Você sabe o que é DECUPAR? Decupar é dividir (um roteiro) em planos numerados, com as indicações dramáticas e técnicas necessárias à filmagem ou à gravação das cenas.
Vamos então decupar essa matéria da jornalista Vera Rosa, de O Estado de S. Paulo, com o título "Desgastada com ação de Lula, Dilma chama base e põe à prova poder político".
Abertura em plano geral do interior da Câmara no dia da votação do Código Florestal. Deputados se confraternizando em contraponto ao placar eletrônico que mostra 410 x 63 e 273 x 182. Situação é vista em slow motion.
CENA 01: Sem conseguir resolver o apagão na articulação política do Palácio do Planalto, a presidente Dilma Rousseff comandará uma série de reuniões, a partir desta semana, na tentativa de provar que o governo não está paralisado pela crise envolvendo o ministro da Casa Civil, Antonio Palocci. Dilma não gostou da repercussão do "socorro" do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e quer mostrar que não é teleguiada.
INDICATIVO: Esta cena irá exigir muita competência da direção que deverá mostrar cenas impactantes com o objetivo de dar veracidade aos fatos, sob pena de comprometer toda edição.
CENA 02: Apesar de acatar os conselhos de Lula, que assumiu as rédeas políticas do governo após o desastrado telefonema no qual Palocci ameaçou o vice-presidente, Michel Temer, com a demissão de ministros do PMDB, Dilma avalia que a entrada do antecessor em cena foi usada pela oposição para desqualificá-la. Ficou contrariada com comentários sobre a anemia de sua equipe e está disposta a sair da defensiva.
INDICATIVO: Este é um ponto conflitante para o diretor, pois fica difícil descaracterizar que a atual presidenta é apenas uma marionete do ex-presidente que também não deixa de ser uma marionete. Usar cenas em fusão mostrando as personagens citadas sorrindo.
CENA 03: Na terça-feira, após voltar de uma viagem ao Uruguai, Dilma terá conversa reservada com Temer, antes de dirigir uma reunião com governadores e prefeitos de capitais que serão sede da Copa de 2014. Na manhã deste sábado, 28, pela primeira vez desde o início da ruidosa crise, ela telefonou para o vice e procurou superar o mal-estar dos últimos dias.
"Nós dois, juntos, vamos pacificar o PMDB", disse Dilma. "É hora de virar essa página e seguir em frente." Na quarta, a presidente almoçará com senadores peemedebistas, em mais uma tentativa de evitar nova rebelião de sua base no Congresso. No mesmo dia está previsto um encontro com o Conselho Político, que abriga presidentes de partidos aliados e só se reuniu uma única vez até agora. O lançamento do programa Brasil sem Miséria, vendido como vitrine social, foi marcado para quinta-feira.
INDICATIVO: Cena em super close de Dilma e de Temer. Câmera deverá captar as caras "sem expressão" de Dilma e Temer como se o diálogo fosse:
- Você acha que vai chover hoje?
- Não sei. Mas, eu trouxe meu guarda-chuva.
CENA 04: Para conter as dissidências no PMDB, Dilma receberá muito mais senadores do partido, nos próximos dias, do que aquele que recebeu em cinco meses de governo. No Palácio do Jaburu, Temer promoverá reunião preparatória com eles amanhã, para tratar das fraturas na coalizão. Será uma espécie de divã.
INDICATIVO: Detalhes da reunião no Palácio do Jaburu entre Temer e os Senadores do PMDB. Destacar diálogo entre um dos senadores presentes e o Temer.
Senador pede a palavra e diz:
- Finalmente, vamos tratar das faturas da coalizão.
Ao que Temer responde:
- Não são as faturas da colisão e sim fraturas da coalizão.
Gargalhadas geral.
CENA 05: O auge da crise com o PMDB ocorreu quando Palocci – alvejado por denúncias de enriquecimento vertiginoso quando era deputado federal – passou a mão no telefone e ligou para Temer, a mando de Dilma, na madrugada de segunda-feira.
O clima era tenso. Acuado, Palocci foi direto ao assunto. Sem cerimônia, avisou que os ministros do PMDB seriam demitidos se o partido aprovasse emenda ao Código Florestal concedendo anistia a desmatadores até 2008. Não foi só: no bate-boca, o chefe da Casa Civil disse que a degola começaria pelo ministro da Agricultura, Wagner Rossi, indicado por Temer.
"Se é assim, é melhor o PMDB entregar todos os cargos", reagiu, irritado, o vice-presidente. "Mas vocês são ou não são governo?", provocou o chefe da Casa Civil. O PMDB contrariou Dilma na votação da Câmara e, a partir daí, a relação com o partido azedou, deflagrando-se a guerra.
INDICATIVO: Câmera fechada em telefone de mesa de cabeceira. Em zoom in vai revelando a intimidade do vice-presidente da República que ronca muito ao lado de sua bela mulher. Ao som da campainha insistente do telefone ela acorda e diz:
- Amorzinho, acorda, atende o telefone.
- O que? Quem será uma hora dessas?
