segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

DESAFIANDO O RIO-MAR - PARTIDA PARA JURUTI

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Hiram Reis e Silva, Oriximiná, PA

“Juruti: missão, que extrai este nome de Lago, em que foi estabelecida no ano de 1818: cujo Lago jaz na margem austral do Amazonas pouco arredado dela para dentro, e da montanha dos Parintins, que lhe demora à esquerda. Ali habitam 385 indianos, Mundurucus e Maués de ambos os sexos debaixo da direção de um missionário congruado como o de Curi. A Igreja é consagrada a Nossa Senhora da Saúde, e filial de Matriz da Vila de Faro. Na circunvizinhança deste Lago são as florestas abundosas de salsa e cravo. No mesmo Lago também residem alguns brancos, que fabricam guaraná, farinhas de mandioca, agricultam algodão, e sacam da espessura salsa e cravo”. (Antônio Ladislau Monteiro Baena - 1839)

Foto: Vander Nascimento
Juruti é um município do Estado do Pará,
possui uma população de aproximadamente
38.000 habitantes, e hoje está recebendo
grandes investimentos através da
instalação da mina de bauxita da Alcoa,
que também compreende uma ferrovia e um
terminal portuário.

Partida para o Rio do Balaio

(11 de janeiro de 2011)

Por estes amazônicos acasos encontrei Ângelo Corso em Parintins. O Ângelo está subindo o Amazonas a partir de Santarém, pretende subir o Rio Negro, alcançar o Orenoco, pelo canal Cassiquiare, e chegar ao Caribe venezuelano, eu havia tomado conhecimento de sua proposta por e-mail onde ele comentara que talvez pudéssemos nos encontrar pelo caminho. Depois de passar pouco mais de um mês em Santarém, iniciou sua lenta jornada até Parintins onde permaneceu igual período e onde nos encontramos. O Ângelo deixou seu caiaque, na véspera da partida, no Piquiatuba e partimos por volta das 5h30, ele subindo e eu descendo o Rio Amazonas. Os banzeiros me acompanharam todo o trajeto dificultando e atrasando bastante a progressão, mesmo assim, consegui imprimir um ritmo forte por volta de 3 horas, fazendo minha primeira parada num pequeno braço do lago interno da Ilha de Parintins, depois de remar mais de 30 quilômetros. Descansei um pouco e continuei minhas remadas até encontrar a equipe de apoio, logo abaixo, na foz do Paraná de Parintins tirando fotos de uma pequena preguiça capturada por um ribeirinho. Troquei meu cantil vazio por outro cheio e parti imediatamente, enfrentando os fortes banzeiros que assolavam as costas da Serra de Parintins.

Serra de Parintins: elevação de altitude máxima de 152m na divisa do Estado do Amazonas com o Estado do Pará. Conhecida também de Serra Valeria em homenagem à moradora mais antiga do local.

O local de parada programado não possuía um bom abrigo para o Piquiatuba e tive de estender minha jornada por mais de 13 quilômetros até a foz do Rio do Balaio. O Rio permite que se acesse a sede da Vila de Juriti Velho, situada no aprazível Lago Grande do Juruti Velho.

Partida para o Lago Grande de Juruti Velho

(12 de janeiro de 2011)

O Sargento Aroldo Sérgio Barroso, prático do Piquiatuba, chegou de madrugada e, finalmente, passou a integrar a tripulação. Depois de confirmar com o Barroso se ele conhecia suficientemente a região do Lago, decidi alterar a programação já que estávamos há apenas 24 quilômetros de Juruti, nosso próximo objetivo. Partimos, no Piquiatuba, às cinco horas admirando as belas paisagens do Lago e da serra do Xituba, do Rio Balaio até chegarmos à Vila de Muirapinima (Juruti Velho) no Lago Grande. No trajeto observamos bandos de belas garças, patos selvagens, biguás e marrecas de várias espécies. Dois animais, em especial, chamaram minha atenção uma pequena garça negra voando com suas irmãs imaculadamente brancas e um pequeno baiacu de rio.

Garça negra (Egretta gularis): semelhante à garça-branca-pequena. Distingue-se pela plumagem escura, quase negra, queixo branco, pelo bico ligeiramente mais longo e pelas tonalidades amareladas no bico e nos tarsos.

Baiacu-amazônico (Colomesus asellus): normalmente encontrado em águas doces embora tolere águas levemente salobras. Relativamente pequeno, atinge no máximo 15 cm. As faixas negras no dorso são grossas e possui também uma faixa negra ao redor da nadadeira caudal. Esta espécie não possui os característicos espinhos grandes, grossos e triangulares dos baiacus de espinho. Os baiacus tem o fígado impregnado por um poderoso veneno (tetrodoxina) apenas porque consomem alimentos tóxicos como estrelas do mar e moluscos. Criados em cativeiro e com nutrientes adequados os animais não apresentam nenhum nível de toxidez.

