“As pessoas não querem o pós-Lula, querem que o Lula continue” (Rubens Figueiredo, cientista político, na Globonews)
Somos campeões mundiais em número de horas destinadas a navegar na internet. O Twitter, entre nós, é um fenômeno, como foi o Orkut. Estudiosos estrangeiros se espantam com o elevado número de comentários postados em sites e blogs daqui. A sociabilidade do brasileiro é real e virtual. A rede, assim, poderá servir para que votemos melhor.
Certo? Não necessariamente.
Até desconfio que não.
Grande parte das pessoas que escrevem ou comentam o que é postado na rede manifesta seu inconformismo com o comportamento dos tradicionais meios de comunicação — jornais, emissoras de rádio e de televisão.
Principalmente em ano eleitoral.
É bom lembrar que há eleições a cada dois anos. O inconformismo, assim, seria permanente. E cresce veloz.
Dá-se cada vez mais como verdade absoluta na web que nós, jornalistas, manipulamos os fatos para que sirvam aos interesses mesquinhos e inconfessáveis de nossos patrões — esses, por sua vez, aliados incondicionais de poderosos grupos econômicos que exploram o país e o povo. A crise que atinge os jornais por toda parte é apresentada como sinal irrecusável da falta de confiança popular no seu conteúdo.
Ora, a crise dos jornais tem várias causas. E a verdade, na maioria das vezes, costuma estar no meio. Mas não é disso que quero tratar. Como titular de um blog há seis anos e refém de um computador durante dez a 12 horas por dia de domingo a domingo, digo sem medo de errar que se reproduzem na web, sobretudo em espaços reservados ao jornalismo, os mesmos defeitos apontados nos veículos convencionais de comunicação.
Vou além: de fato, tais defeitos se agravam ali com frequência.
Porque o mais acessado meio de comunicação do planeta é um território sem leis e sem códigos de ética (o ministro Carlos Ayres Britto, do Supremo Tribunal Federal, considera a internet o último refúgio de liberdade do homem). E também porque o anonimato é permitido. Ah, quantos crimes cruéis não são cometidos a cada segundo na rede devido ao anonimato.
E ouse falar contra o anonimato.
Você será acusado de pugnar contra a livre manifestação de pensamento e correrá o risco de se tornar alvo de uma campanha difamatória.
Ouse sugerir algum tipo de regulamento que discipline o que pode ser postado. Ou pelo menos o que não deve. Com toda a certeza você será execrado como o mais vil dos inimigos do direito universal ao livre acesso à informação e à opinião.
Fira injustamente a imagem de alguém ou de alguma instituição no jornal, televisão ou rádio. O atingido apelará para a Justiça. E você será julgado. Na internet, não. Porque se você conseguir identificar quem o ofendeu e decidir processálo haverá quem se encarregue de clonar a ofensa e de disseminá-la rede adentro.
Para cada anônimo identificado e processado surgirão milhares dispostos a encampar a ofensa.
A internet servirá nas eleições para que candidatos e partidos tentem, legitimamente, atrair apoios e votos por meio de mensagens e debates. Esse será, digamos, o lado sadio do uso da rede. Mas ela servirá também para a sistemática e organizada tentativa de se destruir reputações e espalhar rumores e mentiras.
Não duvide: acabará prevalecendo o lado negativo do uso da rede.
Sob a proteção do anonimato ou da falsa identidade, e com a ajuda de militantes voluntários ou pagos, partidos e candidatos já começaram a travar o jogo sujo na internet. Ao cabo do processo eleitoral, seria curioso comparar o grau de veracidade do que foi postado na rede com o grau de veracidade do que foi veiculado por jornais, emissoras de televisão e de rádio.
Mais do que curioso: poderia ser educativo.
O que alguns chamam de Partido da Imprensa Golpista tem seu equivalente no Partido da Internet Golpista. A sigla é a mesma — PIG. O mal que podem causar é o mesmo.
Com algumas diferenças: um está em declínio, o outro, em expansão. Um tem CNPJ, o outro, nem CPF.
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