terça-feira, 18 de maio de 2010

EUA dizem duvidar que Irã cumprirá termos de acordo nuclear

da Associated Press, em Washington (EUA)

da Reportagem Local (17/05/201)

A Casa Branca afirmou nesta segunda-feira, em comunicado, que o acordo assinado por Irã, Brasil e Turquia, seria uma passo positivo, mas os Estados Unidos e o mundo ainda têm sérias dúvidas do comprometimento iraniano com o novo acordo.

O porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs, disse ainda que o Irã deve cumprir suas obrigações internacionais ou encarar as consequências, incluindo uma quarta rodada de sanções no Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas).

"Nós reconhecemos os esforços feitos por Brasil e Turquia. A proposta anunciada em Teerã precisa agora ser encaminhada claramente e autoritariamente à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), antes de ser considerada pela comunidade internacional", disse Gibbs.

Os presidentes Mahmoud Ahmadinejad e Luiz Inácio Lula da Silva, e o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, decidiram enviar a proposta no prazo de uma semana para a a avaliação da AIEA.

O acordo assinado pelo Irã sob mediação do Brasil e da Turquia determina que o Irã envie 1.200 quilos de seu urânio enriquecido a 3,5%, em troca de 120 quilos de urânio enriquecido a 20% na Rússia ou França --muito abaixo dos 90% necessários para uma bomba. O urânio enriquecido seria devolvido ao Irã no prazo de um ano.

A troca acontecerá na Turquia, país com proximidades com Ocidente e Irã, e sob supervisão da AIEA e vigilância iraniana e turca.

"Embora seja um passo positivo para o Irã transferir o urânio pouco enriquecido de seu território, como acordado em acordo passado [em proposta das potências ocidentais que Teerã rejeitou], Irã disse hoje que continuará a enriquecer o urânio a 20%, o que é uma violação direta às resoluções do Conselho de Segurança da ONU", lembrou o porta-voz.

O acordo de dez pontos assinado pelos três países permite ao Irã manter o enriquecimento de urânio a 20%, processo iniciado em fevereiro passado, depois do fracasso da negociação com as potências em Viena.

Os EUA criticam ainda a declaração conjunta por ser vaga demais sobre o desejo de Teerã de retomar as conversas com o grupo dos 5+1 (EUA, Rússia, França, Reino Unido, China e Alemanha).

A declaração afirma apenas que "a Turquia e o Brasil recebem favoravelmente a disposição do Irã em manter as negociações com os países do grupo 5+1 em qualquer lugar, incluindo Turquia e Brasil, a propósito das preocupações comuns". Não fornece datas ou prazos para estas conversas.

Gibbs afirma ainda que os EUA vão continuar trabalhando com a comunidade internacional e com o Conselho de Segurança para garantir "ao governo iraniano que precisa demonstrar em firmes ações, e não simplesmente palavras, que quer cumprir as obrigações internacionais [...] e mostrar que seu programa nuclear tem apenas fins pacíficos".

Europa

A reação americana seguiu a linha cética dos outros membros permanentes do Conselho, Rússia, França e Reino Unido, que anunciaram que as suspeitas em relação aos objetivos do programa nuclear do país permanecem, e que a pressão para sanções contra o país devem ser mantidas. O quinto país membro, a China, não se pronunciou, mas resistia mesmo antes do acordo a novas sanções.

O posicionamento ocidental contraria o argumento do chanceler brasileiro Celso Amorim, para quem o acordo firmado já deveria ser o bastante para encerrar as conversas sobre sanções.

"Em nossa opinião, deve ser suficiente. Por que deve ser suficiente? Porque nós ouvimos todos, nós conversamos muito com os franceses, conversamos, aliás, o presidente acaba de falar até com o presidente Sarkozy", disse Amorim.

Em comunicado, o presidente russo Dmitri Medvedev -- que recebeu Lula em Moscou antes da viagem do presidente brasileiro à Teerã -- disse que o acordo, apesar de bem-vindo, pode fracassar em satisfazer a comunidade internacional.

Medvedev indicou que o fato de o Irã permanecer enriquecendo urânio pode causar preocupação no Ocidente.

Mais cedo, o chanceler francês, Bernard Kouchner, afirmou que os países fazem "progressos bastante importantes" na campanha por uma quarta rodada de sanções contra o Irã no Conselho.

"Progressos na resolução nas Nações Unidas bastante importantes foram alcançados nos últimos dois dias", disse Kouchner, sem revelar detalhes.

Apesar de elogiar a mediação turco-brasileira com o Irã, Kourchner indicou que somente a AIEA pode se posicionar sobre os termos do acordo. "Não somos nós que devemos responder. É a AIEA", declarou Kouchner à agência de notícias France Presse.

Já a chancelaria britânica reagiu ao acordo dizendo que os termos assinados não eliminam as "sérias preocupações' com o programa nuclear iraniano.

'O Irã tem a obrigação de garantir à comunidade internacional suas intenções pacíficas", disse o alto funcionário da chancelaria britânica, Alistair Burt, acrescentando que, até que o faça, a República Islâmica estará sujeita às punições.

"É por isso que nós estamos trabalhando com nossos parceiros por uma resolução de sanções no Conselho de Segurança da ONU. Até que o Irã tome atitudes concretas para provar que seu programa é pacífico, este trabalho continua", disse.

fonte: Folha Online.

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