segunda-feira, 21 de junho de 2010

VARRENDO TUDO PARA DEBAIXO DOTAPETE

Uma das características mais espantosas desta eleição tem sido o silêncio de dona Dilma. Ninguém sabe ao certo a que se presta a escolhida pelo presidente mais popular da história recente do país para sucedê-lo. Nada pior para uma democracia como a brasileira, que vive seu mais longevo período de estabilidade.

A intenção do petismo parece clara: transformar Dilma em algo etéreo, para levar os eleitores a fazer exatamente como o presidente Lula mandou na convenção do PT, ou seja, personificá-lo no "vazio" da cédula. É uma espécie de voto eletrônico de cabresto.

Numa mal disfarçada estratégia de fugir de polêmicas, na semana passada a candidata do PT escapuliu para a Europa, dando bolo em debates e sabatinas. De quebra, foi produzir imagens arquitetadas para apresentá-la no horário eleitoral como celebridade política internacional que não é. Mas Dilma é Dilma em qualquer lugar do mundo: em seu tour pelo Velho Mundo, conseguiu superar-se e produziu uma montanha de insignificâncias e grosserias.

Em Paris, onde avistou-se com um constrangido Nicholas Sarkozy, a candidata do PT desdenhou os repórteres que a seguiam (a seguiam não porque estivessem gostando daquilo, mas simplesmente pelo dever de ofício de acompanhar a agenda de uma candidata à presidência da República, fosse ela quem fosse): "Vou fingir que não os conheço, que são todos um bando de argentinos". Espirituosa, essa Dilma; entrou no clima de arquibancada de estádio de futebol...

Minutos antes, exibira toda a sua noção de cidadania e finesse ao pular no meio de carros para atravessar uma avenida parisiense: "Eu não tenho medo nenhum", disse ela. Santo Deus! Medo? Será que esta senhora não sabe o que é boa educação? Em Paris não se atravessa com sinal fechado, muito menos fora da faixa de pedestre! (Como, aliás, já acontece em algumas cidades brasileiras, a exemplo de Brasília. Mas, na sua alienação da realidade, a ex-ministra não deve ter percebido isso nos quase oito anos em que lá vive.)

Ao ausentar-se do país, Dilma fugiu, por exemplo, da sabatina promovida pela Folha de S. Paulo, à qual José Serra deve comparecer hoje. Fugiu de questionamentos da opinião pública; fugiu da possibilidade de esclarecer sua visão sobre os mais diversos e relevantes assuntos; fugiu de deixar de ser o "vazio" nominado por Lula e por ela docemente aceito.

Dilma diz preferir o "quebra-queixo", como os jornalistas chamam as tumultuadas entrevistas em que o mais comum é as perguntas não serem adequadamente formuladas, tampouco as respostas, satisfatoriamente dadas. Fica claro que ideias e propostas estão em terceiro ou quarto planos para a candidata, como, aliás, reza a cartilha do comando de campanha do PT.

Não espanta que a petista não vá comparecer ao debate promovido pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) no próximo dia 1º, como já adiantou. Não quer estar em nenhum lugar em que possa ser devidamente escrutinada. Alega que participará apenas de debates exibidos pelas TVs abertas. Pura tentativa de esconder suas deficiências, já que as regras dos eventos televisivos, pelo menos no primeiro turno, tendem a impedir discussões mais francas - ou dá para esperar coisa diferente de algo com sete candidatos, a maioria ilustríssimas nulidades, em volta da mesa?

Na prática, o que se pretende é não deixar o prezado eleitor saber quem é a candidata na qual querem que ele vote daqui a pouco mais de 100 dias. Tudo parte da "estratégia" petista de reduzir ao máximo a sua exposição. Dilma de verdade? Só depois de 3 ou 31 de outubro. Quem vai pagar pra ver?

Mas o que dona Dilma e sua turma tanto temem, para tentar escapar assim, de fininho, das discussões? Histórias obscuras como dossiês, quebra ilegal de sigilo fiscal e outros de seus métodos invasivos já caíram na boca do povo. Uso de dinheiro público e da estrutura do Estado de forma fraudulenta para promover a candidatura de Dilma Vana Rousseff já nem o mais renhido militante petista nega.

A resposta para tanto receio pode estar, veja só, caro leitor, dentro do próprio governo, mais precisamente no Ministério do Planejamento. Na semana passada, a pasta pôs na internet sua página de debates, com textos para discussão produzidos por técnicos do órgão. Qual o quê! Foi o suficiente para deixar-nos, à oposição, para trás, a comer poeira.

Os burocratas do Planejamento escreveram, sem medo, que a infraestrutura, área supostamente "bem gerida" por dona Dilma quando ministra, não anda lá muito bem das pernas - coisa que a gente já cansou de dizer aqui. Mais: o sistema tributário brasileiro é ruim; a burocracia é um bicho-papão enorme e o governo Lula não tem se preocupado em resolver a contento o gargalo logístico. Tu-di-nho de acordo com o ministério chefiado pelo petista Paulo Bernardo, conforme relatou o Valor Econômico em sua edição de sexta-feira.

Para o Planejamento, o país tem muitos problemas, entre outras razões, porque os ministérios de Minas e Energia, Transportes e Meio Ambiente simplesmente não se entendem. Além disso, a política de reforma agrária é um fracasso, projetos como o do biodiesel não têm futuro e a educação não avançou na atual gestão (50% dos jovens em idade apropriada não estão no segundo grau). Cadê a toda poderosa e eficiente gerentona, a mãe do PAC?

No entanto, assim como dona Dilma, o governo do PT tem horror à crítica: na sexta-feira mesmo, logo depois que a reportagem do jornal foi publicada, mandou tirar do ar o portal do Planejamento. Varreu tudo para debaixo do tapete, para longe dos olhos do cidadão. Está chegando a hora em que não vai dar mais para essa gente esconder o que se passa no reino da Dinamarca. Alguma coisa parece estar podre e vai desmoronar bem antes de 3 de outubro.

Fonte: ITV

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