O que me desagrada é a identificação de futebol com nação. A seleção é a pátria de chuteiras, dizia Nelson Rodrigues. Pátria de chuteiras para países subdesenvolvidos. Em país decente, é apenas mais um esporte entre outros. Nestes dias, quando saio na rua e vejo gente uniformizada de verde e amarelo, sinto vergonha de ser brasileiro. Mas que se vai fazer? Meu passaporte é brasileiro e só me resta sentir vergonha.
Não há para onde fugir. Nem mesmo ficando em casa. Sou avesso às grandes datas em que todo mundo confraterniza, como Natal e Ano Novo. Mas nestas datas, pelo menos meu silêncio não é perturbado. Nas Copas, é. Não há como escapar das cornetas e foguetes. Por isso, sempre torço nas Copas. Para que o Brasil seja eliminado no primeiro jogo. Assim se tem um pouco de silêncio no mês. Mas torço em vão. Para mim, pior que Natal e Ano Novo, só mesmo a Copa.
Dito isto, sempre fui tido como homem de direita. Pelas mais variadas razões. Primeiro, porque não sou nem nunca fui comunista. Para os comunistas, quem não é comunista é de extrema direita. Segundo, porque além de não ser petista abomino o PT. Para um petista, quem não é petista só pode ser de direita. Terceiro, porque não tenho papas na língua na hora de condenar ditaduras comunistas. Quarto, porque não considero Fidel nem Che libertadores do continente, mas operosos assassinos. Quinto, porque não hesito em afirmar que Francisco Franco salvou das garras de Stalin não só a Espanha como também a Europa. E por aí vai.
Hoje, surpreendentemente, descubro que sou de direita... porque não gosto de Copas. Leio no Estadão que vários comentaristas norte-americanos estão atacando a popularização do esporte no país, dizendo que se trata de uma modalidade esportiva "de pobre", coisa de sul-americano, resultado da crescente influência dos hispânicos no país e ligado às "políticas socialistas" do presidente Barack Obama.
Fanatismo em futebol é coisa de país pobre, sim senhor. Os países ricos também vibram com futebol, mas neles não vemos essa palhaçada de patrioteiros enrolados em bandeiras ou vestindo as cores do país. Em país rico não há essa canalhice demagógica de liberar funcionários do trabalho em horários de jogos. Muito menos esse zumbido atroador de cornetas e foguetes, típico de retardados mentais. Por que raios se tem de celebrar um gol perturbando a paz dos demais cidadãos?
Sei que não estou só. Não poucos leitores participam desta direita raivosa.
Um comentário:
Ai que descubro que tb sou direitista raivosa! minh'alma em jubilo reforça a torcida para a derrota no 1º embate ! Obrigada
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