Curitiba - Milton Luiz Pereira, ministro aposentado do Superior Tribunal de Justiça (STJ), passou mais da metade dos seus 77 anos de vida ao lado do seu Fusca 1.300 azul. Ele ganhou o veículo como presente da população de Campo Mourão (Região Centro-Oeste), em 29 de abril de 1967, dia em que deixou o cargo de prefeito do município.
''Quando eu estava para transmitir o cargo para o vice-prefeito, vi o Fusca, em frente à prefeitura. Então me disseram que era um presente para mim'', lembra Pereira, que hoje vive em Curitiba.
Formado em Direito na capital paranaense, Pereira havia chegado a Campo Mourão no final da década de 1950, por indicação de um amigo. Sua atuação nos júris locais lhe rendeu fama e, apenas dois anos e meio após chegar à cidade, ele concorreu à Prefeitura do município, em 1962, pelo PDC, partido do então governador Ney Braga. Pereira venceu.
Quando ele estava para encerrar seu período à frente do Executivo, o governo militar prorrogou os mandatos de todos os prefeitos brasileiros por mais um ano. Pereira, que sonhava seguir carreira na magistratura, preferiu renunciar antes. No dia em que deu adeus ao cargo, veio a surpresa.
''Não tinha a menor ideia de que estavam planejando isso. O carro custou 4,3 milhões de cruzeiros. Embora existissem veículos bem mais caros na época, o Fusca tinha acessórios, não foi barato. E foi um presente da população mesmo: uns dois ou três fazendeiros da região poderiam ter bancado sozinhos o presente, mas eu vi a lista de adesão e foi realmente um presente de toda a população de Campo Mourão. Havia uma ou outra contribuição maior, mas de resto as contribuições eram modestas. Na lista, existia até o registro de um morador que havia dado uma galinha para ajudar a comprar o carro. A galinha foi vendida numa feira por 1,5 cruzeiro, e esse dinheiro foi usado na compra'', lembra Pereira.
O Fusca, da primeira série dos 1.300, tem hoje 95% das peças originais. ''Só troquei o que tinha que trocar: carburador, peças enferrujadas, mudei a voltagem'', relata o proprietário. Em 1967, após deixar a Prefeitura de Campo Mourão, Milton Luiz Pereira foi nomeado juiz federal e voltou para Curitiba, onde atuou por 23 anos. Depois, trabalhou em São Paulo e em 1991 tornou-se ministro do STJ, onde ficou até 2002, quando ocorreu sua aposentadoria compulsória.
Nessa trajetória, o Fusca azul foi junto. O ministro aposentado explica que não vende o veículo por duas razões: pelo respeito ao presente da população de Campo Mourão e pelo afeto ao carro. ''Não me desfaço dele, não vendo. Às vezes, quando paro no sinaleiro, me perguntam se não quero vender o Fusca. Mas a estima que eu tenho pelo carro não tem preço'', garante.
Há três anos, a Associação dos Proprietários de Fuscas de Campo Mourão escolheu 29 de abril, o dia em que o presente foi entregue em 1967, para instituir o Dia Municipal do Fusca. ''Ele faz parte da minha vida e da vida da minha família. Todos os meus netos, quando chegam a três, quatro anos, tiram uma foto em cima do Fusca. É uma tradição'', conta Pereira.
texto de: Fábio Galão
Equipe da Folha de Londrina
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