Por Hiram Reis e Silva, Porto Alegre, RS
“É muito melhor arriscar coisas grandiosas, alcançar triunfos e glórias,
mesmo expondo-se à derrota, do que formar fila com os pobres de espírito,
que nem gozam muito, nem sofrem muito,
porque vivem nessa penumbra cinzenta que não conhece vitória nem derrota”.
(Theodore Roosevelt)
O Diário de Bordo do Coronel Hiram Reis e Silva, construído em parceria com o Clube de História do Colégio Militar de Porto Alegre, relata projetos de navegação a caiaque realizados pela região amazônica.
A Missão
Para que possamos entender o contexto histórico e sermos capazes de reconhecer a importância fundamental da atuação do General Rodrigo Octávio na integração da Amazônia Brasileira vamos reproduzir o pronunciamento que o eminente Presidente Emílio Garrastazu Médici proferiu no Teatro Amazonas, em Manaus, na ‘Reunião Extraordinária da Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM)’, em 8 de outubro de 1970.
“Brasileiros da Amazônia, homens de todo o Brasil.
Venho à Amazônia sob o signo da fé. Venho para estar com o povo na romaria do Círio e confluir com ele na mesma corrente das ruas de Belém. Venho para trazer à gente desta terra a crença de meu governo e o entusiasmo do Brasil inteiro nos destinos da Amazônia. E, por isso mesmo, quero ser, aqui, mais do que nunca, realista e verdadeiro, para não ser, um instante sequer, messiânico, fantasista ou prometedor, na terra em que tudo sempre se permitiu à imaginação. (...)
Seria insensato realizar, aqui e nesta hora, um grande projeto de desenvolvimento puramente regional, que desviasse poupanças e créditos capazes de gerar riquezas maiores e mais rápidas noutras regiões. Muito mais insensato seria, no entanto, ignorar a Amazônia, usando rígidos critérios de prioridade econômica e deixá-la ficar no passado e ainda envolta no mistério, sempre vulnerável à infiltração, à cobiça e à corrosão de um processo desnacionalizante, que se alimenta e se fermenta em nossa incúria.
O coração da Amazônia é o cenário para que se diga ao povo que a Revolução e este governo são essencialmente nacionalistas, entendido o nacionalismo como a afirmação do interesse nacional sobre quaisquer interesses e a prevalência das soluções brasileiras para os problemas do Brasil. Manaus é lugar para que o meu governo apresente as linhas gerais da primeira fase de sua política para a Amazônia e diga a sua decisão de assegurar, com energia e vontade, a soberania brasileira nesta outra metade do Brasil e de fazer andar o relógio amazônico, que muito se atrasou ou ficou parado no passado. (...)
Em síntese: ou cresceremos juntos todos os brasileiros, ou nos retardaremos indefinidamente para crescer. E, como a segunda alternativa não é admissível, o Programa de Integração Nacional terá de ser, como decidimos que será, um instrumento a serviço do progresso de todo o Brasil. (...)
Nosso esforço inicial será concentrado na Transamazônica, começando em Picos, no Piauí, onde se interliga com a Rede Rodoviária Nordestina, vai atingir Itaituba, depois de passar por Porto Franco, Marabá e Altamira, obra essa entregue ao dinamismo do Ministro dos Transportes, Mário Andreazza, para servir àquelas regiões cuja ocupação deverá processar-se de pronto e com absoluta prioridade.
Prolongando a estrada até as fronteiras com o Peru e a Bolívia, cortando as Rodovias Cuiabá-Santarem e Porto Velho-Manaus, e complementando todo o sistema fluvial amazônico, ao interceptar os terminais navegáveis dos principais afluentes, estaremos facilitando a exploração de reservas de ferro, manganês, estanho, chumbo, ouro, cobre e fecundando terras virgens e solos férteis, que vão deixar de ser bens geográficos para se transformarem em verdadeiros bens econômicos. Estaremos, assim, facilitando o esforço de ocupação e desenvolvimento da Amazônia - imperativo do progresso e compromisso do Brasil com a sua própria História. (...)
