A mudança é lenta e não chega a ameaçar o reinado do trio tradicional neutro que cobre cerca de 70% da frota brasileira, mas anima montadoras e fabricantes de tintas a ousarem um pouco mais.
A General Motors prepara para a linha 2012 duas novidades em tons vermelho, um sólido e outro metálico. "De três anos para cá começamos a ver mudanças na preferência dos consumidores por carros mais coloridos", afirma Cristina Belatto, gerente de Color & Trim da montadora.
"Os brasileiros romperam a barreira do preconceito e estão se abrindo mais para cores diferentes", constata Fabrício Biondo, gerente de planejamento de marketing da Volkswagen.
Com a melhora na renda principalmente da classe C - a que mais compra carro novo atualmente -, Biondo diz que os consumidores passaram a analisar melhor as opções de cores oferecidas pelas empresas. "As pessoas começaram a se dar ao luxo de escolher um produto da cor que gostam, que gera maior satisfação, sem se preocupar tanto com o valor de revenda."
Considerada característica única do mercado brasileiro, de acordo com as fabricantes, veículos coloridos se desvalorizam mais na hora da revenda.
O gerente de vendas de seminovos da concessionária Itororó, Cleber Bocchi, afirma que, à exceção dos populares, modelos de cores berrantes perdem dinheiro na revenda. "Brasileiro gosta de prata e preto e as cores que saem disso têm maior encalhe".
Segundo Bocchi, o tempo para venda também é maior. Ele cita o caso de um utilitário-esportivo Mitsubishi TR4 vinho metálico que ficou na loja cinco meses. "Uma versão em prata que recebemos foi vendida em 20 dias", compara.
O vice-presidente da GM, José Carlos Pinheiro Neto, diz que um automóvel vermelho perde no mínimo 5% na revenda em relação a um similar neutro. Ainda assim, a montadora não deixará de investir nas tonalidades mais fortes.
O amarelo, que até 2007 cobria apenas 2% dos modelos da marca, agora está em 5%. O prata, preto, cinza e branco correspondem a 75% das vendas e Biondo reconhece que, mesmo os coloridos ganhando alguns pontos, os neutros continuarão liderando a preferência dos consumidores.
Tons mais chamativos acabam tendo sucesso em modelos específicos. Na linha Fiat, as variações de cinza (prata, grafite, chumbo) respondem por até 60% das vendas.
No caso do novo Uno, lançado em maio, o comportamento do consumidor é diferente. De acordo com o diretor de produto Carlos Eugênio Dutra, variações de prata e cinza correspondem a 40% das vendas, enquanto o vermelho fica com 20% e o amarelo, o verde e o preto com 10% cada. Azul e outras cores respondem por 5% cada.
O Uno foi totalmente renovado em relação ao modelo anterior, o Mille, e as cores foram pensadas para reforçar a nova forma - que Dutra identifica como quadrada redonda - e para o modelo se sobressair nas ruas. "Muitas vezes o prata e o cinza se misturam com a poluição, com o asfalto e não chamam tanta atenção", afirma.
Normalmente, modelos clássicos costumam ter cores mais sóbrias. Entre os consumidores do sedã Honda Civic, 88% ficam com prata e preto e suas variações. O dourado atrai apenas 5% dos clientes, de acordo com o gerente comercial Alberto Pescumo.
Na linha Fit há abertura um pouco maior para cores como vermelho. No lançamento da primeira versão do Fit, a Honda chegou a oferecer uma opção de verde. "Tivemos de dar descontos para vender", lembra o executivo.
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