Fordlândia I
Santarém, no Pará, riqueza em águas suterrâneas que podem abastecer o mundo por 300 anos |
Hiram Reis e Silva, Santarém, PA
“Há mais pessoas que desistem, do que pessoas que fracassam!”
(Henry Ford)
Nosso Bom Amigo
Nos idos de 1980 e 1981, tive a rara honra e o feliz privilégio de comandar um pelotão de Cadetes da Arma de Engenharia da Academia Militar das Agulhas Negras. Eram 28 jovens entusiastas de todas as origens, matizes, ideários, formação e, aos poucos, fomos, juntos, formando um grupo solidário e competente que mais tarde iria prestar relevantes serviços ao Exército Brasileiro e à nossa querida nação. Recebi, com muito orgulho, no ano de sua Declaração de Aspirantes, em 1982, uma bela homenagem materializada em uma das páginas da Revista Agulhas Negras em que eles me chamavam de “Bom Amigo” e diziam ter sido eu um amálgama que unira aquelas tão distintas criaturas em prol de um único propósito – trabalhar incessantemente pela construção de um país mais justo e mais perfeito. Emoldurei a página e a trato, desde então, como um troféu, um galardão que me serve de inspiração e estímulo sempre que vivencio momentos difíceis na minha vida.
Carta Aberta
Anos depois posso dizer com orgulho que das 28 sementes lançadas, 27, pelo menos, caíram em terra fértil e hoje, através de correspondência eletrônica ou correio, recebo seu apoio ao Projeto Aventura Desafiando o Rio-Mar e a mim, em particular, das mais diversas formas. Um resultado de mais de 96% de sucesso em um grupo deixaria qualquer gerente de recursos humanos bastante satisfeito. Nos idos de 1986, a grande maioria destes jovens oficiais foi capaz de entender a Carta Aberta, devidamente identificada e assinada, que eu, então Capitão Comandante do Curso de Engenharia do Centro de Preparação de Oficiais da Reserva de Porto Alegre (CPOR/PA) enviei à Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO), RJ, endereçada ao então Ministro do Exército Leônidas Pires Gonçalves, criticando sua administração que se preocupava exclusivamente com instalações físicas e equipamentos, esquecendo que a peça fundamental que move os Exércitos é o Homem. Enviei, também, uma cópia a alguns de meus ex-Cadetes explicando minhas motivações e solicitando que acompanhassem à distância o desenrolar dos fatos. Não pedia, absolutamente, apoio nem solidariedade muito menos que imitassem minha atitude.
Primeiro a Instituição
Sempre afirmei a todos que privam de minha amizade, que a secular Instituição Militar a que pertenço era muito mais importante que minha própria carreira, não me importava em absoluto com o que aconteceria comigo e sim que medidas saneadoras fossem implantadas pelo alto escalão, o que finalmente ocorreu, embora algumas autoridades tenham afirmado, aleivosa e categoricamente que as mesmas, desde há muito, faziam parte de seu planejamento. A motivação de meu protesto não foi econômica, midiática ou qualquer outra que não fosse a de mostrar aos nossos superiores que a tropa ia mal e que precisava, sim, ser mais bem equipada, adestrada, mas, fundamentalmente, valorizada. Achava eu, na época, que os jovens capitães da EsAO fossem capazes de se manifestar corajosamente e alterar os rumos da política preconizada pelo Ministro Leônidas, ledo engano. Os tempos eram outros e, infelizmente, o idealismo e o desprendimento de outrora fora substituído pelo pragmatismo e pelo carreirismo. Os resultados de minha desdita foram uma transferência para Aquidauna, MS, e vinte e dois dias de prisão. Guardo com carinho minha única punição como Oficial do Exército Brasileiro. Considero-a um elogio posto que o próprio Comandante do CPOR/PA assim se referiu em Boletim Interno: “Ainda que movido por elevados ideais...”. Até hoje agradeço a Deus os felizes momentos decorrentes do fato que permitiram estabelecer novas amizades, robustecer antigas além de ser estimulado por empresários locais a me tornar canoísta profissional e posteriormente, graças a isso, sagrar-me campeão Mato-grossense, em 1989.
