domingo, 22 de maio de 2011

O VALDIR ERA UMA PEDRINHA

Horas que parecem nunca chegar são as mesmas a irem embora rapidamente sem se despedir - (Gudé)

Por José Eugênio Maciel

“O teatro é um templo, onde o palco é o altar e o ator é o sacerdote.

E a arte é referenciada através do aplauso dos fiéis espectadores”

Dilson de Oliveira Nunes

“Não me espere para jantar”,
direção de Fernando Nunes e foi
concebido com Valdir Rocha, ator
que durante 60 minutos faz a
interpretação de um solo-monólogo
que mistura dança contemporânea e
teatro físico, traçando uma poesia
lírica sobre a morte
(do Portal Rádio Rural)

Domingo passado o Teatro Municipal recebeu um grande público que trazia consigo a certeza que assistiria a um espetáculo de grande produção nascida da própria arte que pulsa vibrantemente em Campo Mourão. A Companhia Verve se tornou de há muito sinônimo de qualidade cênica, marca do nosso teatro, da nossa cidade e referência Brasil afora.

Não me espere para jantar encantou o público, a plateia acompanhou vidrada a toda a peça, alternando risadas e silêncio. Não é surpresa mais, porém é preciso fazer o registro, Valdir Rocha, mostrou mais uma vez o quanto ele é um dos grandes nomes da dramaturgia. Integrado ao cenário mórbido ao mesmo tempo lírico e risonho, ele interpreta com a mais elevada condição do artista personagem na sublime expressão mambembe. Trajes de um “morto/vivo”, dialogando consigo numa espécie de ego diante do espelho da alma, caminha pelo palco com uma leveza cambaleante, passos trôpegos que fazem lembrar a genialidade do cinema mudo, do Carlitos, eterno vagabundo do bem, magistralmente encenado pelo inesquecível Charles Chaplin.

As músicas, perfeitamente harmonizadas com o cenário e o personagem bêbedo, foram cuidadosamente escolhidas, e merece destaque a voz envolta da boemia de Vicente Celestino ou no tango sempre mítico do argentino Carlos Gardel.

"Não me Espere Para Jantar":
espetáculo de dança da Companhia
Verve, de Campo Mourão
foto: Divulgação

O público espontaneamente aplaudiu e levantou, demorada e prazerosamente expressando o seu contentamento. Terminada a apresentação e ao agradecer a todos, o Valdir agora era “outro”, humilde, atencioso, generoso e mesmo tímido, não parecendo por vezes aquele que há instantes encenava com singular competência e vívida paixão. Lembro do Valdir Rocha iniciando a vida teatral, dedicado, atento aos detalhes, sempre disposto a aprender. O Valdir que se tornou desde cedo ator profissional, servindo de exemplo em dois sentidos, o que pratica e o que conhece profundamente a teoria, o ator pela consagração do público e o ator diplomado. Conservando a alma de menino, o Valdir já foi pedrinha, virou rocha, é nome consagrado.

A Verve não poderia ter feito melhor estreia, o Valdir teve a certeza ante a enorme recepção mourãoense, que o espetáculo irá ter em outros palcos grande acolhida, a altura de merecer o reconhecimento do público e o respeito da crítica, fruto do extraordinário brilho próprio do Valdir Rocha, que é também exemplo de caráter, inteligência, formação cultural erudita, popular ou de massa, teatralizada com a forma do real posto no palco com o brilho das luzes, brilho também daquilo que ele faz bem feito, o amor à arte.

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