quarta-feira, 11 de julho de 2012

MARTINHO DA VILA COMEMORA 45 ANOS DE CARREIRA COM REEDIÇÃO DO 1º DISCO

Por Pedro Antunes / JT-in E+Estadão
Pierre Vicarini / Divulgação
Foi na terceira edição do Festival da Música Popular Brasileira, em 1967, que o Brasil foi apresentado a Martinho da Vila. Com o samba de partido alto Menina Moça, o jovem compositor, de 29 anos, conquistou o jornalista e um dos juízes da edição Sérgio Cabral, que lhe atribuiu nota máxima. Dois anos depois, veio o LP Martinho da Vila, sua estreia, um álbum simples, sem grandes arranjos. A força estava nas letras, pequenos contos do subúrbio carioca. E o disco estourou com mais de 300 mil cópias vendidas.
O Brasil conhecia Martinho da Vila, sujeito simples, sorriso rápido e fácil, bom de samba. Em 2012, ele comemora 45 anos de uma carreira iniciada ali, no palco do festival. Para isso, revisita o seu primeiro álbum, com novos arranjos e até novo nome, 4.5 Atual, lançado pela Sony Music.
Tudo vem aos ouvidos de forma mais encorpada: a voz de Martinho, agora, é confiante (apesar de mais áspera), os arranjos, assinados por Rildo Hora, mais límpidos. As letras, intactas, soam tão atuais quanto em 1969. "Os músicos que regravaram este disso disseram a mesma coisa", diz Martinho, orgulhoso da cria.
"Como eu percebi que iria chegar aos 45 anos de carreira, pensei que poderia fazer algo para comemorar. Sempre quis refazer o meu primeiro LP, com uma nova tecnologia, com novos arranjos. Mas seria coisa pequena", explica ele.
A ideia do sambista era fazer algo com tiragem mínima, mais para presentear amigos do que para figurar nas listas dos discos mais vendidos. Entrou em contato com Alexandre Schiavo, presidente da gravadora que detinha os direitos das músicas, para conseguir a liberação para usá-las. "O Schiavo me perguntou o que eu queria. Eu respondi: 'queria fazer um disquinho' (risos)", conta o artista. "Ele chamou o Sérginho (Sérgio Bittencourt, vice-presidente), falou para gravarmos com eles, que o Rildo Hora poderia fazer os arranjos. O disquinho acabou virando um discão".
O processo todo de gravação no estúdio Cia dos Técnicos, em Copacabana, levou Martinho a viajar pela sua própria história. Do tempo em que era um ex-militar de Duas Barras, interiorzão do Rio, um sambista de fala mansa e mentor do "devagar, devagarinho". "Muitas músicas desse disco são sucessos meus, costumo cantar uma ou outra em shows. Mas foi a primeira vez que parei para prestar atenção em todas elas. Foi uma experiência emocionante", diz o compositor de 74 anos.
Martinho prezou por manter a base do disco de 1969, mas soube aproveitar o melhor que a tecnologia de gravação pode oferecer. Hora, que assina as regências e arranjos, embelezou as canções que, em sua maioria, eram acompanhadas por singelo cavaquinho. 4.5 Atual também tem violino, flauta, trombone, baixolão, e Carlinhos 7 Cordas em oito faixas.
A estrutura do disco também foi alterada. O vinil limitava o espaço. Com o CD, Martinho incluiu o que chamou de "faixas bônus": Samba dos Passarinhos (nunca gravada, apesar de não ser inédita), Pãozinho de Açúcar – "não tocou na rádio, então não era manjadona", diz o sambista – e a inédita Partido-Alto de Roda.
De resto, o velho Martinho não quis saber de invencionices. "A música pode ser muito marcante. Mas se mudar muito, vai se tornar outra." A ousadia está nas letras de sambas clássicos como Casa de Bamba, O Pequeno Burguês, Quem é Do Mar Não Enjoa, Iaiá do Cais Dourado e Tom Maior.
Menina Moça, aquela cantada no Festival da Record, não pôde ser incluída no disco de 1969 por causa da censura. "Eu tentei, mas os militares diziam que ela ia contra a instituição da família", lembra Martinho. "Divórcio era uma coisa discutida pra chuchu". Em 4.5 Atual, a canção ganhou o lugar que deveria, 45 anos de estrada depois: abre o álbum com a história da garota que se apaixona, casa, mas cansa das brigas e parte para outra. Já naquela época, Martinho podia até ser novato nos palcos, mas era veterano na vida.

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