domingo, 21 de agosto de 2011

ANTÔNIO COLLI, UMA MAGNÍFICA RECEITA

"Se na vida tivéssemos certeza de tudo, a dúvida nos mataria"-Gudé.

Por José Eugênio Maciel

“Para conseguir a amizade de uma pessoa digna é preciso desenvolvermos

em nós mesmos as qualidades que nela admiramos”

Sócrates

Ele falava com o coração repleto de bondade e gentileza. Proporcionava a cada ser humano atenção singularmente afetuosa. A voz baixa e terna se caracterizava pela serenidade. Até os mais apressados acabam observando a harmonia dos gestos marcadamente humanos.

Sabia servir, oferecia o melhor, não conseguia ser de outro modo que não fosse útil, aliás, imprescindível, tornando-o, desde já, uma falta imensurável: Antônio Colli.

O sabor da vida acontece como um bom prato, a escolha dos produtos, o ritual para a confecção, o ponto certo e o Antônio Colli tinha o toque único, os conhecimentos amealhados e compartilhados no momento oportuno, preciso, adequadamente. Não tinha segredo, embora parecesse em razão da esmerada culinária ser simples ao mesmo tempo sofisticadamente própria e espetacular, a provocar água na boca, saciar os mais exigentes paladares.

A amizade ele sabia fazer abundantemente e com modos peculiares, geniais. Com arte cativava e cultivava cada amigo com único, especial.

Ele nos deixou a sua receita ilustrada de pormenores elencados no livro de uma vida admirável, tratando-se de um rico e exemplar legado. E o desafio é e será o de continuar, mesmo que não se trate de copiá-lo apenasmente. Tarefa nada fácil, sem o mestre cuca que proporcionava segurança, tranquilidade com a sua presença na cozinha, no salão, servindo, comandando com o seu olhar preciso, atento.

Ao receber os amigos, a fraternidade era espontânea e se dava antes de tudo, posteriormente o freguês, “seu” Antônio chamava a todos pelo nome e perguntava se estava tudo bem, os saudava expressando estima particular. Não perguntava segundo o interesse dele como comerciante tal como “faz tempo que não vem por aqui”. Mesmo aqueles que estabeleciam com ele o primeiro contato, a sensação era de serem velhos conhecidos.

Entre muitas qualidades, como a de esposo e pai/avô zeloso, tinha uma personalidade sempre afável, humilde, acessível, extremamente humano, trazendo no semblante a dignidade em cada gesto.

Era também capaz de amealhar com a sua memória prodigiosa nomes do seu vasto e variado círculo de amizades como se todos eles fossem pratos prediletos pertencentes a sua notável culinária. No meu caso, além de contumaz saudação, ele percebia e logo me dizia, “Maciel, daqui a pouco vem o filé de frango que tanto você aprecia!”. A lembrança e a referência eram os ingredientes que somente ele sabia quanto, como e o momento de prepará-los, com um toque pessoal simples e de requinte ao mesmo tempo.

A vida tem que seguir, mesmo que não seja a mesma sem aquelas pessoas que nos são tão caras, e o estimado Antônio Colli é como o prato que se quebra, a toalha xadrez retirada da mesa para ser estendida no varal do destino inverso da vida. Como o vinho bebido no findar doído de uma partida sempre sentida, a ser enaltecidamente lembrada com enorme e ímpar consideração, digna da grandeza dele.

Um comentário:

Anônimo disse...

este realmente era o Cara.....