Hiram Reis e Silva, Porto Alegre, RS, 18 de agosto de 2011
Ser bandeirante é deixar atrás a casa e família, o bem estar e a segurança, para perseguir o sonho e tentar a casa da glória, é viver silencioso e otimista na brenha onde não há rumos, no campo onde não há divisas, estremecer às vezes de febre, mas nunca tremer de medo, é sofrer com alegria o sol dos chapadões e resistir sem queixa nos aguaceiros de dezembro, é combater no varejo as cachoeiras e investir, de simples facão à cinta, contra a floresta. (Gofredo T. da Silva Teles)
Em 1937, na cidade de Genebra, o Barão Shudo, representante do Japão, sugeriu no plenário da Sociedade das Nações (embrião da ONU), que as nações que dispusessem de áreas inexploradas e sem desfrutar de seus recursos naturais, deveriam permitir seu aproveitamento racional por países capazes de explorá-las “para o bem comum dos povos”. O Governo japonês tinha intenção de alojar vinte milhões de japoneses na Amazônia Brasileira.
Com a ascensão do nazi-fascismo ganhou corpo a doutrina do “espaço vital”. O Brasil era um dos alvos dessa doutrina, pois, na época, mais de 90% da nossa população se achava distribuída por pouco mais de um terço de nosso território. Em pleno século XX, grande parte do território nacional era praticamente despovoado e desconhecido pela maioria dos brasileiros. Com o advento II Guerra Mundial e o torpedeamento de navios brasileiros ao longo de nossa costa a Capital Federal mostrava-se extremamente vulnerável a um ataque inimigo.
O Presidente Getúlio Vargas, preocupado com o grande vazio demográfico das regiões Norte e Centro-Oeste cobiçadas por países estrangeiros para assentamento de seus excedentes populacionais e a vulnerabilidade de nossa Capital, criou, em Setembro de 1942, a Comissão da Coordenação da Mobilização Econômica cujo primeiro coordenador foi o Ministro João Alberto Lins de Barros. Além de melhor coordenar o funcionamento da economia brasileira no contexto de emergência gerado pela entrada do Brasil na guerra, era encarregada de estimular o desbravamento e povoamento das regiões desabitadas.
- Ministro João Alberto Lins de Barros
Trabalhou pela candidatura oposicionista de Getúlio Vargas à presidência da República. Com a derrota de Vargas no pleito de março de 1930, dedicou-se à preparação do movimento revolucionário que derrubou o presidente Washington Luís em outubro daquele ano. Após a instalação do novo regime, foi nomeado por Vargas delegado militar da revolução e, posteriormente, interventor federal no estado de São Paulo numa gestão marcada por medidas polêmicas.
Em abril de 1932, assumiu a chefia de polícia do Distrito Federal e, em 1934, elegeu-se Deputado Federal constituinte por Pernambuco, na legenda do Partido Social Democrático. Entre 1941 e 1942, exerceu o cargo de embaixador do Brasil no Canadá. Em setembro de 1942, no contexto da participação brasileira na Segunda Guerra Mundial, foi nomeado presidente da recém-criada Coordenação de Mobilização Econômica, que tinha poderes para intervir em assuntos relativos a controle de preços, estabelecimento de metas de produção, abastecimento e planejamento do sistema de transportes. A partir do ano seguinte, passou a acumular a presidência da também recém-criada Fundação Brasil Central (FBC), cujo objetivo era promover o povoamento das regiões Norte e Centro-Oeste.
