quarta-feira, 25 de julho de 2012
AMIGOS DE ONTEM, DE HOJE, DE SEMPRE
Hiram Reis e Silva, Bagé, RS, 24 de julho de 2012.
Bons Amigos
(Machado de Assis)
Abençoados os que possuem amigos, os que os têm sem pedir.
Porque amigo não se pede, não se compra, nem se vende.
Amigo a gente sente!
Benditos os que sofrem por amigos, os que falam com o olhar.
Porque amigo não se cala, não questiona, nem se rende.
Amigo a gente entende!
Benditos os que guardam amigos, os que entregam o ombro pra chorar.
Porque amigo sofre e chora.
Amigo não tem hora pra consolar!
Benditos sejam os amigos que acreditam na tua verdade ou te apontam a realidade.
Porque amigo é a direção.
Amigo é a base quando falta o chão!
Benditos sejam todos os amigos de raízes, verdadeiros.
Porque amigos são herdeiros da real sagacidade.
Ter amigos é a melhor cumplicidade!
Há pessoas que choram por saber que as rosas têm espinho,
Há outras que sorriem por saber que os espinhos têm rosas!
Graças ao apoio de meus filhos, vim para Bagé com o objetivo de concluir o livro “Desafiando o Rio-mar, Descendo o Rio Madeira”. Hospedado na casa da Rosângela tenho, há mais de duas semanas, trabalhado diuturnamente mais de dez horas por dia, nos detalhes que deixei escapar nos artigos que escrevi durante a descida em dezembro de 2011 e janeiro deste ano, na redação das entrevistas gravadas “in loco” e pesquisas em livros e documentos coletados graças ao apoio de amigos.
Com a conclusão do “Rio Madeira” poderei me lançar, de corpo e alma, nas pesquisas físicas e históricas do “Rio Juruá”, o mais sinuoso dos Rios do Planeta e um dos dez maiores em extensão, nosso próximo Desafio. Navegaremos o Juruá a bordo do formidável caiaque “Cabo Horn”, desde a Foz do Breu, nas fronteiras do Peru, perlustraremos seus afluentes convivendo com a população ribeirinha, verificando suas condições de
navegabilidade, necessidades portuárias, corrigindo cartas e mapas, penetraremos no Solimões, nosso velho conhecido, dos idos de 2008-2009 e concluiremos a missão em Manaus. O Desafio, proposto pelo Comando Militar da Amazônia foi imediatamente aceito e conseguimos aliar os interesses da Força Terrestre aos do DNIT chefiado pelo grande amigo e irmão General de Divisão Jorge Ernesto Pinto Fraxe que se preocupa, com justa razão, com as condições da hidrovia do Juruá que se estende, hoje, desde a Foz do Juruá, no Solimões, até Rio Branco.
Durante muito tempo o Rio Juruá foi, praticamente, a única via de transporte para o abastecimento de Cruzeiro do Sul e, embora a hidrovia tenha tráfego intenso, somente neste ano, a Marinha do Brasil, está instalando uma agência da Capitania dos Portos na cidade em terreno cedido pela prefeitura de Cruzeiro do Sul.
Neste último sábado (21.07.2012), decidi dar uma parada nas pesquisas e buscar energia nas forças telúricas me embrenhando nas gargantas do Rio Camaquã. Minha terceira jornada iniciou-se por volta das 9 horas de uma fria manhã de inverno, a roupa de “neoprene” resguardava meu corpo do frio, mas as mãos e os pés sofriam com a baixa temperatura das águas. As gélidas garras do inverno tinham deixado marcas profundas na paisagem. A vegetação tinha sofrido com as constantes geadas que secaram algumas das folhas das árvores apresentando um curioso contraste entre o marrom das copas e o verde dos galhos inferiores. As vassouras vermelhas que brotam de dentro das lages que se assemelham a pequenas grutas mostravam o mesmo matiz, as folhas protegidas pelos marquises de arenito
mantinham o original verdor enquanto as que estavam expostas ao tempo estavam totalmente secas, queimadas pelo frio.
