sábado, 21 de julho de 2012
A PÁTRIA DA IMBECILIDADE
Dante Alighieri (1265-1321) e Monteiro Lobato (1882-1948) estão separados por quase sete séculos. Porém, duas características unem o mestre florentino e o escritor de Taubaté: o fato de serem grandes literatos e a boçalidade com que suas obras foram e são tratadas por pretensos paladinos e guardiães da moral moderna.
Em outubro de 2010, um parecer do Conselho Nacional de Educação recomendou que “Caçadas de Pedrinho” — obra de Monteiro Lobato — fosse retirada da lista de livros indicados para o ensino público por conter trechos “racistas”. Isso porque no livro já há uma nota que diz que “a aventura ocorreu em tempos que os animais silvestres não eram protegidos pelo Ibama e a onça-pintada não estava em extinção”, o popular “explicar a piada”. Depois da celeuma causada na mídia, o parecer foi revisto e o quase veto foi retificado.
Agora, leio no site da revista Cult que uma ONG italiana quer banir a “Divina Comédia” (escrita por volta de 1307), de Dante Alighieri, por “racismo e discriminação contra homossexuais e muçulmanos”.
O que faltou nos dois casos foi: 1) obras antigas não podem ser lidas com (pré-) conceitos de hoje. Retumba em irremediável anacronia, tanto em Lobato, quanto em Alighieri; 2) veto ou banimento de livros é algo que ofende o cidadão: é chamá-lo de inapto, qualificá-lo como alguém que não tem discernimento e depende do Estado para tal.
Burocratas e ongueiros, no afã de “libertar-nos”, cometem os mais vis atentados à cultura, à Educação e à inteligência. Os brasileiros somos iconoclastas e avessos à leitura, é notório; mas o caso italiano mostra que a imbecilidade não tem pátria.(in-Tribuna Impressa de Araraquara).
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