Papel de extraordinário relevo está reservado ao Ministério da Saúde nesta hora de conquista e povoamento nas terras altas da Amazônia. Aos participantes da epopéia da construção e colonização desta Transamazônica e de outras vias de desbravamento, que Deus haverá de me conceder a coragem de iniciar ao Sul e ao Norte do Rio-mar, confio em que não haverá de faltar todo um sistema de proteção da vida humana.
A soberania brasileira na Amazônia, meta essencial de todo o esforço que aqui começamos a realizar, compreende também a presença e a participação das Forças Armadas, no propósito de assegurar ainda maior capacitação e eficiência a bases e aeroportos, aos órgãos logísticos e operacionais, ao sistema de proteção ao vôo, às flotilhas, às Unidades e colônias de fronteira, assim como aos beneméritos Batalhões de Engenharia. (...)
E se aqui estou testemunhando aos amazônidas o entusiasmo e a solidariedade da Nação inteira, quisera que os Círios, da sempre renovada romaria em louvor da milagrosa imagem de Nossa Senhora de Nazaré, não se acendessem, neste ano, tão-somente na promessa de cada um, mas que se acendam todos os círios em ato de fé pelo Brasil de todos nós”. (Presidente Emílio Garrastazu Médici)
‘The Right Man in The Right Place’
O General Rodrigo Octávio era o ‘Homem Certo, no lugar Certo’, os desafios propostos pelo ‘Programa de Integração Nacional’ eram ciclópicos, e só um grande Chefe Militar dotado de inigualável visão estratégica e dedicação profissional seria capaz de cumprir as metas propostas pelo Presidente Médici.
General Rodrigo Octávio Jordão Ramos
O General de Exército Rodrigo Octávio Jordão Ramos nasceu em 8 de julho de 1.910, na cidade do Rio de Janeiro, RJ, e faleceu em 6 de julho de 1.980, na cidade de São Paulo, SP. Rodrigo Octávio assentou praça na Escola Militar do Realengo em 1.927, tendo sido declarado Aspirante-a-Oficial da Arma de Engenharia, em 21 de janeiro de 1.930, em primeiro lugar na sua turma.
Teve carreira militar brilhante, sempre muito ligado à área da Engenharia Militar, comandou o 1° Batalhão Ferroviário (1° B Fv), a Escola Superior de Guerra (ESG), foi Ministro interino do Supremo Tribunal Militar (como Coronel), comandou o 1° Grupamento de Engenharia de Construção (1° GPT E Cnst), a 7ª Região Militar/7ª Divisão de Exército (7ª RM/7ª DE) e o Comando Militar da Amazônia/12ª Região Militar (CMA/12ª RM), foi diretor da Diretoria de Vias de Transporte (DVT), da Diretoria Geral de Engenharia e Comunicações (DGEC), e chefe do Departamento de Produção e Obras (DPO), foi, ainda, Ministro de Viação e Obras Públicas, Ministro do Supremo Tribunal Militar.
O General Rodrigo Octávio participou ativamente da Revolução de 1930, e atingiu o generalato, em Julho de 1964, mercê de suas inegáveis qualificações morais e profissionais. Classificou-se em primeiro lugar em cada um os cursos que frequentou e se destacou de forma ímpar em todas as funções que exerceu nos seus mais de cinquenta anos de dedicação integral ao Exército e à Pátria.
Mas foi na Região Amazônica que o General “R.O.”, como era, respeitosa e carinhosamente, conhecido no círculo de seus pares e subordinados, deixou, gravada sua passagem para a posteridade. Assumiu o Comando Militar da Amazônia/12ª Região Militar, em 26 de julho de 1968, quando este comando ainda estava sediado em Belém, Pará e vislumbrando a necessidade estratégica premente de uma maior integração, desenvolvimento e defesa da Amazônia Brasileira transferiu a sede do CMA/12ª RM para Manaus, Amazonas.
O Gen Bda Tibério Kimmel de Macedo no seu livro “Eles não viveram em vão”, às páginas 47/48, faz a seguinte referência ao General Rodrigo Octávio, quando este era Comandante do CMA/12ª RM, e decidiu transferir o Comando Militar da Amazônia para Manaus:
“Sabia e sentia que um Comando de tal importância e envergadura, naquelas Latitudes onde as distâncias se mediam pelo grau meridiano, devia estar mais para o interior, mais próximo dos seus elementos subordinados”.