Desta feita a quantidade de animais avistados foi bem menor do que as anteriores, certamente estes estavam em locais mais abrigados do frio. Somente depois do meio dia começaram a aparecer capivaras, inicialmente alguns borregotes e mais tarde bandos inteiros largateavam nas areias. Sempre que avistava ao longe um bando eu parava de remar e ficava admirando o comportamento do bando. Normalmente ao me avistar eles procuravam se esconder por detrás das moitas ou pedras e ficavam silenciosamente observando minha passagem. A um grito do macho dominante elas se atiravam aos berros nas águas geladas do Camaquã. O número de indivíduos dos bandos é variável, podendo chegar até 100 animais embora a média de cada grupo seja de 8 a 12. O período de gestação das fêmeas dura aproximadamente 5 meses dando cria de um a oito filhotes pelo menos duas vezes ao ano. A maturidade sexual é atingida entre os 10 e 12 meses. O bando é composto por um bloco central de fêmeas com seus filhotes; os machos subordinados, que muitas vezes mudam de bandos, na periferia guardando o grupo e o macho dominante em alerta constante.
No final da jornada fiz um lanche na fazenda da amiga Ivone Medeiros e depois fomos ajudá-la a recolher, para a mangueira, alguns cordeirinhos recém nascidos que tem sido objeto constante do ataque de predadores.
Amigos Para sempre!
Recebi inúmeros telefonemas, e-mails e recados pelas redes sociais relativos ao dia do amigo. Aproveito, então, para publicar um deles:
General Tibério Kimmel e General R.O.
Prezado Cel Hiram, valoroso e intemerato camarada.
Acabo de ler, porque este velho já não está assíduo nesta máquina, mensagens tuas em que tratas do grande Chefe R. O. Nelas, para minha surpresa (e satisfação, confesso agradecido) encontrei referências a ao mesmo velho, este que te escreve. Embora não tenha sido subordinado, diretamente, do Grande Chefe, tive a felicidade de servir em Unidades enquadradas por Grande Cmdo ou Departamento que ele abrilhantava com a sua preclara atuação. Assim tive, e tenho o Chefe, como meu paradigma de Soldado. Sempre foi de poucas palavras, de fala refletida e comedida, e , quando falava ou escrevia, Engenharia, Exército, Brasil, Pátria eram os temas de suas preocupações e reflexões, somente. Caracterizavam-no a honradez, a zenital verticalidade moral e de caráter, e o extremado zelo pela Coisa Pública. Isto que acima está, como entroito, é fruto de uma relembrança que me ocorreu não faz muito. Penso que poucos a conhecem. O Cel Rodrigo César Jordão, por certo, saberia, mas, como seu pai, jamais falaria do acontecido.
Acredito eu que este “causo” deu-se logo que o Gen R. O. assumiu o Cmdo CMA, ainda em Belém. Para essa nova tarefa, o General já chegaria no destino com duas passagens aéreas compradas quando ainda estava no Rio, cidade em que deixara sua mãe acamada havia já algum tempo.
Em Belém, recebida a penosa notícia que lhe acompanhava por aqueles dias, tratou de reservar dois lugares em avião comercial, para si e para Dona Celeste. Avisou só seu Mot, seu Aj E M Pes e o seu Ass Sec. O avião decolaria alta madrugada. Na viagem para o aeroporto ao Ass Sec diria o motivo e lhe pediria que avisasse o Ch EM só na reunião da manhã daquele dia. Assim, quando o assunto ficou sabido, causou espanto, pois o General, como Cmt CMA, dispunha de uma aeronave da FAB que estava, sempre, ao seu dispor. Ao retornar, embaraçoso lhe seria explicar ao seu Ch EM o motivo de não haver feito uso da aeronave da FAB que lhe era destinada.
O motivo: o seu acendrado zelo pela Coisa Pública. Essa sua viagem não atendia necessidade do serviço. Era o que me ocorreu a contar, quando terminei de ler as tuas muito apreciadas considerações sobre o Chefe R. O.
Obrigado pelas atenções.
Abraços. Saúde. Abençoados dias, com merecidos sucessos em tuas empreitadas.
Livro do Autor
O livro “Desafiando o Rio-Mar – Descendo o Solimões” está sendo comercializado, em Porto Alegre, na Livraria EDIPUCRS – PUCRS, na rede da Livraria Cultura (http://www.livrariacultura.com.br) e na Associação dos Amigos do Casarão da Várzea (AACV) – Colégio Militar de Porto Alegre. Para visualizar, parcialmente, o livro acesse o link:
Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva
Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA); Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS); Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil - RS (AHIMTB - RS); Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS); Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional.
E-mail: hiramrs@terra.com.br
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