- Organização da Expedição Roncador-Xingú
Nos primeiros dias de sua gestão o ministro João Alberto assinou uma Portaria organizando a expedição Roncador-Xingú nos seguintes termos:
O coordenador da Mobilização Econômica, usando das atribuições que lhe confere o decreto-lei n. 4.750, de 28 de setembro de 1942, e devidamente autorizado pelo Exmo, senhor Presidente da República, considerando a necessidade de criar vias de comunicação com o amazonas, através do interior do país: Considerando a necessidade de explorar e povoar o maciço central do Brasil nas regiões cabeceiras do rio Xingu, atualmente das mais desconhecidas da terra: Considerando que esta exploração constitui um passo decisivo para a realização do programa do Governo, sintetizado na “Marcha para o Oeste”, resolve:
1) Organizar a Expedição Roncador-Xingu, com os seguintes objetivos:
a) partindo da cidade de Leopoldina, sobre o rio Araguaia, e Goiás, seguindo a direção geral de noroeste, rumo a Santarém, sobre o amazonas;
b) Procurar o ponto mais favorável sobre o rio das Mortes e fundar um estabelecimento de colonização;
c) continuar a marcha, galgando a zona do Roncador e fundar no ponto mais conveniente, que ofereça condições de clima, terras próprias para agricultura e facilidade para o estabelecimento de um campo de aviação, um núcleo de civilização que servirá de ponto de apoio cara o prosseguimento da expedição e exploração do território;
d) invernar neste local, preparando o campo de aviação e iniciando trabalhos agrícolas e de construção:
2) O segundo escalão da expedição deverá partir de Leopoldina, logo que seja atingido o objetivo na serra do Roncador com os elementos necessários para melhorar os caminhos e fixar no mínimo, 200 famílias por ano.
3) Serão reguladas com o governo de Mato Grosso as condições da colonização e de policiamento da região.
4) O chefe da expedição deverá apresentar, dentro de oito dias, com a lista do material necessário.
5) Resoluções posteriores regularão os detalhes decorrentes dos trabalhos da expedição.
- Entrevista do Ministro João Alberto (03.06.1943)
No próximo dia 15 de julho partirá uma grande expedição para a Serra do Roncador, rumo às cabeceiras do rio Xingu, abrindo, pelo interior, o caminho que ligará a Amazônia ao resto do país. Leva essa expedição, que será comandada pelo coronel Flaviano Vanique, outras missões, de povoamento, de colonização, de exploração das riquezas naturais e das possibilidades de vida nesse pedaço enorme, que é a maior área desconhecida do mundo, mais desconhecida, mesmo, que as próprias zonas vizinhas ao Himalaia.
Os poucos e audazes exploradores que avançaram pelo Xingu, em direção as suas nascentes, eram orientados, dominados, vamos dizer escravizados, pelo curso das águas, impossibilitando o reconhecimento dos campos além. Uma linha, por exemplo, encobria o rio Fresco, que por muito tempo permaneceu desconhecido, e esse rio, por amostras que temos conosco, é riquíssimo, em suas proximidades, de carvão mineral com 660 calorias, ou seja o melhor que possuímos. Esses expedicionários que partirão em breve, por decisão do Presidente da Republica, vão procurar estabelecer condições de vida para atrair os homens de outras terras, fazendo que estes, por fim, sejam naturalmente atraídos. Cria-se, dessa forma, o espírito de pioneiro, de aventura no bom sentido. Quero fazer uma advertência. Muita gente, ao ler as vossas reportagens, hão de querer acompanhar-nos. Devo esclarecer que não há lugar para turistas nessa jornada. Nem boa cama até às 8 horas, cavalinho selado para um passeio pelos arredores, nem conforto algum. Quem aceitar a missão de importância excepcional, que é a de fazer parte desse grupo de desbravadores, terá que partir levando o espírito preparado para dias duros e difíceis. Os turistas poderão ir no segundo escalão. (...)
A expedição partirá de Leopoldina, atingindo o Araguaia. Levará carretas, pois seria uma das formas de abrir caminho. Carretas desmontáveis, porque, quando se torne necessário, os homens carregarão as carroças. Ninguém poderá voltar. São ou doente, ele permanecerá na expedição, e o objetivo terá de ser atingido, custe o que custar. De Leopoldina, base da exploração: partirão os aviões de reconhecimento. Muitos exames de rotas estão sendo realizados, e não é necessário encarecer a importância, pois aponta as melhores direções para a avançada terrestre, evitando trabalho de ida e volta. Os expedicionários farão a inverna no Roncador, estando sempre em contacto com a civilização.
