sexta-feira, 20 de maio de 2011

A VISTA DA PRAIA

Por João Bosco Leal

Uma propaganda de whisky divulgada atualmente, mostra uma frase de seu protagonista, o navegador Amyr Klink, que diz: "Quanto mais mares você atravessa, mais bonita é a vista da praia".

Em meus pensamentos, comecei a velejar como Amyr, por diversas situações da vida, e perceber como é real o que ele sintetiza nessa única frase, pois não me lembro de uma única saída do porto, cujo retorno não foi maravilhoso.

A vida nos apresenta infinitos tipos de partidas, físicas ou mentais, e igual número de retornos, muito mais emocionantes que as partidas. Nossa primeira saída da casa de nossos pais, aquela para dormir na casa de um amiguinho, era muito aguardada, uma aventura e tanto, mas o retorno certamente foi melhor.

Em busca de uma melhor formação, partimos para outras cidades, moramos com amigos, em repúblicas, pensionatos, kitchnetes, ou mesmo em apartamentos alugados ou próprios. Mas nada era igual à casa de nossos pais, para onde voltávamos nas férias. Nossa cama, nossos pais e avós, os irmãos, os amigos e as antigas namoradas, nos proporcionavam sentimentos inigualáveis, muito mais intensos do que a vontade de morar só, de ser dono do próprio tempo.

Mesmo os reencontros virtuais, hoje possíveis pelas redes sociais, são muito gratificantes. Por eles sabemos de amigos que se distanciaram por motivos diversos, moram em cidades, estados e até em países diferentes, concluíram ou não seus estudos, se casaram, tiveram filhos e hoje já são avós.

E mesmo com toda essa distância, muitos desses amigos são agora capazes de postar fotos de nossa infância, juventude, bagunças, das famílias que constituíram, dos casamentos que não tiveram continuidade, dos novos relacionamentos, enfim, de nossas vidas, passadas e atuais.

Essas fotos são capazes de nos proporcionar sentimentos maravilhosos, lembranças, amizade e carinho por pessoas sobre as quais não possuíamos mais nenhuma informação.

As dificuldades ultrapassadas durante a vida sejam elas físicas ou emocionais, também nos proporcionam sentimentos de alegria quando são solucionadas. Problemas que parecem insolúveis acabam sendo resolvidos, de uma ou de outra forma, mais ou menos satisfatória, mas são solucionados, e também nos proporcionam outro tipo de sentimento, o da tranquilidade.

A mesma tranquilidade sentida pelo navegador em alto mar, quando acaba a tempestade que o deixara ansioso, ou quando encontra uma ilha onde poderá se reabastecer de mantimentos e água potável. Ao partir, ele pensava levar os suprimentos suficientes para sua viagem, mas a tempestade enfrentada desviou e aumentou seu curso. Qualquer reabastecimento lhe dará as condições necessárias para continuar sua viagem com maior sentimento de paz, tranquilidade.

Se não houvessem as dificuldades, as tristezas e os afastamentos, não ocorreriam as soluções, as alegrias e os reencontros, que tanto nos alegram, e estimulam a continuar remando, navegando, no mar da vida.

A vida necessita sempre ser reabastecida de sentimentos alegres, que não poderiam existir sem a partida anterior, a ausência, e agora o reencontro, a nova e maravilhosa visão da praia, para aquele que estava no mar.

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