Na solidão a luz que não pode se apagar é o brilho de quem está só - (Gudé).
Por José Eugênio Maciel
“Do negro livre, do negro artista, pouco se conhece”.
Sociólogo Diegues Júnior
Abdias do Nascimento não aceitava, não se conformava ser, mas não poder ser. Lutou para poder ser, brava, corajosa, lúcida e exemplarmente. A morte dele, aos 97 anos, ocorrida no último dia 24, tem um grande significado que certamente transcende os limites da vida quase centenária. Abdias viveu intensamente a luta pelas causas e sonhos com indômita bravura, discernimento e determinação.
Tornou-se um dos mais expressivos líderes ativistas em favor de uma sociedade brasileira fraterna, igualitária e que respeitasse a enorme e rica diversidade cultural. As origens familiares como o de ser descendente de escravos, o levaram a publicar muitos livros em que colocava a reflexão crítica do negro no Brasil. Em O negro Revoltado, ou em Orixás: deuses vivos da África são alguns dos muitos livros que publicou, fruto da militância e do estudo histórico-cultural que tinha como matriz a sua formação de professor, tanto é assim que, entre outros cargos e funções de destaque, foi professor benemérito da Universidade do Estado de Nova Iorque.
Poeta, ator, foi também político, exercendo as funções parlamentares como deputado federal e senador representante do Rio de Janeiro. O exílio iniciado em 1968 e que durou dez anos, imposição da ditadura militar, não o afastou do Brasil, o fez mais aguerrido no seu retorno.
Sem desmerecer a questão ideológica racial, tanto atual quanto histórica, Abdias era muito pontual e prático no cotidiano nas suas lutas, como na fundação do TEN – Teatro Experimental do Negro e na criação do 20 de novembro (2006) oficialmente como o dia da consciência negra (em São Paulo).
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