Por Norton Morais
Senhora, bom dia... Por acaso conhece a rua tal... Perguntava eu procurando um endereço em uma nova cidade no meu trabalho.
A quem eu perguntava aparentava ter uns 60 anos, quem sabe muito mais ou muito menos...
Caminhava na rua do nosso Brasil interiorano com um carrinho cheio de material reciclado que provavelmente iria vender ao próximo ferro-velho que encontrasse sobras da máquina de consumo desenfreado das grandes capitais, de produtos que ela não participa e nem consegue consumir, tinha os olhos marcados de uma tristeza profunda, ao falar a sua boca seca do esforço árduo, denunciava alem da sede a ausência de alimento quem sabe da parte da manhã ou de um tempo maior, levando em consideração seu corpo franzino e da aparência esquelética, percebi que os problemas de um Brasil obeso não passam em sua porta e nem em seu prato de comida, o carrinho velho de madeira demonstrava na aparência que seguia fiel a sua dona nos sofrimentos das intempéries do clima, de sol a sol, a impressão dessa velha senhora e do seu carrinho de madeira é que nenhum dos dois suportaria a quantidade de material a ser levado. Mas com a minha pergunta ela parou... cansaço em seu rosto, suor em sua testa, um largo sorriso, uma voz fraca e numa docilidade contagiante largou o seu trabalho e veio em minha direção e no seu jeito simples de ser, explicava com gestos e palavras onde eu estava e onde poderia encontrar a rua que eu procurava, não só falava ou gesticulava, andava de um lado para o outro enquanto tentava me mostrar andando e tentando atingir com a vista onde eu deveria ir, eu acompanhava de um lado pra outro também vendo o esforço de me ajudar que ela fazia, faltava vocabulário, mas sobrava desprendimento, desprendimento e ajuda á alguém que não participava de seu mundo e da rudeza de sua vida, que não empurrava um carrinho muito mais pesado que seu próprio corpo... mas ela insistia em ajudar, falava e gesticulava sem parar... mesmo após dizer que eu compreendia e com um sentimento que fazia cada vez mais minúsculo as minhas preocupações pessoais e momentâneas, estava ali ao lado dela respirando e entendendo o seu mundo... como ela interagia com o meu... mundos tão distantes agora unidos, não por mim mas pela abnegação total de alguém que mesmo nada tendo tinha muito a oferecer a quem naquele momento tinha tudo ofertado de quem poderíamos pensar que não tinha nada, mas ofereceu tudo que possuía.
Agradecimentos... foi tão pouco... sorrisos... e naquele momento vi que ela fazia parte do todo a quem eu também pertenço, partículas de um mesmo universo que a vida dividiu e as injustiças criadas por nós gerou um abismo profundo.
Separou, mas que o desprendimento de uma senhora uniu, e continuou em sua jornada de esforço sem ver que tinha aquecido um coração de amor e de valiosas lições, lições que a minha alma reconhece e procura... obrigado...
Obrigado a minha irmã do caminho, que mostrou em uma manhã banhada de sol que a alma se reveste de frágil para esconder um espírito muito forte.
Uma semana maravilhosa a todos vocês.
Com carinho.
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