domingo, 21 de novembro de 2010

ANIMAIS, NÃO. ANÕES PODEM

Por José Eugênio Maciel

“O mundo pode ser um palco, mas o elenco é um horror”

Oscar Wilde

Depois de terminar de falar e tendo que em seguida me retirar por causa de outro compromisso, uma estudante, na saída do auditório do Colégio Estadual Campo Mourão, considerou contundente o raciocínio que fiz.

Antes de narrar os fatos, convém situar o caro leitor. O referido e tradicional estabelecimento de ensino realizou importante evento na última quinta-feira para debater sobre o comportamento agressivo, que pode ser tanto físico ou moral e que ocorre de modo permanente e intenso. A violência pode ser praticada por um indivíduo contra outro; de um grupo contra uma pessoa; de uma pessoa fisicamente superior em relação a um grupo. Tem uma expressão em inglês para denominar a violência, e, por faltar o termo em português, terei que citá-la: bullying. Um dos problemas e dilemas no Brasil é que o real e o ideal se apresentam em diversas situações tão dispares e separados por verdadeiros abismos que nos fazem admitir a possibilidade que eles não se justaporão para o bem de todos.

São leis que existem para ditar regras comportamentais sociais, elas podem ser vistas como sinônimos de evolução, modernidade, civilidade, trazem no seu próprio bojo - mas observado por outro ângulo - dispositivos que deveriam absolutamente nos envergonhar.

Nos bancos os dizeres são evidentes: “Gestantes, mulheres amamentando ou com bebê de colo e idosos têm preferência na fila”. Em um prisma, podemos ter um sentimento de orgulho, pois tais leis existem para assegurar cidadania, o respeito às mulheres e às pessoas mais velhas. De outro prisma, o sentimento pode ser de constrangimento, vergonha, uma vez que precisamos de leis que nos imponham a respeitar as pessoas, mesmo assim muitos só respeitam por existirem tais leis, ou fazem de conta que não sabem para burlar, no velho jeitinho brasileiro.

O ponto que procurei chamar a atenção no citado encontro e que levou a estudante a me dizer “nunca tinha parado pra pensar nisso!”, tem a ver com leis. Ela repetiu o que eu disse, “no Brasil em muitos lugares é proibido os circos se apresentarem caso incluam animais no espetáculo (em Campo Mourão tem lei municipal). A proibição passou a ocorrer quando vieram a público os maus tratos que os animais sofrem para serem adestrados e obedecerem, além do espaço e alimentação muito aquém do ideal. Mas este mesmo Brasil dá muita risada dos anões nas apresentações dos circos, teatros e na televisão. Não é riso quanto à encenação, da qualidade que um anão tem ou pode ter na arte de representar. Na verdade riem quando eles ainda estão adentrando o palco pelo simples fato de serem anões! Outro exemplo factível se refere aos boxeadores que morreram ou tiveram sérios problemas advindos do que é chamado de esporte.

Macacos, leões, cavalos, zebras, cachorros e elefantes estão protegidos. Iremos continuar rindo dos anões até quando? Aplaudiremos toda vez que um boxeador provocar a queda por espancamento do adversário, até quando?

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