanto filhos de reles deputados continuam usufruindo do privilégio?
Para Marco Aurélio Garcia, assessor de Assuntos Internacionais da Presidência, o caso é irrelevante. "Acho o tema de uma irrelevância absoluta. Imagino que possa agradar aqueles 3% ou 4% que consideram o governo Lula ruim e péssimo". O que resta saber é se agradará os 80% que acham o governo Lula divino maravilhoso, mas mesmo assim terão de enfrentar filas quilométricas nos consulados do México ou Estados Unidos, só porque não filhos do presidente.
- Existe uma coisa no Brasil que são as leis – continuou . Se isso está de acordo com a lei, não vejo nenhum problema.
Acontece que não está de acordo com a lei, e o assessor devia saber disto. Mas certamente é preconceito contra a família do humilde ex-operário que chegou à Presidência da República. Só pode ser.
COMENTO: lendo a respeito, verifiquei que o tal "passaporte diplomático", na teoria, é só um facilitador, particularmente em se tratando de filas em aeroportos. E quem pensa que filas demoradas e tumultos em aeroportos só ocorrem no Brasil varonil está redondamente enganado. Na maioria dos casos, tal documento também faz com que seu portador seja liberado de passar pelos "portais magnéticos" com sua bagagem de mão. Aí a coisa pega! Quem sabe o que se pode levar em uma maleta de mão? Outro "benefício" não visível na legislação mas muito utilizado na prática é o que passou sem chamar a atenção nas declarações a respeito dos documentos fornecidos aos descendentes de Luis Inácio: o "evitar problemas com autoridades de outros países". Traduzindo para a linguagem vulgar, podemos citar alguns exemplos práticos a que um privilegiado portador de "passaporte diplomático" não está sujeito: ser conduzido a um distrito policial por baderna, bebedeira, infrações de trânsito, e outros 'pequenos delitos' que possam embotar as "relações diplomáticas" entre dois países. Em resumo, um espetáculo como o que ocorreu há algum tempo em apresentação do "Circo de Soleil" no Brasil, envolvendo um pinguço que bradava ser "filho do hômi", não é levado às páginas dos jornais por um policial que não quer se ver envolvido em problemas. Quanto aos passaportes diplomáticos usados por políticos - de forma legal (é claro, eles fazem as leis) mas totalmente imoral - e líderes religiosos, nossa nova Presidente poderia estabelecer novas regras, coibindo os abusos (duvido! O aspone internacional da boca podre já taxou o problema de irrelevante). Difícil é imaginar um calhorda desses submeter-se a "indignidade de ser molestado por funcionários migratórios" em aeroportos. Enfim, o cocaleiro boliviano tentou dar um jeito na questão mas não parece ter sido bem sucedido. E em 2002, nossa Câmara Federal já havia rejeitado esse quebra-galho aos religiosos. Parece que não levaram muita fé na decisão. Eu bem que gostaria de receber um documento desses para ir ao Paraguai e Colômbia, buscar algumas lembranças em minha mala diplomática!!!
Do Blog do Mujahdin Cucaracha.

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