domingo, 27 de junho de 2010

ANDRÉ, CELSO, SEVERINO, SEMENTES DO TEMPO

Por José Eugênio Maciel

Se tendes o dom de ler as sementes do tempo, e dizer
quais hão de germinar, e quais não, falai!
Shakespeare – Macbeth, Ato I

Por onde começar para escrever sobre o fim? O fim da vida, o principiar na direção de um rumo tão certo quanto desconhecido do plano terreno, ao encontro do infinito.
André Veiga da Silva, Celso Romualdo Ferrari e Severino Gomes de Oliveira partiram levando com eles uma bagagem que lhes era comum, a de bons escolhedores de sementes, semeadores e a de bons cultivadores. O que deixam agora é a saudade também notada pelo florescer dos frutos das ações empreendedoras que protagonizaram.

André Veiga da Silva era orador de verve vibrante, envolvente, lúcida e apaixonada pelo que dizia. Andrezinho não carecia de pedir silêncio ao falar, o respeito era natural amealhado nos tempos do movimento estudantil, especialmente quando presidira a UMES – União Mourãoense dos Estudantes em 1970. Líder da juventude, defendia, com conhecimento singular, uma educação para todos e democrática. Eram os tempos da opressão, a ditadura militar sempre queria calar os estudantes, porém, o jovem de estatura pequena se agigantava ao empunhar a bandeira da liberdade. À época do bipartidarismo imposto pelos generais, só dois Partidos Políticos tinham a permissão de existir, a ARENA – Aliança Renovadora Nacional, que reunia os defensores do golpe de 64; e o MDB – Movimento Democrático Brasileiro, que congregava a oposição. Andrezinho militou no MDB com a mesma fibra dos tempos de movimento estudantil, profetizava o raiar de um novo tempo, não sem luta, advertia.
A família dele era muito pobre, Andrezinho passou privações que, apesar das agruras, não sucumbiram a vontade de ser digno e sabia que o único caminho a ser trilhado por um menino pobre era os estudos. Trilhando a ética, formou-se em Direito e, como advogado a oratória brilhante refletia agora o amadurecimento do tempo e o conhecimento amealhado pelos estudos que realizava com ímpar dedicação e notório saber. Chefe de seção da Superintendência na área do trabalho sediado em Porto Velho, Rondônia, onde residia, morreu deixando um legado a merecer respeito e a devida consideração.
Celso Romualdo Ferrari, filho de família pioneira e tradicional de Campo Mourão se caracterizava pelo

espírito associativista, tomava ou fazia parte de iniciativas engendradas pela comunidade objetivando o desenvolvimento da cidade. Agropecuarista, provinha no trato da terra o seu labor de sustento da família. Vereador em duas legislaturas, 1989/92 e 1993/96, está incluído entre os poucos que, no Parlamento municipal, exerceu com ínclito denodo o papel de fiscalizar e legislar.
Deixava seus afazeres para se dedicar as causas comunitárias, tendo ou não um mandato, e o fazia com arrojo, era respeitado pelo modo inflamado como defendia as posturas adotadas em favor das causas, as quais não titubeou em defender o que era público, mesmo contrariando interesses de poderosos. Trazia no seu semblante a preocupação permanente e a impaciência contra tudo que julgasse inapropriado e contrário ao bem comum. Uma impaciência fruto de uma têmpera firme, consciente e verdadeiramente própria de um político talhado pela própria vocação. Aberto ao diálogo, Celso não se deixava levar pelo que não estivesse convencido e frequentemente preferiu enfrentar o desgaste discordante do lugar-comum à comodamente cuvar-se a interesses menores.
Cabelos brancos sempre alinhados, trajes impecáveis, cavalheiro extremamente gentil, afável, fazedor de amigos, um homem culto e inteligente, dedicado à família, a boa música, a conversa apraz, fosse ela prosaica ou formal, própria do seu mister, como o de ser juiz de paz. Severino Gomes de Oliveira, pioneiro ilustre na nossa cidade deixa, aos 95 anos, à esposa, filhos, netos, um legado que é também grande orgulho de Campo Mourão, o esmero em tudo que fazia, fosse nas lides profissionais ou nas práticas solidárias em favor da cidade, do próximo. Caminhando pelas vias mourãoenses, que as conheceu como chão batido, quando não era poeira era o barro vermelhos, testemunhou carreadores virarem avenidas movimentadas, casas toscas darem lugar a modernas residências ou estabelecimentos comerciais, o caminhar dele era feito com frequentes interrupções, Severino cumprimentava, um aceno ou aperto de mão, a atenção sempre fraternal aos numerosos amigos. A cidade que tão bem ele conhecia, se reconhecia na figura dele, notáveis entre si. É oportuno citar algo que nele era o retrato nítido dos homens de bem, a retidão do caráter, a honestidade como formação posta em prática sempre, serenamente, como sempre foi.

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