O austríaco Sigmund Freud (1856-1939) é conhecido como o "pai da psicanálise". Seus estudos influenciaram muitas áreas do conhecimento humano, inclusive a educação |
Por (*)-CHICO ALENCAR
"No lugar dos valores da vida, preferiu-se o poder, o sucesso e a riqueza por si mesmos". Sigmund Freud, 1930
Quem analisa o século passado, da urbanização mundial, encontra um traço profético nessa afirmação do "pai da psicanálise".
No Brasil, o desenvolvimento econômico também tem se baseado na exacerbação da cultura individualista e na degradação da esfera pública.
Mas não há progresso real se não se supera a desigualdade e o atraso político.
Nesses aspectos essenciais continuamos mal.
Entre nós, onde os 10% mais ricos ainda ganham 40 vezes mais que os 10% mais pobres, o abismo social ganha tom de tragédia: enlutados, vejamos a condição da maioria absoluta dos vitimados nas enchentes.
Não se culpe o destino ou uma fatalista "ira divina", e sim a falta de prioridade para políticas públicas que poderiam amenizar essa dor indizível.
Não se atribua tudo a fenômenos naturais, alguns de fato inéditos.
O imprescindível planejamento urbano raramente desce de virtuosas Leis Orgânicas, Planos Diretores e Estatuto das Cidades para a vida.
Os insuficientes investimentos em macrodrenagens, contenções e programas habitacionais contrastam com os custos adicionais bilionários da reforma do recém-reformado Maracanã, por exemplo.
No plano global, as políticas contra o aquecimento, que implicariam em mudanças drásticas do modo de produzir e consumir, não avançam com a celeridade das crescentes oscilações climáticas.
O país emergente que celebra crescimento tem sua dimensão política soterrada pela avalanche do interesse menor, alimentado pela enchente do desinteresse coletivo.
A comovente e episódica onda de solidariedade não tem se transformado em torrente cidadã permanente.
Promessas de prevenção das autoridades vão embora com as águas de março ou fecham-se após as chuvas de abril.
Ocupar função pública, salvo exceções, não é mais missão de serviço e sim carreira promissora, inclusive com plano de vencimentos e oportunidades de negócios. Muitos no Executivo, no Legislativo e no Judiciário distanciam-se da sociedade, fechados em estamentos que se autorregulam e tornam-se espaço de interesses privados.
A moeda de troca nas alianças políticas é a distribuição de cargos e empenhos para consolidação dos "currais" modernos de legitimação pelo voto - até nos recursos para a Defesa Civil!
Foto: Corbis /Stock Phot Hannah Arendt (1906-1975) foi uma das principais pensadoras da política no século 20, mas sua obra inspira estudos em outras áreas, entre elas a educação |
Os palácios só costumam ter alguma conexão com as praças quando ocorrem tragédias ou nos períodos bienais de captação de votos. Hannah Arendt lembrava que "a sociedade burguesa, baseada na competição e no consumismo, gerou apatia e hostilidade em relação à vida pública, não somente entre os excluídos, mas também entre elementos da própria burguesia".
Desde os primórdios os povos enfrentam dois desafios: adequar-se à natureza, para não perecer, e limitar o poder, para as maiorias não serem escravizadas.
Caminhamos entre intenções cruzadistas e suas guerras nada santas, entre avanços tecnológicos que propiciariam o bem viver e relações de dominação que excluem amplos setores desses benefícios.
É imperativo o resgate da vida pública cooperativa, transparente, participativa. Res publica livre do interesse mercantil e/ou demagógico - inclusive em relação ao solo urbano.
As mortes que se repetem a cada ano nos interpelam de forma dramática.
(*)-Chico Alencar-é deputado federal (PSOL/RJ)
Fontes: O Globo e Camuflados - Imagens da Internet - fotoformatação (PVeiga)
Um comentário:
É no mínimo estranho esses políticos de esquerda radical, notadamente os do PSOL ficarem preocupados com a vida das pessoas. Não passa de pura demagogia, pois papel aceita tudo. A ideologia que esse partido defende promoveu o democídio de cem milhões de pessoas no século XX e eles acham que foi necessário em nome da causa. Argh !
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