sábado, 26 de junho de 2010

A HONRA DO LÍDER: SAIU DE MODA?

Por Elizabeth Zamerul (*)

Para nós que vivemos a realidade competitiva e árida das organizações, esta é uma pergunta que merece reflexão. Quando comecei a escrever este artigo, perguntei a algumas pessoas quando elas tinham ouvido alguém, do seu cotidiano, falar ou discutir o assunto “honra” pela última vez. Nenhuma delas se lembrou. Talvez nunca tenham passado por isto...

O que é honra? De acordo com Suzana Oliveira Carmo, “Honra” traduz e qualifica diversos aspectos do caráter humano; comporta um leque de virtudes pessoais que revelam a integridade da personalidade do indivíduo. Corresponde também ao respeito que circunda as relações humanas, bem como àquele que temos por nós mesmos, como expressão de um princípio de preservação pessoal. Vitor Sznejder afirma ainda que a função da honra é recusar a baixeza. Ela marca o limite inferior que não deve ser ultrapassado, mesmo que para vencer – pois há vitórias aviltantes. Portanto, "faltar com a honra" é ser derrotado, significa sair de si e passar a ser um outro, ou seja, uma falsidade ideológica.

Como disse Lily Tomlin, o problema de participar de uma corrida de ratos é que, mesmo vencendo a corrida, você continuará sendo um rato.

O conceito de honra é tão longínquo das ocupações diárias de algumas pessoas, que até pode parecer um mero modismo, algo ultrapassado. Em certas datas especiais, ouço as pessoas fazerem orações pela paz mundial e penso: quando elas perceberão que a paz mundial não é um presente que “Deus dá” e sim que começa com o cuidado de cada um com o próprio caráter, atuando com honradez e tratando os outros e a si próprio com respeito aos seus princípios?

Notem que eu mencionei “a si próprio”. Muitos dão grande importância à opinião alheia, como se isto fosse determinante do sucesso na vida. No final das contas, a opinião que prevalece é sempre a da consciência de cada um. Quando é incoerente, mesmo em questões pequenas do cotidiano, a pessoa ofende a própria honra e esta humilhação cria nela a sensação de inferioridade. Ela mesma passa para o seu interior a mensagem de que não é confiável e digna. Neste ponto, sua porta para a felicidade se fecha. A pessoa não nota, mas seu inconsciente comanda as suas decisões e comportamentos e não permite que ela usufrua a vida e tenha paz. E não é uma questão de maldade da natureza humana, é para que ela acorde da desonra, corrija seus passos e evolua. Como alguém pode estimar-se ou confiar em si mesmo, sendo traidor e desleal com seus princípios? Este é um dos maiores motivos de se encontrar pessoas com baixa autoestima e autoconfiança. Alguns até obtêm sucesso material ou fama, mas não se sentem realizados. Quantos não conhecem pessoas tão bem-sucedidas que se destruíram aos poucos, pelas drogas, por atos ilegais ou até pelo suicídio? Não é à toa. O inconsciente delas vetou a continuidade desta satisfação e ninguém tem o poder de interferir nesta relação delicada da pessoa consigo mesma.

Vale recordar o filme O último samurai, onde o tema principal é justamente a desonra versus honra. O protagonista Tom Cruise, no início do filme, conta e reconta a sua história de herói de guerra para obter vantagens e aplausos. Ocorre que ele não sente orgulho do que fez naquelas batalhas e nota-se que ele se degrada, age e bebe de modo autodestrutivo. Mais adiante, ele conhece o samurai e seu modo de vida, uma referência para o conceito de honra. Ele tem a chance de rever seus valores e passa a ter atitudes e comportamentos dos quais se orgulha. Com isto, seus olhos voltam a brilhar e ele descobre uma razão de viver.

E por falar em missão, trabalho como coach, auxiliando líderes e executivos a descobrir suas missões profissionais e a realizar seus sonhos e isto é muito prazeroso, mas, na prática, não tenho poder para mudar o outro! Se a pessoa não se conceder a permissão para o sucesso revendo seus passos e suas incoerências, eu ou mais ninguém poderá fazê-lo feliz.

Contudo, além do próprio inconsciente, as outras pessoas também são afetadas pela falta de honra de alguns que são tão hábeis na arte de enganar que conseguem algumas vitórias, mas por pouco tempo. Talvez estes não devessem subestimar a inteligência dos outros. Tudo numa pessoa expressa o que é, ou seja, a postura física, um aperto de mão, um olhar, uma palavra, um gesto... Eduardo Giannetti, em seu livro Auto-engano, diz que é logicamente impossível enganar o próximo como a si mesmo.

É um equívoco pensar que a regra hoje é a do “vale-tudo”. As pessoas estão cada vez mais ávidas por encontrarem pessoas honradas, confiáveis e firmes para se associar. Nos processos de seleção das empresas, nota-se a prioridade de valores que dignificam as relações interpessoais.

Para funcionar assim, posso me perguntar, a cada momento: quanto vale, afinal, a minha palavra?

Estou decidindo de acordo com os meus princípios? Sinto orgulho por esta decisão e por este comportamento? Fico tranqüilo com os possíveis impactos que causarei nos colaboradores?

A vida não é de mentirinha; é pra valer! Para vivermos com qualidade neste ambiente exigente, precisamos nos unir, mas com muito respeito e agregando qualidade às relações profissionais com nossas verdadeiras forças, o que inclui dignidade e honra. Isto sim é um bom alicerce para a liderança, parcerias, realizações e muitas vitórias.

(*) Elizabeth Zamerul é médica psiquiatra, formada pela USP, em 1985. Sócia-presidente da empresa Realize – Desenvolvendo Inteligências; Consultora em Recursos Humanos. Especialista em coaching de executivos, líderes e equipes com Certificação Internacional pelo ICI. Especialista em Protagonismo, autora do livro Corações Poderosos – Uma visão positiva das emoções no trabalho - site: http://www.elizabethzamerul.com.br/

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