Após reproduzir o áspero diálogo entre Temer e Palocci que se passa na cena 05, câmera fecha em Temer que impávido como sempre diz:
- Ora, Palocci, vá plantar batata. Nenhum homem de cuecas vai dizer para mim que vai demitir meus ministros.
E Palocci incisivo:
- Ué, como é que você sabe que estou de cuecas?
- Toda Brasília sabe que você só dorme de cuecas e de que eu sou pijamão.
CENA 06: Palocci pediu desculpas para Temer e no sábado ligou novamente para ele, antes de Dilma. A temperatura da crise estava tão alta que, no Planalto, ninguém sabia como seria o encontro entre Dilma e Temer, amanhã, na base aérea, antes da partida dela para o Uruguai. Por causa da viagem, o vice assumirá a Presidência por um dia. A ligação de Dilma fez diminuir um pouco a tensão.
INDICATIVO: Mostrar Dilma e Temer rindo - o que não é fácil - com a história das cuecas e do pijamão.
CENA 07: O telefonema de Palocci a Temer foi visto até no PT como mais um sinal de amadorismo do Planalto. Com Palocci nas cordas e o ministro das Relações Institucionais, Luiz Sérgio, cada vez mais enfraquecido, Carvalho ocupou o vazio político. Orientado por Lula, de quem foi chefe de gabinete, ele reforçou a ofensiva para barrar a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) destinada a investigar a evolução do patrimônio de Palocci. Conversou com a bancada evangélica e percebeu que havia clima propício para a instalação da CPI no Senado, caso o governo não suspendesse a distribuição do kit contra a homofobia em escolas públicas.
INDICATIVO: É importante mostrar a cena do deputado Garotinho na noite de votação do Código Florestal quando ele denunciou o desrespeito do ministro da Educação com a Câmara. Garotinho afirmou várias vezes que o ministro havia mentido e zombado dos deputados sobre a questão da distribuição do KIt Gay. Corta para cena dos parlamentares apostólicos já com o ministro Carvalho negociando a retirada do Kit Gay em troca da barração da CPI pra investigar Palocci. O diabo age errado por linhas certas.
CENA 08: ‘Não vou, não vou’. Deputados e senadores da base aliada, porém, avaliam que nenhum contra-ataque reverterá o encrencado jogo do governo se Dilma não escolher um interlocutor com autonomia para negociar com o Congresso. E, pior, se ela prosseguir com a tática do confronto com o PMDB.
"Eu não vou misturar votação de Código Florestal, que ainda passará pelo Senado, com distribuição de cargos. Não vou, não vou e não vou", esbravejou Dilma, em almoço com a bancada do PT no Senado, na quinta-feira, quando questionada sobre a montagem do segundo escalão.
INDICATIVO: Muito se fala sobre o humor presidencial. Temos aí a chance de filmar este ato para exibição em rede nacional. Vamos levar cinco câmeras, sendo uma delas de super slow motion, em big close mostrando a baba da raiva presidencial. Mostrar a presidenta esperneando, gritando, com eco "Não vou, não voooooooooou", corte para super slow motion da baba, detalhes do pé batendo firme, mão batendo na mesa, socos no ar, reação geral dos presentes, uns atrás das cadeiras, outros debaixo da mesa, pânico geral.
CENA 09: Além de Dilma não ter dado brecha para os petistas reclamarem sobre a falta de diálogo, todos ficaram perplexos com o que ouviram. Quando o líder do PT, Humberto Costa (PE), disse que o PMDB apoiava relatório de Aécio Neves (PSDB) para mudar a tramitação das medidas provisórias, Dilma não se conteve.
"Querem mudar isso justamente agora?", protestou ela, desautorizando acordo firmado por Jucá, líder do governo, com a oposição. "Não vou aceitar. Não se governa o Brasil sem Medida Provisória." Em seguida, virou-se para Palocci e perguntou, na lata: "Você sabia disso?"
A resposta do ministro foi sintomática. "Esse assunto eu desconheço. A Casa Civil trata de questões plurais", respondeu Palocci. Dilma dirigiu a mesma interrogação a Luiz Sérgio, chamado nos bastidores de "garçom" do Planalto por carregar a bandeja de pedidos de deputados e senadores, sem nunca decidir nada. Consta que ele não disse nem sim nem não.
INDICATIVO: Esta cena vai exigir uma iluminação especial para uma seqüência de big closes começando com o líder do PT, Humberto Costa e vai fazendo contraponto de cenas de Dilma com Romero Jucá, Palocci, Luiz Sérgio e fecha com Dilma indo para fusão de fundo preto e entra o letter: fade.
Detalhe: direção deve captar, nesta cena, a cara de pompa lesa de cada um. Pompa lesa é o Carinha que é todo abestado, só fala besteira, pra tudo tem uma resposta que não tem nada com nada. Esse cara é todo pomba lesa
NÃO SE ASSUSTEM. ESTE É O BRASIL DO PT.
NE. Em "CENA" está o texto da jornalista do Estadão e em “INDICATIVO" o texto deste editor (Blog do Lúcio Neto).
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