Comandante Aguinaldo
Hoje a maioria de meus antigos Cadetes já está na reserva, em funções chaves da administração militar ou ainda no comando. Este ano recebi apoio de um deles que sempre me foi muito caro, o ex-Cadete 44 Aguinaldo, companheiro de trabalho no 9º Batalhão de Engenharia de Combate, Aquidauana, MS e hoje Comandante do 8º Batalhão de Engenharia de Construção. Apenas para ilustrar o prestígio e o apreço que a Força tem pelo Coronel Aguinaldo basta dizer que ele comanda uma das Unidades Militares mais importantes do Exército Brasileiro sem possuir o curso da Escola de Comando e Estado-Maior (ECEME), fato extremamente raro na atualidade. Graças à sua liderança e competência profissional incontestáveis, ainda que tenha assumido um Comando em situação extremamente difícil conseguiu imprimir novos rumos à sua administração atingindo todos os objetivos propostos além de ganhar a confiança das comunidades que orbitam na sua área de atuação. Graças a este dileto amigo e ao General Lauro, Comandante do 2º Grupamento de Engenharia (2° Gpt E), cumprimos mais esta etapa do Projeto com muita tranquilidade, segurança e com a importante e necessária cobertura da mídia Santarena. Mais uma vez solicitei o apoio do coronel Aguinaldo para subir o Tapajós no Piquiatuba, no que fui prontamente atendido, para dar andamento à Operação Tapajós.
Viagem à Fordlândia
(25 de janeiro de 2011)
Fordlândia, cidade construída por americanos na primeira metade do século XX. Durante a II Guerra Mundial, muitos seringueiros vendiam borracha à fábrica da Ford. Foto: Fábio Tito |
“A chegada dos americanos ao Tapajós causou uma verdadeira revolução em todo o Rio. Aqueles homens muito brancos, louros, de olhos azuis, falando uma língua diferente era a mesma coisa que a Terra fosse invadida por seres de outro planeta”.
(Eymar Franco - O Tapajós que eu vi)
Partimos às cinco horas, do dia 25 de janeiro, no Barco Piquiatuba, com destino à Fordlândia (S3º49’47,3”/W55º30’02”), 196 km de distância subindo o Rio Tapajós. As belas praias de Maracanã, Ponta de Pedras, Alter do Chão, Araria, Carapanari, Jutuba, Maria José, Pajuçara, Ponta do Cururu e Salvação ainda não tinham sido tragadas pela cheia e proporcionavam um belo espetáculo. A viagem transcorreu sem novidades nas águas espelhadas de um, momentaneamente, plácido Tapajós. Depois de navegar aproximadamente 165 km, aportamos em Aveiro (S3º36’23,3”/W55º19’55,50”), antiga aldeia de índios Munducurus, oriundos do alto Tapajós (“Tapajós-Tapera”), por volta das catorze horas. O Padre Sidney Augusto Canto, que nos acompanhava, tentou localizar um guia que nos levasse, depois de visitarmos Fordlândia, ao Rio Cupari e ao famoso “Convento” (Fábrica ou Igreja) citado pelo Padre João Daniel no seu “Tesouro Descoberto no Máximo Rio Amazonas”, editado pela primeira vez em 1820. Feitos os devidos acertos rumamos para Fordlândia onde aportamos por volta das dezoito horas, depois de passar pelo Rio Cupari (Curipará), quinze quilômetros a montante de Aveiro, a meio caminho da cidade de Ford. Fizemos uma rápida visita às antigas instalações e antes de retornar ao Piquiatuba conhecemos Guilherme Lisboa, ex-funcionário da Receita Estadual, que gentilmente nos levou até sua casa onde passamos alguns descontraídos momentos. O Guilherme deixou sua camioneta à disposição do Sargento Barroso para que pudéssemos conhecer parte do Projeto que Ford tentou, sem sucesso, implantar na Amazônia.
Fordlândia nasceu da tentativa de Henry Ford de criar no Brasil, uma base produtora de borracha , para suprir suas fábricas nos Estados Unidos |
No dia seguinte, a chuva continuava sem dar trégua. Aproveitamos a camioneta do Guilherme, pilotada pelo Sargento Barroso e nos dirigimos diretamente à Vila Americana onde se situavam as casas dos administradores, e que possuía, na época, jardins bem cuidados, gramados para golfe, quadras de tênis, piscina, campos de futebol, clube e cinema. Depois da Vila Americana, percorremos as demais instalações observando o descaso do poder público com as sólidas instalações que poderiam ser preservadas e transformar-se em fonte de renda para o município de Aveiro. Para que os leitores possam ter uma idéia da nossa emoção em percorrer o cenário hoje totalmente degradado de alamedas outrora vicejantes e entender a importância da implantação do Mega Projeto de Ford na Amazônia, em meados da década de vinte do século passado, vamos fazer uma pequena digressão histórica, a respeito, no próximo capítulo.
Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva
Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA); Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS); Acadêmico da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB); Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS); Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional.
Site: http://www.amazoniaenossaselva.com.br
E–mail: hiramrs@terra.com.br
Imagens da Internet - fotoformatação (PVeiga).
Um comentário:
Oi Pedro tudo bem!!!
Qdo tempo q não venho aqui!!
passando pra deixa uma ótima semana pra vc!!!
Gostei do blog esta muito legal...parabéns!!!
beijos.
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