Duas estações de rádio em terra e transmissor dos aviões manterão sempre em dia o serviço de comunicações. Três rádio-telegrafistas seguirão com eles. Vários cientistas, técnicos, geólogos, homens de estudo, acompanharão o coronel Vanique. Eu desejava ardentemente seguir, mas não é possível abandonar os meus encargos. Irá um irmão meu, Sr. Vicente Lins e Barros, um dos médicos da expedição. Uma vez no Roncador, outro escalão avançará para as nascentes do Xingu e dali para Santarém. É o caminho do amazonas que estará aberto, por dentro do Brasil. Nenhum esforço será poupado para isso, nem será desprezado nenhum dos pontos estabelecidos. Os homens, na invernada, disporão de sementes, querosene, sal e açúcar. Eles farão as suas próprias culturas, orientados por agrônomos que estarão presentes.
O Serviço Nacional de Proteção aos índios estará presente, na pessoa de um enviado do General Rondon, que orientará, em seu setor, os homens da expedição. Os índios, onde há agrupamento humano, aproximam-se. É só lhes dar de comer um pouco de sal. Não queremos, no entanto, trabalho escravo. Levaremos conosco homens fortes, nortistas, jagunços, gente de fibra e de raça. Quanto aos índios, serão encaminhados ao serviço competente, para os cuidados necessários. Eles não são tão ruins, assim. (...)
- Benção da Bandeira Nacional (07.08.1943)
Fonte: O Estado de São Paulo
Numa evocação do São Paulo muito antigo, do São Paulo dos séculos XVII e XVIII, dos bandeirantes que daqui partiam para o alargamento das nossas fronteiras, realizou-se na manhã de ontem, na Basílica de São Bento, uma significativa cerimônia junto ao túmulo de Fernão Dias Pais Leme. (...) Manhã de inverno bandeirante, como que propositadamente encomendada para a evocação da época de Fernão Dias, de Borba Gato, de Anhanguera: e de outros tantos destemidos filhos de São Paulo. A Basílica de São Bento, repleta. Pessoas das mais representativas estiveram presentes a cerimônia da benção do Pavilhão Nacional que seria entregue ao Tenente-Coronel Mattos Vanique, chefe da Expedição Roncador-Xingu. (...)
Após a missa solene, celebrada no altar-mor da Basílica, foi iniciada a cerimônia junto ao túmulo de Fernão Dias Pais Leme, onde se encontrava o Pavilhão brasileiro que damas da sociedade paulistana ofereciam ao Tenente-coronel Vanique, para levar à expedição que, a exemplo das antigas bandeiras paulistas, seguirá para a região do Roncador-Xingu. O Pavilhão foi benzido por Domingos de Silos, o que fez uso da palavra o Sr. Gofredo T. da Silva Teles.
Discurso do Sr. Gofredo T. da Silva Teles
O Pavilhão que aqui tendes, senhores bandeirantes, é um presentes das senhoras de São Paulo, feito por suas mãos. Entregue por suas mãos. Essa dádiva que tem o caráter de uma oferenda votiva, nasce do zelo com que a mulher paulista acompanha sempre os grandes empreendimentos dos filhos de nossa terra. Elas souberam de vossas intenções. Tiveram notícias de vossos propósitos, de vossos sonhos, de vossos preparativos. A viagem, sertão a dentro! Inteiradas do plano audacioso, alegraram-se com a descrição de vossos roteiros temerários. E longe de chorar, ante o quadro da campanha projetada, tiverem orgulho de vossas senhorias. (...)
