terça-feira, 10 de julho de 2012

DISTINTIVO DO COMANDO MILITAR DA AMAZÔNIA (CMA)


Hiram Reis e Silva, Bagé, RS, 09 de julho de 2012.
O grande Chefe “R.O.” foi um homem que, visionário, alcançava adiante de seu tempo. Embora homem de seu tempo, desassombrado e realista, via o futuro, sopesava-o e adotava medidas para tornar a Engenharia Militar e o Exército, mais aparelhados, melhor postados e posicionados para enfrentar os embates que, ele sabia, haveriam de vir, no futuro. (General Tibério Kimmel de Macedo)
Recebi um e-mail do General Tibério Kimmel de Macedo fazendo um breve relato a respeito da criação do distintivo do CMA, missão que ele, o grande pioneiro do “Batalhão dos Ermos e dos Sem Fim”, recebeu pessoalmente do insigne General Rodrigo Otávio, nos idos de 1968.
O General Tibério Kimmel de Macedo é autor do livro “Eles não viveram em vão – A Saga dos Pioneiros do Batalhão dos Ermos e dos Sem, Fim 1965 – 1971” e um dos maiores ícones da Engenharia Militar Brasileira.
História do Distintivo
Fonte: General Tibério Kimmel de Macedo

Este distintivo, brasão de braço, como o chamaríamos, naqueles tempos, seria fruto do espírito criativo do próprio General Rodrigo Octávio (R.O.) quando, ainda, exerceria o Comando Militar da Amazônia.
General-de-Exército Rodrigo Octávio Jordão Ramos: Asp OF Eng Realengo Tu 21 Jan 1930. Ícone, legendário, da Engenharia. Ministro de Viação e Obrase Públicas no Posto de Coronel (1955). Criou e instalou o 1° Gpt E, no NE, em 1955l. Assumiu o Cmdo CMA / 8ª RM em 26 Jul 1968 quando estes tinham sede em Belém. Em 05 Jul 1969 transferia o CMA para Manaus e criaria, também neta mesma Capital, a 12ª RM e o 2° Gpt E. Mentor da “Cruzada Santa” para integrar a Amazônia ao ecúmeno nacional. Para a conquista de tal objetivo, criaria três BE Cnst na Amazônia, transferiria um B Fv e um B Rv, de suas cinqüentenárias paradas, do Sul para Cuiabá e Santarém, as cinco poderosas ferramentas de trabalho para eliminar o “Arquipélago”, como costumava dizer em suas falas que, invariavelmente, tinham como fulcro esta Cruzada.
Naquele tempo (1968, ano da criação do brasão), de seu primeiro desenho, somente os quatro Exércitos possuíam distintivo de Grande Unidade. O Gen R.O. defendia a transformação do CMA em V EXÉRCITO. Esta, a única meta que não colimaria na sua “Cruzada Santa” pela integração e desenvolvimento da Amazônia. Tanto o CMA como o CMO e o CMP, os dois últimos, respectivamente do Oeste e do Planalto, não tinham, então, Distintivo de GU.
Nos idos de 1968, o Gen R.O. havendo convocado o resenhista à Manaus para tratar de assuntos do Batalhão (5° BEC), ao final da reunião e já noite fechada, deu-lhe a missão de desenhar um brasão para ser usado no braço, como distintivo de Grande Unidade.
5° Batalhão de Engenharia de Construção: criado em 30 Jul 1965 e mandado fazer parada em Porto Velho / RO e, ali, chegado em 21 Fev 1966. Rondônia, então, era Território e com sigla RD.
Na oportunidade, e disto lembra bem o resenhista, o Chefe R.O. com a rapidez que lhe era peculiar ao escrever e falando à medida que rascunhava, faria um esboço do escudo, dizendo que nele deveriam ser representados o Cruzeiro do Sul, o Sabre símbolo do Exército e que não poderiam ser esquecidos os esforços dos portugueses, Pedro Teixeira em particular, que por séculos mantiveram sob sua soberania e que, intacto e imaculado de enclaves, nos haviam legado. A Cruz de Cristo deveria ser o símbolo do “ardor lusitano” na defesa do imenso vale:
“que pontilharam de fortes nas fozes dos grandes rios, porque sabiam que aquele que tem o comando da foz tem, também, de toda a bacia do braço principal e de todos os formadores e contribuintes do braço principal”.
Chegando em Porto Velho, na primeira oportunidade, o resenhista, em companhia do Mestre Sebastião, revisaria o rascunho e as notas feitas pelo Gen R.O. e faria um rascunho, ele mesmo e na prancheta do Sebastião, dizendo-lhe o que escutara do Chefe Gen R.O.:
“...não é tarefa prioritária; faça-a em tempos de folga. Quando eu for a Porto Velho, veremos como está o desenho”.
