segunda-feira, 30 de julho de 2012

BAFO DE ONÇA


A onça é um animal carnívoro, palavra que vem do latim carne , mais vorare, cujo significado é devorar. Ela se alimenta basicamente de herbívoros como capivaras, antas, veados, coelhos e outros animais de pequeno porte, e para isso a natureza lhe concedeu os dentes e garras afiadas com que consegue rasgar e triturar com facilidade os tecidos das presas que captura. Mas também come peixes que é capaz de “pescar?” até com certa facilidade, pois é excelente nadadora.
Segundo explicação dada pela revista Superinteressante em sua edição de abril/2005, normalmente a onça só come o animal que abate, não sendo comum ela se alimentar de bichos que morreram de causas naturais. “A pintada não precisa se preocupar em defender a carcaça de sua presa, porque não há nenhum outro competidor com ela em seu hábitat”, diz Carlos C. Alberts. Vem daí a famosa expressão popular que diz respeito a seu hálito. O felino nem sempre tem um bafo de onça, mas, quando caça animais grandes, pode se alimentar de determinada carcaça por alguns dias. Acontece que a carne em florestas tropicais apodrece logo por causa da umidade, e sendo assim, não tem quem aguente o odor exalado pela boca do felino. Nem quem é amigo da onça. 
Surgiu daí a expressão “bafo de onça”, aproveitada para qualificar o mau hálito, ou halitose, de muita gente que anda por aí com um sorriso no rosto, mas atormentando o olfato dos que não têm como escapulir de uma conversa a dois com esses indivíduos. Segundo o Portal ABC da Saúde, esse cheiro ruim consiste nos odores desagradáveis oriundos da cavidade bucal ou através da respiração. Desde que o mundo é mundo as pessoas se queixam desse problema. Há uns 3,5 mil anos, o médico grego Hipócrates já prescrevia um bochecho de vinho com ervas aromáticas para melhorar o hálito, e um jovem fabricante de cosméticos, na velha Roma, ficou riquíssimo quando inventou e começou a produzir essência de hortelã para melhorar o hálito.
Mas 90% desse "bafo repulsivo" que muita gente tem, procede dos resíduos alimentares daquilo que comemos durante o dia, sem que tenhamos acesso ou tempo para escovar os dentes após cada refeição. Minúsculas partículas de comida são acolhidas no intervalo dos dentes, das pontes ou dentaduras que usamos, provocando o que chamamos de “bafo de onça.” Mas ao contrário dos homens, a onça, coitada, não tem como se livrar disso.
A halitose é um sinal de que algo no organismo está em desequilíbrio e deve ser identificado e tratado. Existem mais de 50 causas e, que em aproximadamente 90% dos casos, se manifestam na boca. Podem ser de origem fisiológica (hálito da manhã, jejum prolongado, dietas inadequadas), razões locais (higiene bucal deficiente, placas bacterianas retidas na língua - saburra - e/ou amídalas, baixa produção de saliva, doenças da gengiva) ou mesmo razões sistêmicas (diabetes, problemas renais ou hepáticos, prisão de ventre e outros).
Mas além desses casos, os que costumam beber além da conta também têm seu hálito apelidado dessa forma, ou seja, depois de uma bebedeira, o ar exalado pelo pinguço é chamado de bafo de onça. E a curiosidade é que isso virou nome de bloco carnavalesco. Quem conta essa história é Márcio Cotrim, autor de vários livros.
Diz ele que “no dia 12 de dezembro de 1956, dentro de um boteco no bairro carioca do Catumbi, Sebastião Maria, carpinteiro e policial militar, idealizou o bloco. Conhecido como Tião Carpinteiro, ele tinha o hábito de formar o bloco do "eu sozinho", saindo fantasiado de onça pelas ruas e continuando bem bebido até a Quarta-Feira de Cinzas. No dia da fundação do bloco, todos os seus integrantes saíram bêbados efantasiados de onça em homenagem a seu
 fundador   e  à sua emanação odorífera. O samba que dá nome ao bloco, composto por Osvaldo Nunes, tornou-se êxito carnavalesco e até hoje é cantado assim: "Nessa onda que eu vou/ olha a onda iaiá/ é o Bafo de Onça/ que acabou de chegar/ olha a rapaziada/ vem dizendo no pé/ as cabrochas gingando,oba!/ e como tem mulher/ olha a empolgação, oba/ esse é o bafo da onça/ que eu trago guardado/ no meu coração/ é o bom, é o bom, é o bom ...”
Por carta ou e-mail, através do serviço SOS Mau Hálito, a Associação Brasileira de Halitose (ABHA) avisa à pessoa que tem esse problema, mas sem identificar o autor do pedido, que é para evitar constrangimentos. Na mensagem enviada, a associação esclarece o que é halitose, fala das causas do problema, dá dicas de como eliminar o mau hálito e mostra uma lista de profissionais credenciados pela ABHA. O texto explica que a halitose (nome científico do mau hálito) não é uma doença, e sim um sintoma de que algo não vai bem no organismo. “A halitose nem sempre é sinônimo de uma má-higiene, podendo ser causada por inúmeros outros motivos”, diz a mensagem da ABHA.
FERNANDO KITZINGER DANNEMANN

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