Partida para Juruti

Retornamos à foz do Rio do Balaio, e parti, de caiaque, por volta das dez horas com destino a Juruti enfrentando fortes banzeiros. O Piquiatuba ancorou junto ao porto, colocamos o Cabo Horn no convés inferior e de repente o barco foi invadido por populares que procuravam entrar no barco de passageiros que estacionara ao lado do nosso. Passado o “paraense tumulto” o Sargento Barroso foi manobrar para colocar a embarcação em um lugar mais calmo quando a corrente do leme arrebentou e enroscou na hélice quebrando-a. A tripulação levou quase 24 horas para fazer a devida substituição.

Lago Jará

Um dos mais populares balneários da
cidade de Juruti, formado pelo lago
do Jará. Seus segredos e lendas
encantam os visitantes, outro atrativo
é o passeio de canoa em seu melhor
horário, o final da tarde.
http://www.nacaoturismo.com.br/
UF/PA/cidades.as

Fiz contato com a Polícia Militar do Estado do Pará, pela primeira vez, através do “190” e o Tenente Helder imediata e gentilmente nos atendeu assumindo o compromisso de contatar elementos da prefeitura e da Omnia - Grupo Alcoa. Graças ao irmão (maçon) Edilson Pereira, amigo do Teixeira, conhecemos as belas instalações da Loja Maçônica General Adalberto Coelho da Silva acompanhados pelo Venerável Albany e do 2º Vigilante Charles. A cerimônia de Sagração da Loja, realizada em agosto de 2010, contou com a presença do Grão Mestre do Grande Oriente do Estado do Pará, Waldemar Chaves Coelho, do Grão Mestre Adjunto Raimundo Farias além de vários Maçons de Belém, Santarém e Oriximiná. Conhecemos, também, na mesma oportunidade, o lago Jará. O Lago é Área de Proteção Permanente (APP), está localizado na sede do município de Juruti e é utilizado para a pesca, lazer e navegação. Infelizmente, a retirada sistemática da mata ciliar a ocupação desordenada, colocação de lixo no Lago ou nas suas proximidades e outros usos inadequados vêm causando uma progressiva e alarmante degradação do manancial.

Prefeito Municipal

No dia seguinte o Tenente Elder da Polícia Militar tinha agendado uma entrevista nossa com o prefeito e seus secretários. O Prefeito de Juruti, Henrique Costa, costuma reunir semanalmente seus assessores em um balneário às margens do Lago Jará. Degustamos um café regional enquanto aguardávamos a presença do prefeito aproveitando para conhecer os membros de sua equipe. Logo que o Prefeito chegou fiz uma abordagem geral sobre o projeto para todos os presentes ao mesmo tempo em que solicitava um contato pessoal com seu Secretário de Cultura e algum pesquisador ou pesquisadora ali presente. O Prefeito ouviu atentamente a explanação e colocou à minha disposição dois membros de seu staff. Irei tratar, em outra oportunidade, dos assuntos tratados já que ambos ficaram de remeter para o meu e-mail o material solicitado.

Alcoa

O Tenente Elder providenciou para que no dia 13 de janeiro, à tarde, fizéssemos contato com a Superintendente Juana Galvão. Expliquei à Juana os objetivos do Projeto e ela ficou de remeter o material solicitado via e-mail. Tenho curiosidade em conhecer as ações comunitárias e de meio-ambiente levadas a efeito na empresa.

Festival das Tribos

O evento mais importante da cidade é o Festival das Tribos que acontece no final do mês de julho com a participação das tribos Mundurukus e Muirapinima. As tribos recebem total apoio da Prefeitura para o evento. A paixão da população pelas duas tribos é similar às torcidas do Caprichoso e Garantido de Parintins. No ano passado foi realizado, no Tribódromo, o XV Festival das Tribos Indígenas de Juruti sagrando-se vitoriosa a tribo Azul e Vermelha, Muirapinima.

Terras Caídas

“Denominação dada na Região Amazônica ao escavamento produzido pelas águas dos rios, fazendo com que os barrancos sejam solapados intensamente, assumindo por vezes aspecto assustador. Em alguns casos, podem-se ver pedaços grandes de terra sofrerem deslocamentos como se fossem ilhas flutuantes”. (A. T. Guerra)

Nenhum fenômeno das “terras caídas” foi tão desastroso como o que ocorreu em Juruti na década de 1980. A cidade, na sua origem, construída em terra firme teve, ao longo dos tempos, sua frente aumentada por sedimentos carreados pelo rio Amazonas. Com o passar dos anos o nível do depósito foi se elevando e os moradores passaram a construir edificações e ruas. A associação do aumento significativo do peso sobre o instável depósito e as frequentes mudanças na dinâmica do Rio, finalmente, romperam o equilíbrio e tudo desceu levado pelas águas. O Rio, no dia dos pais, em 1984, retomou praticamente 200 metros da cidade em um intervalo de tempo que durou das 20h30 até a meia noite.

Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva

Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA); Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS); Acadêmico da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB); Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS); Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional.

Site: http://www.amazoniaenossaselva.com.br E–mail: hiramrs@terra.com.br

Imagens da Internet - fotoformatação (PVeiga).

Um comentário:

Anônimo disse...

Estou prestes a conhecer Juruti,e quem sabe ficar por lá de vez, e as informações aqui postadas contribuíram para meu conhecimento teórico da cidade e me motivou mais anda a conhecer esse singelo,simples mais no entanto, belo local.