sexta-feira, 20 de julho de 2012

TORCIDAS UNIFORMIZADAS X VIOLÊNCIA

Por Luiz Antonio Domingues
Logo que começaram a surgir, a ideia da existência das torcidas uniformizadas não era má. Pelo contrário, ajudavam imensamente a colorir o espetáculo, com suas batucadas, bandinhas, charangas e aquele mar de bandeiras gigantescas com as cores de seus clubes. Pouco a pouco, contudo, esse panorama ingenuamente festivo foi mudando de figura. Brigas dentro dos estádios foram acontecendo e piorando cada vez mais. Já nos anos oitenta, ganhando ares de guerrilha urbana, passou a ser comum, as apreensões de armas (de fogo e brancas), artefatos explosivos e todo o tipo de material bélico, formando verdadeiros arsenais. Saindo do âmbito dos estádios, as estações de Metrô, trens de subúrbio e terminais de ônibus, passaram a ser locais de alta periculosidade, com hordas ensandecidas se digladiando e claro, gente inocente e alheia ao futebol, podendo ser vítima a qualquer instante, também. A primeira pergunta é : Será que esse ódio todo é decorrente de um suposto fanatismo só pelo futebol em si? Pessoas se agridem e se matam pelo simples fato de não suportarem a existência de outras pessoas que torcem para times rivais do seu? Se fosse assim, não existiria o futebol, pois pressupõe-se que para que possa existir, tem de haver adversário e no caso, mais de um para se ter um campeonato, torneio, copa ou seja que disputa for. Claro que acreditar só nesse fator, seria extremamente ingênuo. A análise tem de enveredar por outro caminho. Numa torcida uniformizada de um clube grande, existem milhares de sócios. Qual o critério para adesão? Quando vão entrar, não preenchem uma ficha cadastral? Ora, nome; endereço; identidade e CPF, seria o mínimo. Recomendável a existência de fotos recentes e datadas, quiçá a impressão digital, certo? E quando surgem os distúrbios, cada cidadão detido não é enquadrado na delegacia? Mediante essa responsabilização civil, em tese, o que tem a ver a torcida enquanto pessoa jurídica, com isso? A não ser que se prove de forma contundente, que ações criminosas foram determinadas pela direção (caracterizando então a formação de quadrilha), parece mero foguetório das autoridades, as medidas sensacionalistas tomadas a cada tragédia, visando banir tais organizações. Curiosamente, tais medidas pirotécnicas são anunciadas geralmente em programas dominicais noturnos, as chamadas "mesas redondas", onde o público consumidor de futebol, assiste com grande interesse. São muitos murros na mesa, caras & bocas e também não é incomum que essas autoridades indignadas nunca cheguem ao cerne da questão, preferindo propor paliativos de impactos meramente demagógicos. De prático, as medidas adotadas são pouco eficientes. Banir uma torcida dos estádios, significa que não usarão a faixa de identificação, bandeiras, instrumentos de percussão e cada cidadão-membro é proibido de usar o "uniforme” da torcida. Então vão vestidos com a camisa do clube para quem torcem ou simplesmente à paisana, mas entrarão da mesma forma e sentarão nos mesmos lugares. O que mudou para a "segurança"? O estado faz o mise-en-scène de que está tomando providências, dando uma resposta à sociedade, quando na verdade, é só um varrer de lixo para debaixo do tapete. O que precisaria ser feito, de fato? Se cada bandido desses, que se infiltra nas torcidas para aí sim, formar suas quadrilhas, for responsabilizado pessoalmente, não se apanharia as maçãs podres ao invés de querer banir os caixotes inteiros? Outro ponto importante diz respeito ao estado enquanto mantenedor das funções básicas de uma sociedade realmente justa. Se trabalhar forte com o fomento à educação, saúde e cultura não minimizariam os efeitos do descaso com as camadas mais simples da população, de onde sai a maioria desses torcedores uniformizados? Uma tentativa dessas se deu com as "Cieps" no governo Brizola, no início dos anos 1980, no Estado do Rio de Janeiro. Esse conceito foi ampliado e muito melhorado com a criação dos "Céus", pela prefeitura de São Paulo, no início dos anos 2000. Com educação de qualidade e acesso à arte, cultura, esportes e lazer, os ânimos desarmam-se. Jovens sem perspectivas passam a cultivar outros valores. O futebol volta a ser lúdico e o adversário nunca mais seria encarado como inimigo. Por outro lado, torcidas uniformizadas formadas por pessoas interessadas apenas em futebol e não em praticar crimes, vandalismo e guerras campais, voltariam a colorir os estádios, sendo um ingrediente a mais para o engrandecimento do espetáculo, aliás, como era antigamente. Brigas e desentendimentos seriam tratados como meras manifestações isoladas e as pessoas detidas, enquadradas e punidas severamente com penas exemplares, desestimulando a proliferação de distúrbios dessa monta. Parece utópico, mas é perfeitamente possível, desde que o governo invista em inteligência policial e haja uma reforma do judiciário, com informatização total do sistema, inclusive penitenciário. Impossível ? Ora...não vão organizar uma Copa do Mundo daqui a dois anos? Pensar nisso é tão vital quanto construir estádios, não é? Caso contrário, ficaremos na mesma, com as autoridades tentando coibir a violência por atacado ou como se diz naquela velha piada popular : "O cara flagra a esposa com o seu melhor amigo no sofá e ao invés de separar-se da mulher e romper com o amigo, manda queimar o sofá"...

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