sábado, 15 de janeiro de 2011

INSTITUTO DA HIPOCRISIA SOCIAL

Por Arlindo Montenegro
Charles François Dupuis
(26/10/1742 – 29/09/1809)


No número 1 da Rua Dupuis em Paris, está o Instituto da Hipocrisia Social. Filiais em Los Angeles, Edimburgo, Oslo e Berlim. Falta abrir a filial do Brasil, preferivelmente no Rio de Janeiro, que sempre concentrou a nata da intelectualidade brasileira vinda de todos os quadrantes da nação, engrossando o caldo de peculiaridades regionais, presentes naquilo que os acadêmicos rotulam de cultura nacional. Vivemos num tempo de aridez cultural funkeana! Um tempo carente de mentes livres, como Dupuis.

Uma cultura nacional, pressupõe uma Patria! Amor à Pátria! Defesa intransigente do nosso pedaço de chão, da nossa casa, dos nossos costumes e mais: um plano de construção, uma visão estratégica presente no dia a dia, na educação, na discurso "falado, escrito e televisado" de todos que se dedicam a "formar a opinião pública". Precisamos com urgência retomar as origens, honrando a natureza, o saber e a busca do saber, a livre realização de todas as faculdades, sem os sofismas que impedem o pensamento e a livre expressão.

O ser humano é muito mais que esta coisa que nos querem impingir como detentor de "direitos", como se fôssemos objetos subservientes de políticos, ministros, governantes que manipulam a boa fé. Cada um de nós é portador da vida e consequentemente senhor dos direitos inerentes à natureza. Esta coisa de direitos excepcionais para uns em detrimento dos direitos naturais dos outros, a invasão dos lares e imposição de normas aos pais para a educação dos filhos que geraram e alimentam é pura violência.

Quando a gente mergulha no conhecimento do passado, encontra o registro nas paredes das cavernas, nos papiros, gravações em pedras documentando sentimentos e emoções humanas, observação da natureza e certeza da presença de uma inteligência universal, uma ordem que inclui chuvas e sol ardente, raios e trovões, terremotos e vulcões, amor e desamor. Aqueles documentos revelam os trabalhos hercúleos para a sobrevivência em harmonia com o hatitat, usos e costumes, comportamento das gentes.

Nos documentos mais antigos, a.C, encontram-se nos fundamentos religiosos de hindus, egípcios e muitos outros, o registro de narrativas semelhantes às que foram escolhidas para compor a Biblia cristã, tal como a conhecemos. As ultimas mudanças e adaptações foram feitas séculos depois do início da era cristã, após a queda do império romano. É notável que, em todas as épocas, os reis e líderes militares tenderam a ultrapassaram suas prerrogativas, para controlar e explorar o trabalho das populações.

Das muitas faculdades "extintas" pelas leis, subsiste uma, persistente, incômoda, mas como diz Olavo de Carvalho, ausente no espaço intelectual do Brasil: a curiosidade de saber, que exige o aprendizado de exercitar o pensamento. Há mais de meio século ainda existiam debates entre racionalistas ateus, materialistas e teistas, todos conscios de suas verdades e cada um respeitando o espaço do outro. Nas últimas gerações iniciou-se um mergulho profundo no obscurantismo. Salvaram-se poucos. Os exemplos morais e éticos sumiram.

A hipocrisia social instalou-se entre nós. O colonialismo reservou para adestrar nossos "pensadores" e reproduzir na formação de crianças e jovens, a fração mais retrógrada das metodologias educacionais. Alguns "peritos" tomaram parcos e ligeiros resumos ideológicos, para implantar nas mentes imaturas a semente de dogmas, seitas fanáticas e anarquismo existencial, como se todas as áreas do saber estivessem sintetizadas em medrosas meia verdades, que escondem a verdadeira natureza da gente que os poderosos temem: a busca da liberdade no saber.

Voltamos à Rua Dupuis em Paris. Charles-François Dupuis, nasceu em 1742. Estudou retórica, direito e matemática. Da sua biografia consta a invenção do aparelho que antecedeu o telégrafo. Mestre no Colégio de França, foi eleito para a Academia de Letras. Horrorizado com a carnificina da revolução, retirou-se de Paris, regressando como um dos eleitos à Assembléia Nacional, integrando o Conselho dos 500. O que o distingue como pensador e Mestre é sua obra ( Abrégé de l'origine de tous les cultes) – Resumo da origem de todas as religiões. Eis um trecho:

"Qualquer coisa que possa produzir a ilusão, todos os recursos da mecânica e da magia, que era o conhecimento secreto dos efeitos da natureza e da arte de imitá-los; a pompa brilhante das festas, a variedade e a riqueza das decorações e roupas, a majestade do cerimonial, a força da encantadora música, coros, cantos, danças ao som de címbalos sonoros, destinados a despertar o entusiasmo e delírio, são mais favoráveis aos impulsos religiosos, que a calma da razão. Tudo foi empregado para atrair e unir as pessoas para a celebração dos mistérios. Na isca do prazer, alegria e festejos, muitas vezes está oculto o propósito de passar lições úteis e tratar o povo como uma criança, que sem instrução, só pensa em se divertir. É através das grandes instituições que buscamos formar a moral pública e as muitas reuniões pareciam adequadas para atingir este objetivo. "

Do texto grifado se depreende que as nossas instituições, sem excessão, a serviço do estado, tratam a nação com a mesma receita racionalmente descrita por Dupuis, há mais de 200 anos. O mesmo pão e circo dos romanos, aplicado à formação de grupos e seitas ideológicas dificultando a observação e a reflexão. A percepção natural da presença de Deus, Inteligência do Universo, usurpada por falsos condutores na rota contrária à liberdade.

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