Rei do futebol recebe homenagem do Exército Brasileiro e fala em exclusivo ao repórter Régis Rösing sobre sua vida militar e os conflitos que interrompeu.
O rei do futebol se emociona na Fortaleza de São João, no Rio de Janeiro. Entre generais e oficiais, Pelé, aos 70 anos de idade, é homenageado pelo que representa nas Forças Armadas e no esporte ao redor do mundo. Na cerimônia, o ídolo entra para a galeria de imortais do Exército e inaugura um busto em vida, relembrando os momentos únicos de sua trajetória profissional em que foi um comandante da paz, ao dar trégua a guerras sangrentas e colocar lado a lado chefes de nações inimigas, sempre hasteando a bandeira do esporte.
A vida militar de Pelé começou aos 18 anos, em1959, logo após ser campeão do mundo com o Brasil, na Suécia, e recusar uma oferta de 30 milhões de reais para jogar no Real Madri, da Espanha. Já era famoso mundialmente quando entrou para o serviço militar no 6º grupo de artilharia de costa, em Praia Grande, São Paulo, como o soldado 201 Nascimento.
- Eu fiz tudo que um soldado raso tinha que fazer. Limpava coturno, engraxava, lavava roupa. Ficava até de sentinela dando autógrafos - lembra o rei.
Em 1959, quando já era ídolo das crianças, dos generais e dos colegas, participou de um jogo treino pela Seleção do Exército. Foi nesta partida em que demonstrou sua maior qualidade, a humildade. Não querendo humilhar, o rei dava condição de jogo aos adversários e companheiros mesmo sendo tecnicamente superior a todos e chutava fraquinho na direção do goleiro. Ainda com o Exército, Pelé acabou sendo campeão sulamericano, vencendo a Argentina na final, em partida com direito a gol seu.
- O Exército me deu disciplina, educação, me tornou cidadão e me ensinou a trabalhar em grupo.
51 anos depois, ao ser homenageado no Rio de Janeiro, Pelé relembrou em detalhes a emoção de liderar acordos a favor da paz como jogador de futebol em partidas ao redor do mundo. Ao repórter do "Esporte Espetacular" Régis Rösing, que também serviu no Exército ( foi o soldado 255 Rösing, (CABO-2 divisas)no 13º grupo de artilharia de campanha, em Cachoeiro do Sul, RS, em 1984), o rei disse ter sido a maior felicidade de sua vida ter conseguido parar uma guerra com futebol.
A primeira foi vestindo a camisa do Santos contra a seleção do Congo, em 1969. A cidade do jogo se encontrava em guerra civil contra uma cidade vizinha, rodeada por armamento pesado. Pelé e os jogadores exigiram um cessar fogo para que a partida fosse realizada. Exigiram também que se realizasse o jogo em ambas as cidades.
- É uma lembrança maravilhosa ver que você pôde parar uma guerra ao menos por alguns dias - conta o Rei.
Em 1975, outro episódio inesquecível no qual Pelé uniu cristãos, muçulmanos e judeus em um único estádio no Oriente Médio. Na época, jogador do Cosmos de Nova Iorque, entrou em campo pelo Estrela Vermelha de Beirute. Como um profeta da paz nos gramados, o Rei possibilitou o adiamento de uma guerra que estava prestes a começar ao fazer com que os países em conflito parassem para ver o ídolo jogar futebol. Até o líder radical Hassan Nasser Ala reconheceu a coragem de Pelé, em um dia que ficou conhecido como o milagre do Estádio Olímpico de Beirute.
Na década de 90 mais um ato a favor da vida. Pelé, em uma partida pela paz em Roma, Itália, colocou lado a lado o ex-líder da autoridade palestina Yasser Arafat e o ex-primeiro ministro israelense Shimon Perez. O Rei chegou até a tirar foto com os dois chefes de estados conflitantes e protagonistas de uma guerra que se arrasta há décadas até hoje.
Para o mundo, Pelé ficou conhecido como o Rei do Futebol. Para o Exército, ele é mais do que isso, é um comandante da paz.
- Eu fico triste em ver que o nosso governo não dá a atenção devida ao esporte e ás crianças. Mas agradeço a deus pelas mensagens de paz que eu fui capaz de mandar ao mundo - finaliza o Rei.
Do Blog: O Mapa do Brasil.
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