segunda-feira, 8 de novembro de 2010

GOVERNOS PASSAM, O ESTADO PERMANECE

Por José Eugênio Maciel

“Os homens quando não são forçados a lutar por necessidade, lutam por ambição”.

Nicolau Maquiavel

É essencial na democracia a liberdade de escolha. E é imprescindível respeitar o resultado manifesto oriundo da decisão soberana do eleitor. Assim, terminado o segundo turno, o Brasil concluiu a escolha dos governadores e o da presidência do Brasil, alcançando um fato histórico, o cargo será pela primeira vez ocupado por uma mulher, após mais de oitenta anos em que foi instituído o voto feminino no País.

Fora de qual dúvida, Dilma Roussef ocupará o cargo de maior mandatária do Brasil com a faca e o queijo não mão, o que significa afirmar, o resultado das urnas lhe confere amplo respaldo, assim como a ampla maioria obtida no Congresso Nacional, tanto no Senado quanto na Câmara dos Deputados.

Somos um Brasil com Instituições Político-Sociais longe ainda do ideal, mesmo considerando termos uma Constituição, a promulgada em 1988, que enfatiza e dá o norte para o exercício da cidadania. Cidadania que se faz com a consciência plena de direitos e deveres.

Como será o governo Dilma? Parte da resposta em princípio pode ser obtida levando em consideração o atual comandado por Lula, tanto com os acertos quanto os erros. Mas Dilma não é Lula, ainda que ele tenha feito todo o empenho para elegê-la e não é um despropósito apontar que sem ele dificilmente ela ganharia as eleições. Dilma não poderá confundir continuidade com continuísmo, lealdade com subserviência. O governo do seu maior patrocinador com o que irá patrocinar.

A todos os que votaram, escolhendo-a ou fazendo outras opções, mas não “votando” em branco, anulando ou não comparecendo quando pudesse, terão sim o direito de aplaudir e de se opor. Somente os que votaram. Aos demais, recolham-se ao protesto que em nada contribui para a democracia, o de cruzarem os braços, de não assumirem posição alguma, aliás, costumam serem os que mais reclamam.

O povo fez as suas escolhas e prosseguirá com a responsabilidade diante delas mesmas, quando não é por si o tempo que dirá, mas o de dizer na construção do tempo.

É preciso um longo processo democrático, que implique na tão necessária reforma política que Fernando Henrique e Lula não fizeram, optando pela velha política clientelista com as benesses do poder, cargos e verbas distribuídos conforme o “toma lá dá cá”.

O processo eleitoral tem as suas contradições. Ficou para depois a questão da aplicabilidade da Lei ficha limpa. O título, sem foto, não servia para votar, que poderia ser feito sem ele, desde que com um outro documento oficial com foto.

Tivemos uma campanha caracterizada por ter sido uma das mais baixas, trocas mútuas de agressões, desconsiderando propostas e posicionamentos. Os marqueteiros tomaram conta, ditaram as regras. Também foram vergonhosas as pesquisas eleitorais, “projeções” buscando impingir “preferências” exacerbadas.

A vitória da Dilma fez espatifar o predomínio que imaginavam ter como capazes de comandar o Estado a partir dos templos cristãos. Foi deprimente o hercúleo esforço de padres e pastores manipulando questões como o do aborto sem perceber a importância de um Estado laico, que não querem para não perderem o poder, um poder que a partir deles não respeita a liberdade religiosa que também deve respeitar o direto de não se ter qualquer credo.

Os governos têm a transitoriedade como característica, o Estado, como organização política, jurídica e social visando o bem-estar deve estar bem acima de propósitos específicos, naturais ou sobrenaturais, físicos ou metafísicos individuais.

Imagem da Internet - fotoformatação (PVeiga).

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