Por João Bosco Leal
É interessante como a observação da vida nos mostra coisas que jamais imaginaríamos, apesar de estarem ao nosso lado diariamente desde o nascimento. São as coisas mais comuns, abundantes, tão próximas e tão importantes que não se fazem notar, como o ar que respiramos.
Confesso que nunca observei ou dei atenção a coisas que atualmente considero importantíssimas, como a acessibilidade, praticamente inexistente ou, quando existe, totalmente desrespeitada em nosso país.
Imagino que isso deve ocorrer com a grande maioria das pessoas, pois o egoísmo natural do ser humano é tão grande que ele só se sente o que lhe faz falta, como percebo agora que sempre foi o que me ocorreu.
Sempre respeitei coisas que, penso, a maioria das pessoas aprendeu em casa ou na escola, como as vagas nos estacionamentos destinadas a pessoas com necessidades especiais, como deficientes físicos ou idosos.
Entretanto, só depois de ser um desses é que realmente passei a observar o atraso existente em nosso país quanto à observação, pelo poder público e pela população, de regras básicas que deveriam ser observadas para a inclusão dessas pessoas na plenitude da vida em sociedade.
A ocupação indevida das raras vagas nos estacionamentos destinadas a idosos ou deficientes físicos, por madames, jovens ou qualquer outro tipo de pessoa é corriqueira e as explicações são sempre as mesmas: foi rapidinho, era só por um instante, ou algo semelhante.
E exatamente nesse momento, enquanto essa rara vaga era ocupada, rapidinho, por quem não devia, a pessoa para quem ela havia sido destinada chega e como ela estava ocupada, foi obrigada a procurar outra, normalmente bem mais distante, e vir caminhando, com toda sua dificuldade.
Órgãos públicos em geral são os maiores infratores, raramente possuindo vagas, senhas para atendimento preferencial, ou qualquer outro tipo de facilidade para essas pessoas, principalmente, imagino, por um motivo muito simples: os políticos só pensam em quantidade de votos e defender minorias nunca foi a atividade de quem quer ser lembrado e escolhido pela maioria. Como o IBGE mostrou em sua última pesquisa que os idosos ou portadores de algum tipo de deficiência, seja auditiva, visual ou de locomoção, já são 15% da população brasileira, ou algo próximo de 18 milhões de eleitores, provavelmente os políticos que tomarem conhecimento dessa pesquisa começarão a repensar seu comportamento.
Participando recentemente de uma exposição de obras de um artista amigo, realizada na Casa da Cultura de Campo Grande, MS, uma capital de estado, não pude ver toda a coleção, pois a maioria estava no andar superior, de acesso impossível para um cadeirante, ou qualquer outra pessoa com dificuldades de subir uma escada, pois essa Casa da Cultura não possui um elevador que leve ao andar superior.
Por se tratar de um prédio histórico, os arquitetos responsáveis pela última reforma do prédio não se preocuparam, ou não foram capazes, mesmo com toda a tecnologia atual disponível, de encontrar uma alternativa para adicionar um elevador, ou de acabar com as escadas existentes entre uma sala e outra do prédio, para permitir o acesso indiscriminado das pessoas, sem influir arquitetonicamente no prédio.
Atualmente todos discutem a inclusão social dos menos favorecidos, com preocupações com saúde, educação, moradia e lazer, mas situações como essa mostram, na prática, o desrespeito com que a sociedade brasileira trata esses seus irmãos.
Nenhuma sociedade poderá crescer sem a inclusão total de todos os seus, independentemente de idade, instrução, raça, cor, credo, ou necessidades.
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