Acompanhando-vos, em sua imaginação realista, avistam, de longe, vossos pequenos grupos de pioneiros, a salpicar o chão virgem do deserto. Medem as distâncias a percorrer, contam os marcos da caminhada. Elevadas, contemplam vosso avanço contra as barreiras naturais e contra as intempéries, avanço que, apesar dos obstáculos, não se interrompe: o avanço que continua para as metas visadas, desde o primeiro momento e das quais não vos sabereis desviar! (...) Pensai um pouco no que é ser bandeirantes. Fácil sem dúvida, nesta igreja tradicional de São Paulo, beira do túmulo ancestral de Fernão Dias Pais Leme, apreender a significação profunda desta palavra. Ser bandeirante é ser forte e partir, é ser simples e confiar em si. Ser bandeirante é olhar para o sertão que ninguém penetrou e dizer: “Este é o meu sertão!” estender a mão de dono sobre as coisas que parecem fora de alcance, além do poder humano. É preferir o perigo ao lucro, é ser desambicioso, e , ao mesmo tempo, incontentado: modesto e insaciável, é querer avançar pelo gosto de ir mais longe, é gritar: “além”, depois de ter chegado ao fim. Ser bandeirante é deixar atrás a casa e família, o bem estar e a segurança, para perseguir o sonho e tentar a casa da glória, é viver silencioso e otimista na brenha onde não há rumos, no campo onde não há divisas, estremecer às vezes de febre, mas nunca tremer de medo, é sofrer com alegria o sol dos chapadões e resistir sem queixa nos aguaceiros de dezembro, é combater no varejo as cachoeiras e investir, de simples facão à cinta, contra a floresta. (..) Recebido por VS. ante o altar de Deus, será o pavilhão brasileiro durante toda a vossa jornada, o arrimo de vossa fé cristã e o símbolo de vosso ideal patriótico. As bênçãos que o cobriram hoje nesta igreja derramar-se-ão também sobre vossos passos, para que o possais levantar festivamente em cada pausa de vossa caminhada, como a prova cotidiana de vossos triunfos. Levantai-o seguidamente, sobre os campos e as matas de nossa terra. Levantai-o nos sertões de Araguaia, do Rio de Mortes e do Xingu. E ao termo vitorioso da jornada, levantai-o sobretudo nos cimos lendários da Serra do Roncador, para onde se dirigem vossas esperanças de pioneiros. Suba ali o pavilhão brasileiro para que o Vento do deserto desdobre seu pálio auri-verde, sobre os nossos domínios de nossa raça. Içada por vossas mãos desfralde-se a bandeira nacional em pleno dia no topo da cordilheira, alçai-a mais e mais, tanto quanto puderdes. O simbolismo da bandeira erguida no clarão radioso das alturas, dar-vos-á para sempre, senhores bandeirantes, o sentido de vossa obra em favor de nossa pátria.
Depois da locução a senhora Raquel Simonsen passou o pavilhão nacional às mãos do Tenente-Coronel Mattos Vanique. Manifestou-se, então, o Ministro João Alberto afirmando que aquela bandeira haveria de ser honrada, uma vez que seria guardada por mãos de homens fortes bravos, que partiam para o sertão com o intuito de elevar cada vez mais alto o nome de nossa pátria. O Tenente-Coronel Mattos Vanique encerrou a cerimônia agradecendo a bandeira ofertada pelas damas paulistas.
- Partida Expedição Roncador-Xingú (08.08.1943)
Fonte: O Estado de São Paulo
Partiu no de oito de agosto, desta capital, o trem especial da Sorocabana, conduzindo a Expedição Roncador-Xingu.
Como participantes da caravana que partiu da estação de Barra Funda, chegaram anteontem a São Paulo, às primeiras horas da madrugada, os expedicionários procedentes do Rio de Janeiro, e que são os seguintes: Josias de Melo, Alves, Aristide Penteado, Roldão Pires Brandão, Armando F. Silva, José Manuel, Venâncio dos Santos, Isidoro Barreto, Alfredo Maia Dias, Odilon Araujo, Irio Cardoso, José Paiva dos Santos, Elias do Nascimento, Manuel Venâncio dos Santos, Jerônimo Francisco Vilela, Israel Oliveira Rocha, José Miguel Pereira de Sousa, Fábio Marques (farmacêutico), Leon Stoltz, José Araújo e Hélio Barreto.
Discurso do Sr. José de Faria Ribeiro
Brasil: - Faz 30 anos que eu te vi na sentinela avançada do oceano, qual síntese de tua estrutura geográfica nos contornos de Fernando Noronha de onde o farol bendito guia os marinheiros do mundo. (...) Vi-te lá em baixo ainda nas flâmulas que marcavam a procedência de tua cabotagem, na bravura dos teus marinheiros onde corre ainda o sangue dos João Cândido e a heroicidade dos marujos de Garibaldi, nos lanchões dos Farrapos. (...)
