Por João Bosco Leal
Em Aruba, o que também me chamou muito a atenção foi o respeito dos motoristas para com os pedestres. Não é necessário sequer dar início a uma caminhada pela faixa de pedestres para que os veículos que trafegam pela rua parem e esperem sua travessia.
Bastava me posicionar ainda sobre a calçada, mesmo em algum ponto onde não houvesse a faixa de pedestre, mas de modo a indicar que pretendia atravessar, para que os veículos parassem. E, nesse caso, quem estava descumprindo as leis de trânsito era eu, que não busquei uma faixa de pedestres, mas, mesmo assim, tanto veículos pequenos como ônibus circulares e caminhões paravam e pacientemente esperavam a travessia.
Sentia até vontade de rir em pensar no que ocorreria se fizesse isso aqui no Brasil, mas não precisei de muito tempo para rever nossa realidade.
Três dias após minha chegada, me dirigi a uma rede de supermercados internacional, que possui uma loja perto de casa. Ao tentar estacionar o veículo em uma das diversas vagas destinadas aos deficientes físicos, comuns nessas grandes redes exatamente pelo respeito que em outros países se dispensa a esse ou a qualquer outro tipo de pessoa com necessidades especiais, tive dificuldade de encontrar uma vazia.
Não porque eram poucas vagas, pois eram muitas, mas, pensei, provavelmente hoje todos os deficientes de minha cidade vieram ao supermercado ao mesmo tempo. E nem tive tempo de descer do veículo, que estacionei em uma vaga comum, quando observei uma madame bem tipo perua, muito saudável, entrando em seu carro em uma vaga especial.
Ainda olhava admirado para a mesma quando vi um outro senhor, com uniforme de policial, também retirando seu veículo de uma dessas vagas. E outra pessoa, funcionária do supermercado que lá trabalha como segurança exatamente no estacionamento do prédio, olhava tudo passivamente, na maior naturalidade.
Após fazer minhas compras, em decorrência de minha dificuldade de locomoção, me dirigi ao caixa destinado ao atendimento de idosos e deficientes. Nesse caso, um único caixa aberto para esse tipo de atendimento, entre os praticamente cinquenta caixas dessa loja abertos para os seus outros clientes, os "normais".
Em minha frente nessa fila estavam duas moças, de aproximadamente vinte e poucos anos, segurando em suas mãos capacetes de motociclistas e empurrando um carrinho de compras. Riam, brincavam, conversavam e não notei, em nenhuma das duas, nenhum sinal físico que demonstrasse qualquer espécie de deficiência. Perguntei então a uma delas se aquele era o único caixa destinado ao atendimento preferencial, ao que a mesma respondeu afirmativamente e lá continuou como se nada estivesse ocorrendo.
Perguntei então ao caixa se eu teria preferência na fila por ser deficiente, e me respondeu afirmativamente, mas uma das moças, rindo, disse que soube ontem que estava grávida e que, portanto, também tinha preferência.
Caiu a fixa. Realmente havia voltado e estava no Brasil. Uma pena ter que falar assim do país que tanto amo e pelo qual nutro tantas esperanças de um futuro melhor, mais brilhante, pois é a terra de meus netos, a quem desejo tudo de melhor.
Ao desrespeitarmos nossos idosos, estamos desrespeitando nossa história e não há futuro sem passado.
Nossos governantes são incompetentes em conscientizar a população e educá-la, mas são bastante competentes para fazer com que continuem assim, despreparados e dependentes do Estado com suas "bolsas e vales", pois é assim que continuam votando nos que hoje aí estão e assim continuarão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário