Povoa o imaginário popular tupiniquim a cena do Homem do Baú da Felicidade atirando aviõezinhos de papel moeda para suas colegas de trabalho e fazendo a pergunta que é um desejo de todos: “Quem quer dinheiro?”. Ontem, por ironia da História, foi o banco de Sílvio Santos (sócio da Caixa Econômica Federal) que teve de responder ao apelo do apresentador. SS foi obrigado a injetar R$ 2,5 bilhões no Banco PanAmericano para o negócio não quebrar.
Como de costume, a grana salvadora veio do esquema estatal. O Grupo Silvio Santos pegou os bilhões emprestados no Fundo Garantidor de Créditos do Banco Central. Formado com contribuições compulsórias dos bancos, o FGC foi criado para proteger correntistas e poupadores de bancos em dificuldades, reembolsando até R$ 60 mil por CPF. A pedido do Grupo Silvio Santos, o Banco Central não interveio no Banco. Mas a Caixa Econômica Federal, que tem 49% do capital votante do banco do SS, começou ontem mesmo uma intervenção branca. Quer indicar uma diretoria executiva e novos membros para o Conselho de Administração, em Assembléia Geral marcada para 26 de novembro.
O que aconteceu com o banco do Sílvio foi mais uma prova de que ilusionismos econômicos duram pouco. Quando estourou a “crise da marolinha”, circulou no mercado a informação de que foram duramente afetados dois bancos focados no financiamento ao consumo para pessoas físicas das classes B, C,D, e E. O primeiro foi o Votorantim, que acabou assimilado pelo Banco do Brasil. O outro era o PanAmericano, onde a Caixa virou sócia com 49% das ações.
Dia 22 de setembro, Sílvio Santos teve reunião com Lula. Na alegada motivação do encontro de surpresa, fora da agenda programada oficialmente, SS alegou que pediu a Lula uma ajudinha, na forma de doação pessoal, de R$ 12 mil para o Teleton. SS contou que Lula não deu resposta sobre se daria o dinheiro. O curioso é que, naquela data, SS entrou na agenda presidencial no lugar de Henrique Meirelles, timoneiro do Banco Central do Brasil. Coincidência com o problema que estourou ontem? Será que SS só pediu dinheiro para o Teleton? Só Deus sabe...
O presidente do Conselho de Administração do PanAmericano, Luiz Sebastião Sandoval, assinou ontem uma nota ao mercado informando que o aporte ocorre porque foram constatadas "inconsistências contábeis" que não permitiam aos controladores perceber "a real situação patrimonial" do banco. Ou seja, o banco do SS foi alvo de fraude bilionária. Curioso é perguntar: a Caixa virou sócia de uma instituição sem saber de tal problema? Conta outra... A sorte é que, embora seja o 21º do ranking nacional de bancos, com ativos de R$ 12,5 bilhões, o PanAmericano não tem conta corrente, e seus problemas só afetam seus controladores.
Saindo da crise do Banco do Sílvio, a famosa pergunta dele não deixa de calar no governo. Quem quer dinheiro? Lula quer. Mas é para Dilma. Tanto que o chefão defendeu ontem, na África, um reajuste do salário da presidenta eleita. Pela Constituição, o Congresso deve arbitrar, no fim de uma legislatura - como a que está acabando neste ano - os vencimentos do presidente da República e dos próprios parlamentares. Para Lula, é justo que Dilma receba mais que o atual vencimento presidencial de R$ 11.420,21.
Quem quer dinheiro? Na contramão do pensamento presidencial em favor de Dilma, ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, gritou contra a concessão do reajuste de 56% para servidores do Judiciário. Alegou que o aumento teria um impacto anual de R$ 6,4 bilhões nos cofres públicos, pois teria um efeito cascata. Embora seja contra o aumento para a raia miúda dos tribunais, Paulo Bernardo se mostrou favorável ao pedido dos ministros do Supremo, que querem subir seus vencimentos para R$ 30 mil.
Quem quer dinheiro? Duas ou três empreiteiras baianas, que prometem ganhar a concorrência de implantação do Trem Bala, associadas a empresas francesas e japonesas, querem emprestado dinheiro do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. A procura é tanta que o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, teve de vir a público alegar que é “coisa feita para não ser usada" a Medida Provisória 511, publicada na segunda-feira no Diário Oficial da União, que autoriza o governo a oferecer garantias de até R$ 20 bilhões para a operação de financiamento entre o banco e o consórcio operador do trem de alta velocidade (TAV).
Na União das Repúblicas Soviéticas do Brasil, os negócios funcionam assim. O Estado Forte sempre ajuda quem, em tese, não precisa tanto. Sejam empreiteiros, banqueiros e funcionários públicos já bem remunerados. Banco Central, BNDES e outros bancos estatais são verdadeiras mães para o empresariado que quer sempre o dinheiro público para que não haja perdas em suas contas pessoais. Capitalismo de Estado é assim mesmo. Então, vamos dar um aumento salarial para a Mãe Dilma e deixá-la governar para seus sovietes sempre ávidos por um dinheirinho...
Quem quer dinheiro?
Como recordar é sempre ficar PT da vida, reveja Lula no programa Silvio Santos, durante a campanha de 1989. Vale a pena ver de novo? Acho que não vale não. Mas, em todos os casos...
Jorge Serrão é Jornalista, Radialista, Publicitário e Professor. Editor-chefe do blog e podcast Alerta Total: www.alertatotal.net. Especialista em Política, Economia, Administração Pública e Assuntos Estratégicos.
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