Por José Eugênio Maciel
“Escritores há cuja obra destoa do homem; outros, que formam com ele uma identidade”.
Monteiro Lobato
Depois do destaque nos meios de comunicação sobre o decidido pelo Conselho Nacional de Educação ao propor advertência a algumas obras de Monteiro Lobato por apresentarem conteúdos racistas ou politicamente incorretos, notadamente Caçadas de Pedrinho, nos diálogos relacionados à Tia Nastácia, o assunto teve espaço diminuído e já não se fala mais. De fato existem expressões na representação de personagens que podem ser inadequadas à idade, porém elas estão inseridas num contexto da história e não espelham intenção racista.
O principal desdobramento do caso diz respeito ao posicionamento do Ministério da Educação que solicitou ao Conselho que reexamine a decisão. Lamentavelmente e não só relacionado ao posicionamento do Conselho mas de um modo geral, pouco se conhece sobre a vida e obra do Monteiro Lobato. “Um país se faz com homens e livros”, é provavelmente a frase mais conhecida e também a que pode mensurar a trajetória de um dos maiores escritores brasileiros. Quando ainda não existia a literatura infanto-juvenil Monteiro Lobato inaugura o gênero do qual foi pioneiro, em grande estilo e mestria narrativas, com o Sítio do Picapau Amarelo.
Embora o Sítio seja suficiente para reconhecê-lo como literato de inegável valor, José Bento Monteiro Lobato é exemplo de grande brasileiro por ter estado à frente ou dado apoio a inúmeras campanhas em favor da modernidade do Brasil. Valia-se da sua verve ao falar e escrever com conhecimento. Um homem engajado, defensor e divulgador eloquente dos nomes do mundo da cultura, precioso na crítica dos já consagrados e incentivador dos novos talentos, tanto é assim que fundou uma editora e revista. A campanha em favor da criação de uma companhia para explorar petróleo levou muitas pessoas a o considerarem como mais um louco sonhador, “mas eu acredito que existe muito ouro preto debaixo do nosso solo fértil”, anteviu.
Nascido no interior paulista em Taubaté em 1882, morreu em São Paulo em 1948. Formado em Direito exerceu por pouco tempo a advocacia, o gosto pela literatura o levou a ser escritor. A cultura brasileira que tem como elementos fulcrais o índio, o europeu e o negro foi brilhantemente retratada por Lobato, especialmente o folclore. Graças a ele que não se perdeu e pelo contrário alastrou-se o conhecimento e prazer advindos das muitas histórias de mitos e causos inerentes a cultura popular. Além da tia Nastácia, Jeca Tatu, Saci Pererê, a Cuca, personagens do imaginário popular não seriam grandemente conhecidos pelos próprios brasileiros de qualquer idade, se não fosse o Lobato.
Visionário, Lobato escreveu em 1926 o romance O presidente negro, quando se valeu das lentes do “porviroscópio”, os Estados Unidos teriam um presidente negro e que o mundo seria interligado por uma poderosa rede de computadores. Vale ressaltar, ele escreveu o romance em 1926, prevendo a modernidade e ascensão do negro na maior potência do mundo.
Quantos leram tal obra e conhecem efetivamente a grandeza de Lobato? Os integrantes do Conselho no seu todo deixaram evidente que pouco sabem do grande escritor, meteram o “narizinho” onde não foram chamados e terão que guardar o “rabicó” deles entre as pernas, numa verdadeira tristeza do Jeca-Tatu. Dona Benta e tia Nastácia não sabem se riem ou choram.
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