Exm° Sr. Coronel Vanique e mais componentes da expedição que segue a marcha para o Oeste. Perdoai se um desconhecido brota do meio de quase dois milhões de habitantes de Piratininga, e vem trazer aqui a visão da terra de seus filhos. Acompanhei a organização desta Bandeira. Tive ânsias de uma liberdade que permitisse juntar-me a ela, talvez como uma de suas figuras menos úteis, mas essa ânsia desapareceu no meio de circunstâncias sem remédio. (...)
Lá do outro lado do Atlântico beira de nosso Portugal de saudades, ribombam os canhões na destruição de uma era em que massas perecem talvez mais por falta de “condutores” do que mesmo de espaço vital e vós, com a visão bem diferente, ides talvez abrir os caminhos que hão de receber amanhã as massas que virão cheias de feridas e cicatrizes, viver talvez dias mais falazes às margens formosíssimas do Araguaia, do Xingu, do amazonas.
Sois portanto a argamassa na construção de um risonho porvir. Sois os semeadores de cidades e vilas. (...)
Na cruz que por certo irá, como nas velhas Bandeiras, guiando os vossos passos, na rota que ides iniciar, irão impregnados os espíritos de Borba Gato, Fernão Dias Paes, Anhanguera e Helmano Pereira da Silva. Eles serão as estrelas guiadoras do vosso roteiro, porém se algum de vós tombar no caminho, passar; a viver como herói, bem diferente do plano, onde irão viver os responsáveis pela página mais negra que passa no mundo neste século que deveria continuar a ser de luzes. (...)
A madrinha da expedição, Srª. Helena Marina da Silva Teles, cujo esposo, segue com a caravana, quebrou em um dos vagões uma garrafa de “vodka” russa. Pontualmente às 12 horas, o trem da Sorocabana deixa a estação da Barra Funda, levando os expedicionários.
- Concentração em Uberlândia
Fonte: O Estado de São Paulo
Estão concentrados em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, os dirigentes da bandeira Roncador-Xingu e os seus principais componentes que devem, dentro de poucos dias, iniciar a arrancada rumo a Goiás, dali prosseguindo para o norte, de conformidade com os planos já estabelecidos, após estudos e preparativos os mais meticulosos e acurados.
Tivemos notícias da grande animação e do espírito esportivo que anima os componentes dessa caravana, ainda em terra mineira, notícias essas atestadoras do ardor e entusiasmo que os empolgam e que é estimulado pela segurança da organização e pelo completo aparelhamento material da nova bandeira. Nunca houve, no nosso país, uma organização tão amplamente abastecida de elementos materiais e tão cuidadosamente orientada, como essa, que se propõe atingir o vale desconhecido do Xingu e, entre este e o Tocantins, devassar o sertão brasileiro de Goiás até o Pará.
Os planos da entrada foram adotados após cuidadosa indagação, colhida não somente entre os nossos sertanistas da Comissão Rondon, como entre os abnegados sacerdotes católicos que, naqueles invictos sertões, realizam hoje o grande trabalho de catequese iniciada no Brasil pelos jesuítas, no século XVI. É um verdadeiro arsenal que essa expedição conduz consigo, habilitando-a a conseguir o seu patriótico “desideratum” com o máximo de segurança e com a adoção de cautelas que, se não suprimem como não podem suprimir, os riscos e incertezas do cometimento, podem certamente reduzi-los a um mínimo que os torna praticamente inexistentes.
Um dos problemas que mais preocuparam os organizadores da expedição foi o encontro com as tribos de selvagens, até agora desconhecidos, e o provável entendimento com os seus chefes e caciques. A missão Rondon já fez grande trabalho; e os sacerdotes católicos vem completando o benemérito tentame, tendo conseguido não apenas a aproximação planejada, mas o estabelecimento de relações que com o tempo só poderão ser mais estreitas e amistosas.
