domingo, 23 de maio de 2010

O BURRO, O OTÁRIO E O LADRÃO

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Imagine uma pequena cidade do interior da Bahia. Lá todos se conhecem e vivem suas vidas pacatamente. Passam seus dias entre o trabalho e seus afazeres comuns a todos os cidadãos.

Porém, essa cidadezinha pacata tem um lixeiro honesto. Isso por si só não teria qualquer importância, afinal, honestidade é uma qualidade comum a todas as pessoas. Não é mesmo? Contudo, aqui em nosso país, honestidade virou virtude e fato inusitado. Tantas são as mamatas e negociatas assumidas e defendidas nos noticiários das TVs por toda a nação, que o brasileiro passou a acreditar que, honestidade, é sinal de burrice.

Esse lixeiro, de nome Evandro, ganha apenas R$ 350,00 por mês. Na cidade, e em muitas outras, esse é o salário base da população. Já que a maioria dos habitantes depende única e exclusivamente dos empregos da prefeitura e das pensões e aposentadorias do INSS.

Um belo dia, Evandro, foi buscar seu salário na prefeitura. Estava calor e ele havia bebido muita água. Apertado, resolveu ir ao banheiro se aliviar. Ao chegar na privada, uma mala estava abandonada lá. Curioso, Evandro resolveu abrir a mala. Uma imagem incrível e assustadora brilhou diante de seus olhos: Na mala, milhares de reais repousavam tranqüilamente. Quase doze anos de salário (R$ 50.000,00), despertaram em seus pensamentos sonhos de uma vida melhor; para ele e sua família.

Mas havia um problema: o dinheiro não era dele.

Sua mãe sempre o educara com dificuldades e privações. Mas dizia que a melhor coisa da vida era uma consciência tranqüila. Deitar a cabeça no travesseiro à noite e dormir, era uma benção para poucos. Reservada apenas para as pessoas honestas e cumpridoras de seus deveres. Pensou, pensou e chegou à conclusão de que deveria agir como homem de bem. Procuraria o dono do dinheiro e o devolveria. Afinal, estava na prefeitura, e aquele dinheiro todo, poderia ser para alguma obra importante. Talvez, uma escola, quem sabe. Todo esse dilema e reflexões, não levaram mais que um segundo para atravessar sua mente. Afinal, desde que abrira a mala, já sabia o que iria fazer: Devolveria tudo.

Sem ter condições de descobrir o dono e nem meios para procurá-lo, nosso herói, buscou a pessoa mais confiável que trabalhava naquele momento na prefeitura: O Chefe de gabinete do prefeito.

Foi até o gabinete, contou sua história a um “surpreso” assessor e, feliz com sua honestidade, entregou a mala com o dinheiro sem nem tocar em uma única nota sequer. O funcionário solícito garantiu que o prefeito seria avisado e que o proprietário seria achado. Certamente, feliz em recuperar seu dinheiro, haveria de gratificar Evandro.

Saiu da prefeitura com a alma lavada. Afinal, honrara sua mãe a a criação devotada; cheia de sabedoria que ela lhe dera. Mantivera sua honra e sua honestidade. Estava feliz. Chegou em casa e contou para sua mãe o que acontecera.

Sua mãe, feliz e realizada, contou para sua amiga, que contou para a família e a vizinha como o filho de sua melhor amiga fora honesto e correto: “Se fosse eu, não devolvia”. Assumiu sem pudores.

E assim, de boca em boca, a notícia se espalhou pela cidade e chegou até a imprensa local. Curiosos, os repórteres da cidadezinha e das cidades vizinhas, entrevistaram Evandro. Ele confirmou toda a saga. Agora faltava apenas falar com o outro personagem dessa epopéia brasileira: O assessor e chefe de gabinete do prefeito.

Foram à prefeitura e, recebidos com sorrisos e rapapés, fizeram as perguntas de praxe sobre a incrível história. Queriam saber se o dono da “bolada” apareceu. Uma expressão de surpresa e espanto surgiu na face do solícito assessor: “Dinheiro? Mala? Gari Evandro? Não sei do que vocês estão falando”.

Fuzuê geral. O prefeito diz que foi “intriga da oposição” e “armação política”; o assessor diz que “não recebeu nada”; o fato é que o dinheiro desapareceu sem deixar vestígios. Tragado por um vórtice temporal ou um buraco negro que nem Einstein conseguiria explicar.

Evandro, o gari? Bem, esse foi chamado de mentiroso pelos políticos da cidade, taxado de safado e sua família e ele vivem agora com medo das ameaças de morte e de homens que passaram a rondar sua humilde casa gritando para que desminta sua história.

Moral da história?

Num país onde ladrão é chamado de “Vossa Excelência”, honesto ou é burro ou é otário.
Via blog Visão Panorâmica

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