Sebastião Myrtharistedes da Silva: Desenhista, funcionário do Ministério da Guerra e em vias de aposentar-se. Em uma das idas do resenhista à DVT (DOC, hoje), no Rio, desejoso de trabalhar no Batalhão apresentar-se-ia como voluntário para integrar a Secção Técnica do 5° BE Cnst. Já era aposentado quando de apresentou-se, “pronto”.
Ao Sebastião, ainda, lhe disse o Chefe da Seção Técnica, que deveria encontrar uma representação, a mais fiel possível, da Cruz de Cristo. Lembro-me de dizer-lhe:
“daquela que Vilagran Cabrita ostenta como única condecoração – aquela é a Ordem de Cristo... quanto ao Sabre ou Espada do Exército, os ‘Noticiários do Exército’ a reproduzem e poderemos tomar, dali, as dimensões proporcionais, de cada parte do Sabre”.
Deixasse o esboço sempre à mão e, quando tivesse sobra de tempo, fosse adiantando. Não fizesse nada à nanquim e sim só a lápis preto. As cores, à medida que o desenho do esboço progredisse, as iríamos discutindo e escolhendo. Não existia por lá, nenhum brasão de outra GU para tomar como referência e o NE, naquele tempo, era todo em preto e branco.
O primeiro esboço, desenhado em papel “cançom” branco, se fez no tamanho 15 x 22 cm. Mostrava o escudo, modelo antigo, com o “chefe” reto e sem ponta no “termo”, que apresentava uma curva circular ajustada nos dois flancos retos que desciam, assim, desde o “chefe”. Com as cores já escolhidas, depois de algumas tentativas, mostrava em um campo azul, único, o céu amazônico e, centrados sobre o eixo maior do Cruzeiro do Sul, a Cruz da Ordem de Cristo, e o Sabre, sobre a Cruz. O Sabre com o punho para baixo, na posição de alerta, ou combate.
Quando foi mostrado ao Gen R.O., em uma de suas inspeções ao Batalhão – por sinal que foi o Gen Rodrigo Octávio quem perguntou ao Chefe da Seção Técnica:
“Como vai o nosso projeto do braçal?”
Fomos vê-lo na prancheta do Sebastião, na Seção Técnica. Já era noite e, a luz que havia, ainda alimentada por instalação provisória, era de HOOS de 50 KVA. As lâmpadas bruxuleavam com as oscilações da rotação do motor e deixavam amarelado o ambiente do grande salão de desenho da Seção, cujo pavilhão ainda se encontrava inacabado. O velho Chefe, muito gentil, não deixou de considerar o esboço inicial, desenhado como estava, a “bico de pena” e à nanquim, muito bem feito e bem proporcionado. Mas, delicadamente, alertou para o inconveniente, simbólico, de se colocar a espada sobre a cruz.
Melhor seria, disse, deixá-las cada qual em uma das metades do escudo. Assim, um segundo desenho foi feito. Para atender às recomendações do Gen R.O. resultou um escudo “partido”. No flanco direito, sobre um campo cinza, a Cruz da Ordem de Cristo. No esquerdo, em campo azul celeste e com seu braço maior inclinado para o interior do campo, o Cruzeiro do Sul e, a encimar-lhe, verticalmente postado, o Sabre na posição de alerta. No “chefe”, sobre uma faixa com as cores do Exército, em letras maiúsculas, foi desenhado, em prata, o topônimo “AMAZÔNIA”. Este segundo escudo desenhado nas dimensões já antes ditas, tinha as cores dos campos, os traços, as estrelas, a cruz e a sabre nas cores mais tarde repetidas na portaria 114/EME, de 09 de dezembro de 1969. A cruz de Cristo, com contorno vermelho, na mesma altura que o comprimento total do Sabre, e, igualmente, com o mesmo dito contorno. O brasão atual, mostra no “chefe” a sigla CMA substituindo o topônimo e, junto ao “termo” uma cabeça de onça canguçu.
Onça pintada: Inserida ao tempo do Comando do General Germano Arnoldi Pedroso. (Asp Of Art AMAN Tu 13 Ago 1953).
Aqui fica este registro como uma homenagem ao criador do brasão original, Gen Rodrigo Octávio Jordão Ramos e, ao seu desenhista, o artista SEBASTIÃO.
O Brasão como desenhado pelo Sebastião quando lhe substituíram o topônimo AMAZÔNIA pelo dístico CMA.
Livro
O livro “Desafiando o Rio-Mar – Descendo o Solimões” está sendo comercializado, em Porto Alegre, na Livraria EDIPUCRS – PUCRS, na rede da Livraria Cultura (http://www.livrariacultura.com.br) e na AACV – Colégio Militar de Porto Alegre.
Para visualizar, parcialmente, o livro acesse o link:
Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva
Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);  Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS); Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional.

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