Os índios Chavantes, que eram tidos, até bem pouco, como inabordáveis pela gente civilizada, já tem tido entendimentos cordiais com os sacerdotes e, em particular, com essa figura sugestiva de grande catequista que é o Padre Ripolito Chauvelou; e este já forneceu à expedição informações preciosas sobre a vida desses aborígenes os seus hábitos e a forma de lhes conquistar a confiança e amizade, assim como se dispôs a secundar os trabalhos que a expedição está realizando.
O maior risco a que se expõem os componentes de expedições desse gênero não é o da ferocidade do índio, nem a das feras, mas a insanidade de certas zonas sujeitas a inundações que, nas secas os convertem em charcos e paues, para os perigos da doença, de febres e de impaludismo há, porém, o recurso do aparelhamento médico e farmacêutico, e este nunca foi tão abundante nem tão cuidadosamente selecionado como na atual expedição. E as comunicações pelo rádio com a Capital da República completam essa segurança. (...)
Devemos depositar confiança no trabalho realizado com tantas minúcias e tão belo ardor patriótico; e devemos, principalmente, crer no seu êxito, dado o alto padrão moral dos seus realizadores e a linda finalidade que os conduz - a de conhecer e conquistar a zona interior até agora não periustrada e incorporá-la aos domínios da nossa pátria.
- Declarações do Ministro João Alberto (18.08.1943)
Fonte: O Estado de São Paulo
O Ministro João Alberto reuniu os jornalistas em seu gabinete e concedeu-lhes ma entrevista depois de sua visita de inspeção à Expedição Roncador-Xingu.
É preciso frisar mais uma vez, de modo a não deixar lugar a nenhuma falsa interpretação, que a expedição tem objetivos não apenas desbravadores, mas principalmente colonizadores. Não pode ter a marcha rápida de um meteoro, colhendo aqui e ali informações geográficas ou científicas. Nem tem simplesmente o desígnio de chegar a um determinado lugar sem deixar pelo trajeto nenhum marco de sua passagem. Os lugares atingidos serão lugares conquistados para a civilização, integrados na economia nacional. Cada ponto de pouso se transformará numa base de novas explorações. É coisa sabida que, quanto mais importante é uma base ou um núcleo colonizador, maior o seu raio de ação. Uma base mal suprida e mal equipada não permite senão afastamentos insignificantes. Por isso é que, organizando a expedição, todo o meu cuidado se volta agora para a criação de bases sólidas para o avanço dos exploradores. (...)
Do extremo Norte vai partir também outra expedição rumo ao Roncador, em cuja região se encontrarão com a do Sul, que já está em marcha. Para se encarregar do transporte do pessoal dessa segunda expedição, foi convidado o Sr. Paulo de Assis Ribeiro. A junção das duas expedições significará que o sul estará ligado ao Norte através dos melhores caminhos terrestres. Este será o primeiro e grande serviço que resultará da iniciativa para o progresso do Brasil e recuperação econômica do Norte. Posso assegurar que o empreendimento é de incalculáveis vantagens econômicas para o país.
– Blog e Livro
Os artigos relativos ao “Projeto–Aventura Desafiando o Rio–Mar”, Descendo o Solimões (2008/2009), Descendo o Rio Negro (2009/2010), Descendo o Amazonas I (2010/2011), e da Travessia da Laguna dos Patos I (2011), estão reproduzidos, na íntegra, ricamente ilustrados, no Blog http://desafiandooriomar.blogspot.com.
O livro “Desafiando o Rio–Mar – Descendo o Solimões” está sendo comercializado, em Porto Alegre, na Livraria EDIPUCRS – PUCRS, na rede virtual da Livraria Cultura (http://www.livrariacultura.com.br) e na Livraria Dinamic – Colégio Militar de Porto Alegre.
Para visualizar, parcialmente, o livro acesse o link: http://books.google.com.br/books?id=6UV4DpCy_VYC&printsec=frontcover#v=onepage&q&f=false.
Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva
Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA); Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS); Vice-Presidente da Academia de História Militar Terrestre do Brasil/Rio Grande do Sul; Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS); Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional
Site: http://www.amazoniaenossaselva.com.br - E–mail: hiramrs@terra.com.br
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