segunda-feira, 30 de maio de 2011

DESGOVERNANDO COM DORIAN GRAY

"Qualquer um pode ser bom no campo. Lá não há tentações. É por isso que as pessoas que não vivem na cidade são tão terrivelmente bárbaras. A civilização não é de modo nenhum uma coisa fácil de atingir. Há duas maneiras de um homem a alcançar. Uma é pela cultura e outra é pela corrupção. As pessoas do campo não têm qualquer oportunidade de praticar nenhuma delas e, por conseguinte, estagnam."

(Lord Henry, em O Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde)

Dorian Gray era um jovem aristocrata inglês, dono de uma rara beleza, que acaba por torná-lo modelo de um quadro do pintor Basil Hallward. O artista desenvolve uma paixão por Dorian, e expressa tanto de si e de seus sentimentos no quadro, que se recusa a expô-lo, e o dá de presente a Dorian. Através de Basil, Dorian conhece Lord Henry Wotton, um aristocrata tipicamente hedonista, que o seduz para sua visão de mundo. Dorian vai se tornando cada vez mais egoísta, devasso, amoral. Perde qualquer valor de caráter em nome do culto à beleza e dos prazeres da vida. Quando Basil termina o seu retrato e Dorian o vê, exaspera-se, desejando não perder a juventude e a beleza que está imortalizada no quadro, e que o tempo irá lhe tomar. Seu apego pela aparência é tamanho que ele daria até sua alma, para mantê-la, conforme retratado. É o que acontece. Seu duplo, no quadro, não só envelhece em seu lugar, como também expõe, de forma bizarra, a sua vida, que a partir de vários acontecimentos, torna-se corrompida pela devassidão. Depois de conhecer e se apaixonar por uma jovem atriz, o fim trágico desse romance o leva a perceber as alterações em seu quadro, e que seu desejo se realizou. E se inicia a gradual destruição da figura no quadro, a figura representativa da alma de Dorian Gray, que a cada dia se perde ainda mais no abismo.

Todas as transformações de caráter que Dorian sofre, são por obra e graça da influência de Lord Henry, cínico, libertino, preconceituoso, materialista. Da boca de Henry saem grandes discursos sobre o fim da vida e a degradação do que ele defende como mais precioso: juventude e beleza. Lord Henry é um corruptor. Ele faz, inclusive, a defesa da corrupção como se fosse um bem, um valor moral imprescindível para a civilização (destaque no início do post). Lembrar-me disso é que me fez relacionar O Retrato de Dorian Gray, escrito por Oscar Wilde no século 19, ao cenário também bizarro que se descortina neste país, desgovernado pelo PT.

Noves-fora o forte apelo estético, necessário ao enredo do livro, e obviamente totalmente ausente da República da Idade das Trevas, onde o oposto da beleza é que reina, o mundo de Dorian, Basil e Henry é o pensamento encarnado do mundo esquerdistamente petista que nos desgoverna. É um mundo obscuro, onde pecados são esquecidos apenas quando outros ainda maiores são cometidos. E para que aqueles novos grandes pecados sejam esquecidos, é preciso cometer outros. O bem e o mal são até discutidos, mas são interpretados de forma distinta, logicamente, de acordo com o que interessa ao grupo. Assim como Dorian transformado pelo hedonismo de Henry, as cavalgaduras que nos desgovernam têm o toque de Midas ao contrário. Tudo o que tocam, é degradado. E cito BSchopenhauer, que sempre se refere ao desgoverno como tendo "o dedo podre".

Tudo pode, tudo se faz, tudo é permitido. Tudo é desejado e aplaudido. É a personificação da ânsia pelo poder, dinheiro, controle, vaidade, domínio. E o pior: da eternização de tudo isso. O desejo maior dessa gente é a eternidade no poder, assim como reza a ideologia de qualquer ditadura.

O Retrato de Dorian Gray tem um final trágico. O final destepaís que o PT fez surgir no lugar do Brasil, também não vejo que será outro. A influência do entranhamento do tal pensamento totalitário nas instituições e até na vida privada da maioria da "gente despensante" será irreversível, já que, assim como no livro, cá na atual cena tupiniquim "o indivíduo deixa de pensar com os seus próprios pensamentos ou de arder com as suas próprias paixões. As suas virtudes não lhe são naturais. Os seus pecados, se é que existe tal coisa, são tomados de empréstimo. Torna-se o eco de uma música alheia, o ator de um papel que não foi escrito para ele."

Fonte: Veneno Veludo.

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