E o Gen Bda Tibério prossegue:
“Quando da criação do 2° Grupamento de Engenharia (2° Gpt E), este incansável ‘Paladino da Integração da Amazônia’, não estava mais no Comando da Amazônia, que comandou de 26 de julho de 1968 até 31 de março de 1970, nas suas sedes de Belém e Manaus.
Estaria já na Chefia do Departamento de Produção e Obras (DPO), em julho de 1970, Departamento que representava o órgão máximo da Engenharia militar. No fecho do boletim Especial n° 12 do DPO, do ano de 1970, o Gen Rodrigo Octávio fez publicar as seguintes palavras, suas:
‘O Exército e a Engenharia em particular, estão prontos a cumprir a sua parte nesta grande obra, malgrado os obstáculos a vencer, os sacrifícios enfrentar, os embates a superar honrando a bravura e o estoicismo de nossos antepassados, representados pelos missionários, soldados e sertanistas, que conquistaram e mantiveram para o Brasil esta grande Amazônia que não é nem um Inferno Verde, nem um Paraíso Perdido, mas que é a Amazônia Brasileira, onde uma geração ansiosa e confiante espera o esplendente alvorecer de um amanhã fecundo, diferente e promissor’.
E acrescentava:
‘Só assim, a Amazona se preservará e o Brasil se engrandecerá. Árdua é a missão de desenvolver e defender a Amazônia. Muito mais difícil, porém, foi a de nossos antepassados em conquistá-la e mantê-la’.
Na Cruzada Santa, antes aludida, o Velho Chefe haveria de criar não só o 5° Batalão de Engenharia de Construção (5° B E Cnst), mas, também, os 6°, 7°, 8° e 9°B E Cnst e, por último o 2° Gpt E Cnst.
Havia combatido o bom combate e, por isso, considerava a Engenharia pronta para a grande obra que ele havia imaginado: Integrar a Amazônia ao ecúmeno nacional. O grande Chefe R.O. foi um homem que, visionário, alcançava adiante de seu tempo. Embora homem de seu tempo, desassombrado e realista, via o futuro, sopesava-o e adotava medidas para tornar a Engenharia Militar e o Exército, mais aparelhados, melhor postados e posicionados para enfrentar os embates que, ele sabia, haveriam de vir, no futuro. A propósito da Amazônia e as cobiças do Mundo, costumava citar George Washington: ‘Não pode haver erro maior, para uma nação, do que esperar ou contar com favores desinteressados de outra’. Sobre o Gen R.O., o General de Exército Aurélio de Lyra Tavares, Ministro da Guerra, afirmou:
‘O Exército do meu tempo e o Brasil de todos os tempos, muito ficaram devendo ao General Rodrigo Octávio Jordão Ramos no vigoroso e seguro equacionamento da problemática da dinamização da Amazônia e pelo grande impulso da programação projetada, graças ao qual a região ganhou aspecto de uma civilização em marcha, encontrando-se em franca evolução para uma nova realização, agora já irreversível’.
Ao despedir-se do cargo de Ministro do Superior Tribunal Militar, ele assim se definiria:
‘Na história de minha existência, o tempo passado a serviço do Brasil, se inscreve em um capítulo de mais de meio século. Na disciplina intransigente, no respeito hierárquico, na firmeza de convicções democráticas, na lealdade inconteste aos camaradas, no companheirismo permanente, no estímulo à juventude, na obsessão da justiça, ele foi vivido com ética, coerência, obstinação e, sobretudo, fé missionária no desejo de, como integrante de um grupo de soldados que guiados pelo mesmo ardor patriótico e comungando das mesmas aspirações e idéias, têm procurado construir um novo Brasil, pleno de humanização, democracia, eternidade e grandeza’.”
Graças ao General Rodrigo, e às políticas governamentais, a Amazônia Brasileira, na década de “
Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva
Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA); Acadêmico da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB); Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS); Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional.
Site: http://www.amazoniaenossaselva.com.br
E-mail: hiramrs@terra.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário