Por João Bosco Leal
Tenho ouvido muito que o negro não pode mais ser chamado de preto, que essa denominação não é "politicamente correta" e que, atualmente, chamar uma pessoa assim seria crime de discriminação racial e que daria até cadeia.
Sou de um tempo em que era assim que se chamavam as pessoas, sem nenhuma maldade, desrespeito ou racismo. Pretendo fazer alguns questionamentos a esse respeito, sem a menor intenção de cometer alguma ofensa e muito menos uma discriminação racial ou crime.
Fui criado num lar que tinha, entre seus membros, uma pessoa com essa cor de pele, trazida por meus pais de sua propriedade rural quando tinha dez anos de idade, a fim de que pudesse estudar, só tendo saído de casa já formado, advogado, no dia do seu casamento.
Sempre passava minhas férias escolares na fazenda de minha família, onde ficava hospedado na casa dos pais desse rapaz que morava conosco. Seu pai se chamava João Preto e foi quem me ensinou a andar a cavalo, trabalhar no campo, castrar e curar animais. Com ele fiz diversas viagens conduzindo gado, que demoravam diversos dias, longe de meus pais e aos seus cuidados, assim como seu filho ficava aos cuidados dos meus pais na cidade, enquanto estudava.
Durante toda a minha juventude, nunca vi nenhum desrespeito em chamar uma pessoa de preta, assim como também não vejo ao me chamarem de branco. E, se não posso chamar uma pessoa de preta, porque isso não é raça, e sim cor, como dizem atualmente, também não poderiam me chamar de branco, ou outras pessoas de amarelas ou vermelhas, pois ninguém é de nenhuma dessas cores.
Esse tipo de debate e a criação de cotas em universidades para esse ou aquele grupo só humilham pessoas que serão sempre apontadas como inferiores, que não têm capacidade de disputar uma vaga e necessitam de cotas. Essas pessoas nunca terão a certeza de que são capazes, pois não tiveram a oportunidade de provar sua capacidade.
Em minha juventude, as pessoas se orgulhavam muito de pertencer a raça negra, tão sofrida no passado, como no período de venda de seres humanos como escravos e do violento processo racista que viveram na América do Norte. Época em que dessa raça surgiram pessoas que fizeram história em diversos setores da sociedade, e se tornaram mundialmente conhecidas, como os americanos Martin Luther King, Cassius Clay, Louis Armstrong, Ray Charles e, maios recentemente, Barack Obama ou os brasileiros Machado de Assis, Antonio Francisco Lisboa - o Aleijadinho -, Daiane dos Santos, Milton Nascimento e o rei Pelé. Nenhum deles conseguiu isso através de cotas.
Em todos os setores da sociedade brasileira encontramos pessoas de todas as cores de pele e de todas as origens raciais, e em todos os poderes constituídos encontramos pessoas das mais variadas raças, origens e níveis culturais, como o nosso próprio Presidente da República, circunstância essa que, penso, demonstra cabalmente serem desnecessárias as cotas, sejam quais forem as suas finalidades.
Se as pessoas devem, a partir de agora, ser chamadas de negras ou afro descendentes, pois chamá-las de pretas é crime, penso que também teremos que chamar as outras pessoas de euro-descendentes, ásia-descendentes e índios sul americanos descendentes, o que, sem dúvida, provocaria uma enorme confusão em nosso vocabulário.
A imposição de se chamar uma pessoa, dessa ou daquela cor, por um nome diferente daquele que é o mais próximo da sua cor de pele, como sempre fizemos com todas as raças, e a imposição de cotas para vagas universitárias, é que criará em nosso país uma segregação racial que aqui nunca houve.
Imagens da Internet - Fotoformatação (PVeiga).
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